Friday, May 8, 2009

The Green House (A Casa Verde)



Can you see that door on the second floor of the house, the one with the air conditioner on top? It was through the other door, the one on the left, that we used to jump outside to walk on the roof over the veranda, the kitchen, the laundry-room, until we got to the huge water-box and went down the precarious metal ladder to finally jump in the patio. My father used to get furious when we did that. We always ended up breaking some tiles and when he asked who had done that, nobody would volunteer… Now, can you see the veranda on the right, close to the pinkish flowers? We had our meals in there, sitting at a big wooden table. Some evenings the mosquitoes were so insistent that we would eat walking around the table, trying to balance a plate and a glass of juice in our hands. Ah, but you weren’t there at that time and you almost can’t see the veranda in the picture. And it is so difficult to describe the past…

I wonder if we become officially “old” when our memories start to look more interesting for us than the present. When we cross that tenuous line and our reminiscences seem so bright and we enjoy so much talking about them, is that when we are old? But isn’t the past what makes us who we are, like a painter crafting the lines of our lives? Sometimes I try to forget my past. The resolution doesn’t last long… In the mornings, when I turn to my left side of the bed to pick up a pencil and write down what I dreamed that night, it is my past that always appear showing glimpses of my sisters, my parents, my old friends, my house in Corumbá, Brazil.

The green house changed colors many times. I seem to remember it being blue once. Many years ago it was grey. It was my grandfather, the owner of large farms and boats that went down the Paraguay River carrying merchandise, who built the house in 1937. He imported Portuguese tiles for the floor. He also built a stable in the back. I remember vaguely the stable but I do remember very well the chickens that were kept in the backyard and the cook grabbing one of them, twisting its neck, placing it immediately inside a bucket full of hot water and peeling off its feathers. These days we would have chicken for dinner…

When the house was grey, the pictures that we took in it would be in sepia, or black and white. There are pictures of my mother with her seven siblings sitting in the living room, all of them very serious for at that time to take a picture was a very important affair. There are pictures of my four sisters and me in the patio, dressed only in our underpants, playing with a hose. There are pictures of us with our parents, seating at the swing, posing for eternity. There are pictures of many generations, all of them welcomed one day by the house. Now, almost all of us left for other towns, other countries. Only the house stays there, holding our memories, our secrets.


A CASA VERDE


Você está vendo aquela porta no segundo andar da casa, aquela com o ar condicionado em cima? Era aquela outra porta, a do lado esquerdo, que a gente usava para pular para o telhado e depois ir andando sobre o quarto, a varanda, a cozinha, a lavanderia, até chegar à caixa d’água e descer pela escada de metal de onde finalmente saltávamos no pátio. Meu pai costumava ficar furioso quando nós fazíamos isso. Nós sempre acabávamos quebrando algumas telhas e quando ele perguntava quem tinha feito aquilo, ninguém dizia nada ... Agora, você pode ver a varanda, à direita, perto daquelas flores cor de rosa? Fazíamos nossas refeições lá, sentados em uma grande mesa de madeira. Algumas noites os mosquitos eram tão irritantes que tínhamos de comer andando ao redor da mesa, tentando equilibrar um prato e um copo de suco nas nossas mãos. Ah, mas você não estava lá naquele tempo, e você quase nem pode ver a varanda na foto. E é tão difícil descrever o passado ...

Gostaria de saber se a gente se torna oficialmente "velha" quando nossas lembranças começam a parecer mais interessantes para nós do que o presente. Quando atravessamos essa linha tênue e as nossas reminiscências parecem tão vívidas e gostamos tanto de falar delas, é nesse ponto que ficamos velhas? Mas não é o passado que faz de nós aquilo que somos, como um pintor desenhando as linhas de nossas vidas? Às vezes eu tento esquecer o meu passado. A resolução não dura muito ... De manhã, quando me viro para o meu lado esquerdo na cama para pegar um lápis e escrever o que sonhei naquela noite, é o meu passado que sempre aparece mostrando imagens das minhas irmãs, meus pais, meus velhos amigos, a minha casa em Corumbá, Brasil.

A casa verde mudou de cores várias vezes. Eu acho que me lembro de uma época em que ela era azul. Muitos anos atrás, era cinzenta. Foi meu avô, dono de fazendas e barcos que desciam o Rio Paraguai transportando mercadorias, que construiu a casa em 1937. Ele importou pisos portugueses para cobrir o chão. Ele também construiu um estábulo atrás da casa. Lembro-me vagamente do estábulo, mas me lembro muito bem das galinhas que ficavam no quintal e da cozinheira pegando uma delas, torcendo o pescoço, colocando-a imediatamente dentro de um balde cheio de água quente e tirando as penas. Nesses dias, tínhamos galinha no jantar ...

Quando a casa era cinza, as fotos que tirávamos eram em sépia ou preto e branco. Há fotos de minha mãe com seus sete irmãos na sala de estar, todos eles muito sérios porque naquela época tirar fotografia era coisa muito importante. Há fotos minhas com minhas quatro irmãs, no pátio, só de calcinhas e brincando com uma mangueira. Há fotos nossas com os nossos pais, sentados no balanço, posando para a eternidade. Há fotos de muitas gerações, todas elas acolhidas um dia com todo o carinho pela casa. Agora, quase todos nós nos mudamos para outras cidades, outros países. Só a casa permanece lá, guardando nossas memórias, nossos segredos.


Photograph by Augusto Cesar Baptista Areal

5 comments:

  1. Estou aqui lendo esse texto maravilhoso do computador do fotógrafo, ao lado de Junilza (a mãe do fotógrafo) e de Júlio (o irmão).
    Vou contar pra Augusto sobre seu blog.
    Estou em Brasília desde quinta-feira.
    Adorei os textos!
    Bjs

    ReplyDelete
  2. There aren't enough words to discribe what I felt reading this text. As you know, I'm 65 years old and I was born in this house where I lived for 15 years.
    I have returned there many times and each time I enjoy it very much.
    Not only the green house is still there. There are many pieces of each one of us there; many pieces of our souls, our loves, our laughters, our tears, our hapiness.
    Perhaps the house is a little responsable for the friendship and the ties that bond our family.
    Thank you for your wonderful texts.Kisses.

    ReplyDelete
  3. The places we trace our ties to evoke strong feelings. I live about 5 or 6 blocks from where I spent 10 years of my life. I pass by every now and again and see with my child eyes all of the wonders that I saw when I was a child. Here are some of my memories: I remember sweltering hot, humid days without an air conditioner but, I do not remember one day without a television set. I remember watching, horrified as a friend was hit by a car in front of my house. He sailed nearly 20 feet, and survived. I watched 10 Fourth of July Parades come down the street in front of this house. I remember the one Christmas when Santa Claus visited this house. My parents refused to believe he was at the front door, until I let him in and made them see. I remember snowy days sledding down the gentle hill the street travels. I remember sweltering hot days when no one dared to move (remember, no air conditioning...). I remember thunderstorms and how we children would cower in the basement until it passed and then go running out to play in the gutter like it was a fast moving river.

    I am sorry that I don't share a common set of memories with you and the others who have written here, but the thoughts and emotions you trigger in them, you trigger in me, too.

    Thanks for sharing...

    ReplyDelete
  4. All,
    Thanks for the comments for this post. It makes me very happy to see that the green house continues to achieve its goal: to keep our memories alive.

    ReplyDelete
  5. Que delicia seu texto. Essa casa faz parte da minha vida, e foi lá que eu vivi muitos dos melhores momentos da minha infancia e adolescencia. Há poucos dias eu estava me lembrando de um papo que nós duas tivemos naquele balanço da foto, e de como uma conversa tão despretensiosa, acabou sendo pra mim, o momento em que você passou de prima à minha amiga.Beijos, Maria Célia

    ReplyDelete