Sunday, May 17, 2009

The Wetland Train (O Trem Do Pantanal)



My friend told me that the train is coming back, and I am already excited waiting for it. The train will be called The Train Of The Wetlands and colorful drawings will decorate the outside of the air-conditioned cars. In the evening, it will stop in a town, in the middle of the way, and then continue the trip the next morning. So different from many years ago... But still the train of my memories.

When I was a child, most of our vacations started with a train trip. At that time there weren’t any drawings on the train and it also did not have a name. It was only “the train.” With its plain brown wooden wagons, it announced its arrival proudly in Corumba, Brazil, the engineer blowing the horn with gusto so everybody could come and admire the locomotive. At the train station, there was always a crowd waiting to board. Men juggled many suitcases while women carried a large amount of food for the trip, usually wrapped in tablecloths. Kids ran wildly, sometimes being scolded by their parents, afraid that they would end up under the iron wheels.

The first car of the train was the diner. Then came the sleepers followed by the coaches. At the rear were the flat cars carrying automobiles. We always reserved a place in the sleepers because our voyage lasted for almost two days. We were going from Corumba to Bauru, in the state of Sao Paulo, on our way to the shore.

The trip always started with a fight. My sisters and I had to decide who would sleep with whom in which cabin, and who would take the up bunk bed. After this matter was resolved and we all had run around examining everything, specially the small bathrooms in each car, we would settle for the night. For twelve hours we would shake from one side to another, at the rhythm of the train, trying to sleep in the narrow beds.

In the mornings the fun would really start. Savannas, forests, swamps and rivers paraded in front of our eyes, full of huge birds, alligators and wild pigs. At the first stop, women and kids approached the train selling mangos, guavas, pasteis, and popsicles… We always settled for the popsicles for even in the morning the heat was already unbearable. By lunchtime, we were covered in a brown dust that impregnated in our clothes, mixed with our sweat. By the afternoon, we had energy left only to move in slow motion. The vegetation outside seemed dry, thirsty and sad. We would start to wonder if the trip would ever end.

One more night in the narrow bunk beds, and we would finally arrive. After almost two days, we would leave the train feeling as if the ground was still moving below us. We would be dying to take a shower and, for once, sleep in a bed that didn’t shake.

Now, my friend tells me that the train is coming back, after having rested for more than a decade. I should not be excited about it, considering the heat and all the discomfort that we experienced in our trips. However, when I think about those voyages so long ago, what comes to my mind is the sight of the barefooted kids running along the tracks and waving to us, the warm feeling of the train moving from side to side and lulling us to sleep, the sky full of stars that we would see from our bunk beds, and the clickity-clack of the wheels breaking the silence of the night while we traveled through forests, savannas and swamps.

O TREM DO PANTANAL

Minha amiga me disse que o trem está voltando, e já estou animada esperando por ele. O trem vai ser chamar “O Trem Do Pantanal.” Os carros serão decorados com desenhos coloridos e terão ar condicionado. À noite, a viagem se interromperá numa cidade, no meio do caminho. No dia seguida, ela continuará. Tão diferente de muitos anos atrás ... Mas, apesar de tudo, o mesmo trem da minha memória.

Quando eu era criança, a maioria das nossas férias começava com uma viagem. Naquela época, não havia desenho nos vagões e o trem não tinha um nome. Era apenas “o trem”. Com seus vagões marrons, de madeira, ele anunciava a sua chegada em Corumbá com orgulho, o engenheiro tocando a buzina bem alto para que todos pudessem vir e admirar a locomotiva. Na estação, havia sempre uma multidão à espera de embarcar. Os homens carregavam uma porção de malas enquanto as mulheres carregavam uma quantidade imensa de comida para a viagem, normalmente embrulhada em toalhas. As crianças corriam por todo canto, e de vez em quando levavam uma bronca dos pais com medo de que elas acabassem embaixo das rodas de ferro.
O primeiro vagão do trem era o restaurante. Depois, vinham os vagões com cabines e por último os com poltronas. Atrás de todos, ficavam os vagões que transportavam os automóveis. Nós sempre reservávamos cabines, porque a nossa viagem durava quase dois dias. Estávamos indo de Corumbá para Bauru, no estado de São Paulo, o nosso primeiro passo em direção ao litoral.

A viagem sempre começava com uma briga. Minhas irmãs e eu tínhamos que decidir quem ia dormir com quem e aonde, e quem ficaria na parte de cima do beliche. Depois que esse problema estivesse resolvido e que a gente tivesse examinado todo o trem, especialmente os banheiros de cada vagão, nos preparávamos para dormir. Por doze horas sacolejávamos de um lado para o outro, ao ritmo do trem, tentando dormir pelo menos um pouco que fosse nas camas estreitas.

De manhã, a bagunça realmente começava. Atravessávamos florestas, pântanos e rios vendo inúmeras aves imensas, jacarés e porcos selvagens. Na primeira estação, mulheres e crianças aproximavam-se vendendo mangas, goiabas, pastéis e picolés ... Nós sempre acabávamos comprando picolés porque mesmo de manhã o calor já era insuportável. Na hora do almoço, já estávamos totalmente cobertas por uma poeira marrom que grudava na nossa roupa, misturando-se com nosso suor. De tarde, tínhamos energia apenas para nos mexer em câmara lenta. A vegetação do lado de fora do trem parecia seca, sedenta e triste. Começávamos a nos perguntar se a viagem nunca iria acabar.
Depois de mais uma noite nos beliches estreitos, chegávamos finalmente. Tínhamos ficado no trem praticamente dois dias e saíamos dele sentindo como se o chão ainda se mexesse embaixo dos nossos pés. Estávamos morrendo de vontade de tomar um banho e, finalmente, dormir numa cama que não sacolejasse.

Agora, minha amiga me disse que o trem está voltando, depois de ter ficado parado por mais de uma década. Não deveria ficar animada com a volta dele, considerando-se o calor e todos os desconfortos que passávamos durante as nossas viagens. No entanto, quando penso daquelas viagens, o que me vem à mente é a lembrança das crianças correndo descalças ao lado dos trilhos e acenando, o balanço gostoso do trem, de um lado para o outro, colocando a gente para dormir com sua monotonia, o céu cheio de estrelas que podíamos ver dos beliches, e os barulhos das rodas quebrando o silêncio da noite enquanto viajávamos através de florestas e pântanos.
Photograph: advertising for the "new" Train Of The Wetlands

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