Tuesday, July 26, 2011

Cat Looking for an Owner to Love – Gato à procura de um dono para amar

Photo: Bernadete Piassa
If you read my blog from time to time, maybe you already read a story about my cat or saw a picture of him. He appeared many times in here, playing with the Christmas tree, obsessing with the humidifier, or just being himself. Windy had been my faithful companion for more than 5 years.  Two weeks ago, I made one of the hardest decisions of my life: I decided to give Windy away.
I love my cat, but I also love my house. For the last two years, Windy has been peeing all over the living room, the hallway, and the bathroom. After I changed the carpet to hardwood, I realized that I had to let him go. I couldn’t live for the rest of my life in a house that smelled bad. Since it is so difficult to find an owner for a grown cat, I decided to put my talents as a writer towards his cause and write something appealing about him So, I wrote. 

CAT LOOKING FOR AN OWNER TO LOVE -Hello, my name is Windy and I am a 5 year old very playful and friendly cat. Among the things I like to do are: Hold my owner’s hand while she works on her computer. Play hide-and-seek with her, hiding under the sheets when she makes her bed. Play in the bathtub after she takes a shower – I just love water! My owner is heartbroken because she needs to put me up for adoption. You see, we lived very happily together for 3 years. Then, she decided to get married and I didn’t approve of him. I am not behaving very well since he moved in, and my owner decided to let me go. Will you give me a chance to prove that I can be a good boy again? I will reward you with lots of love. Windy.”

My writing’s skills weren’t very effective with strangers. However, my mother-in-law felt so bad about Windy that she decided to adopt him. I thought this was an answer to all my prayers. I would continue to see Windy from time to time, he would be happy in a house in the middle of trees, from where he could observe birds, squires, deer and even foxes, and my mother-in-law would have a pet to cheer her up. Hopefully he would behave there since the inside of the house didn’t smell like other animals.
But as the days passed, I started to have doubts: what if the nurses that care for my mother-in-law left a door open and Windy ran away? What if my mother-in-law could not bend to give him food and water or if she forgot to feed him? I got more and more nervous. On Friday, the day before we were supposed to take Windy away, I hugged him and cried. Then, on Saturday morning, I looked at him on my bed, just stretching without any care in the world, and decided that I couldn’t possibly let him go.
When I told my husband about my decision he, in turn, told me something that made me have second thoughts again: my mother-in-law was looking forward to having Windy and had already placed a picture of him close to her bed. Could I disappoint her?
Oh brother! I admire these people who make decisions so easily and never look back. It seems that I am always agonizing about what to do. What would be best for all involved in this situation? Could I trust Windy to stop peeing on my new floor? Could my mother-in-law really take care of him?
In the end, I thought that my mother-in-law was too fragile to care for a pet and that I would give Windy another chance. He has proven a million times that he doesn’t deserve any chances and that he will always do only as he pleases because, after all,  he is the king of the house and I am here only to slave after him. But how could I give away a cat that has been with me for so long, even though he drives me nuts? I guess we will continue to be like these old couples who complain nonstop about each other but are always together. Love doesn’t have an easy explanation.

GATO À PROCURA DE UM DONO PARA AMAR 

Se você lê meu blog de vez em quando, talvez já tenha lido algum post sobre meu gato ou tenha visto a foto dele. Ele apareceu várias vezes aqui, brincando com a árvore de Natal, obcecado com o umidificador, ou apenas sendo ele mesmo. Windy tem sido meu fiel companheiro por mais de 5 anos. Há duas semanas, tomei uma das decisões mais difíceis da minha vida: decidi que iria dá-lo.
Eu amo meu gato, mas também amo minha casa. Nos últimos dois anos, Windy fazia xixi no chão da sala de estar, no corredor e no banheiro. Depois que troquei o carpete por um piso de madeira, resolvi que tinha de me separar de Windy. Eu não ia passar o resto da minha vida numa casa cheirando mal. Sabendo que seria difícil encontrar um dono para Windy, decidi usar meu talento como escritora em prol dele e escrever um texto tocante, para ver se alguém se animava a pegá-lo.  Então, escrevi.

"GATO À PROCURA DE UM DONO PARA AMAR: Olá, meu nome é Windy. Sou um gato de 5 anos de idade, muito brincalhão e amigável. Entre as coisas que gosto de fazer estão: Segurar a mão da minha dona, enquanto ela trabalha no computador; brincar de esconde-esconde com ela, escondendo-me debaixo dos lençóis quando ela arruma a cama; brincar na banheira depois que ela toma banho – Ah, eu adoro água! A minha dona está muito triste porque ela precisa me dar para alguém. Pois é, nós vivemos felizes juntos durante três anos. Então, ela decidiu se casar e eu não simpatizei com ele. Não ando me comportando muito bem desde que ele mudou para nossa casa, e minha dona resolveu que não posso mais continuar aqui. Você me daria uma chance para provar que posso ser outra vez um bom gato? Prometo recompensá-lo com muito amor. Windy".

O meu apelo não comoveu a nenhum estranho. No entanto, minha sogra ficou com tanta pena de Windy que decidiu adotá-lo. Achei que essa era a resposta para as minhas preces. Poderia continuar a ver Windy de vez em quando, ele ficaria feliz numa casa no meio de árvores, de onde iria observar pássaros, esquilos, veados e até raposas, e minha sogra ganharia um animal de estimação para lhe fazer companhia. Eu tinha esperança de que Windy se comportaria na casa dela, já que o interior da casa não cheirava a outros bichos.
Mas com o passar dos dias, comecei a ter dúvidas: o que aconteceria se as enfermeiras que cuidam da minha sogra deixassem a porta aberta e Windy saísse? E se a minha sogra não pudesse se abaixar para dar-lhe comida e água, ou se esquecesse de alimentá-lo? Fui ficando cada vez mais nervosa. Na sexta-feira, no dia anterior ao que levaríamos Windy embora, eu o abracei e chorei. Então, no sábado de manhã, olhei para ele na minha cama, se espreguiçando todo sem a menor preocupação, e decidi que não podia levá-lo para outra casa.
Quando contei ao meu marido sobre a minha decisão ele, por sua vez, me disse algo que me fez duvidar de novo: sua mãe estava ansiosa para que Windy fosse morar com ela e já havia até colocado uma foto dele perto de sua cama. Será que eu tinha coragem de decepcioná-la?
Meu Deus! Como admiro essas pessoas que tomam decisões com tanta facilidade e nunca se arrependem. Parece que estou sempre me angustiando sobre o que fazer. O que seria melhor para todos os envolvidos nessa situação? Será que Windy iria parar de fazer xixi no chão da minha casa? Será que minha sogra cuidaria bem dele?
No final, achei que minha sogra estava fragilizada demais para cuidar de um animal de estimação e que eu daria outra oportunidade a Windy. Evidentemente, ele já provou um milhão de vezes que não merece outra oportunidade e que continuará fazendo o que bem entender porque, afinal, ele é o rei da casa e eu estou aqui apenas para servi-lo. Mas como eu poderia dar um gato que vive comigo há tanto tempo, mesmo que ele me deixe maluca? Acho que continuaremos a ser como esses casais de idade que se queixam sem parar um do outro, mas estão sempre juntos. O amor não tem uma explicação simples.

Saturday, July 16, 2011

The Pleasures of Routine (Os prazeres da rotina)

Photo: FreeDigitalPhotos.net
Whenever I go to a hospital I am reminded of the short story by Gabriel Garcia Marquez, The Trail of Your Blood in the Snow. In it, a young Spanish woman gets married, receives a bouquet of roses as a gift, and pricks her finger on a thorn. With her husband, she drives from Madrid to Paris on their honeymoon, and becomes worried when her finger never stops bleeding. In Paris, he takes her to the hospital, kisses her goodbye, and never sees her again: he tries to visit her many times, but his poor French and the guards of the hospital prevent him from reaching her. One week later, he hears that she had bled to death.  

My mother-in-law, was taken to the hospital last week, but did not disappear forever inside it as was the case in this haunting and beautiful story from Gabriel Garcia Marquez. However, something else did vanish inside that hospital: my routine. The long length of time that I spent at the hospital disrupted my life. It was difficult to work, to diet, to take care of things at my house. My “normal” life became non-existent and made me realize how I enjoy my daily routine. 

Routine gives me comfort. When I always do the same things in the same way, I don’t need to think anymore. But, if something different happens, and I am thrown out of my comfort zone: I have to improvise, make decisions. I think that’s the way it is for everyone. We live following a routine. We have our preferred time to wake up, our preferred route to take to work, our preferred activity to do before we fall asleep, which side of the bed is ours... When that routine is disturbed, we feel awkward. 

From time to time we get tired of the routine and need a break from it. We book a flight to the end of the world, spend a week seeing and doing different things, and are very happy to come home and return to our routine. Even criminals who escape from prison usually go back to the place they came from and are most familiar with. The police, knowing that, are right there waiting.

Poets and philosophers write about the importance of trying different things every day. I agree that it is fundamental to escape the monotony and discover new paths in life. But how can we throw up in the air the small things that we like and live a different life altogether every single day? I enjoy waking up knowing what I am going to do next instead of bouncing from one unknown to another every moment of every day. If I follow a routine, my body can live on auto-pilot while my mind is far way. The safety of the routine frees me to think and create.

The Scottish writer, Arthur Conan Doyle, once said: “My mind rebels at stagnation. Give me problems, give me work, give me the most abstruse cryptogram, or the most intricate analysis, and I am in my own proper atmosphere. But I abhor the dull routine of existence. I crave for mental exaltation.” I love my daily routine but, like this famous author, I can’t live without having my mind free to roam.  My perfect night ends with a routine: reading a book. The book always takes me to places that I have never explored, letting me travel in my imagination and escape from my routine.

OS PRAZERES DA ROTINA

Sempre que vou a um hospital me lembro do conto de Gabriel Garcia Marquez, O Rastro De Teu Sangue Na Neve. Nele, uma moça espanhola se casa, recebe um buquê de rosas de presente e espeta o dedo num espinho. Na lua de mel, ela e o marido vão de carro de Madri a Paris e ela começa a se preocupar quando seu dedo não pára de sangrar. Em Paris, o marido a leva para o hospital, dá-lhe um beijo de despedida e nunca mais a vê: ele tenta visitá-la várias vezes, mas sua falta de conhecimento da língua francesa e os guardas do hospital o impedem. Uma semana depois, ele fica sabendo que sua mulher sangrou até morrer.

Minha sogra foi levada para o hospital na semana passada, mas não desapareceu para sempre, como nessa história assustadora e maravilhosa de Gabriel Garcia Marquez. No entanto, outra coisa sumiu dentro daquele hospital: minha rotina. O tempo que passei no hospital bagunçou minha vida. Foi difícil trabalhar, fazer regime, cuidar das coisas na minha casa. Minha vida "normal" cessou de existir e me fez perceber como gosto de minha rotina diária.

Rotina me dá conforto. Quando faço as coisas da mesma maneira, não preciso pensar. Mas, se algo diferente acontece, saio fora da minha zona de conforto. Tenho que improvisar, tomar decisões. Acho que é assim com todo mundo. Todos seguimos uma rotina. Temos nossa hora preferida para acordar, nosso caminho preferido para ir ao trabalho, nossa atividade preferida para fazer antes de dormir, o lado da cama que preferimos ... Quando essa rotina é perturbada, a gente se sente desconfortável.

De vez em quando ficamos cansados ​​da rotina e precisamos de uma mudança. Podemos reservar um voo para um lugar bem longinquo, passar uma semana vendo e fazendo coisas diferentes, mas ficamos muito felizes em voltar para casa e voltar à nossa rotina. Mesmo criminosos que escapam da prisão costumam ir de volta ao lugar de onde vieram e com o qual estão acostumados. A polícia, sabendo disso, está sempre lá à espera deles.

Poetas e filósofos escrevem sobre a importância de tentar coisas diferentes todos os dias. Concordo que é fundamental sair da monotonia e descobrir novos caminhos. Mas como podemos simplesmente esquecer as pequenas coisas que nos dão prazer e viver uma vida completamente diferente a cada dia? Gosto de acordar sabendo o que vou fazer a seguir, em vez de ficar experimentando coisas desconhecidas o dia todo. Se sigo uma rotina, meu corpo pode viver no piloto automático enquanto minha cabeça está longe. A segurança da rotina me deixa livre para pensar e criar.

O escritor escocês Arthur Conan Doyle disse certa vez: "Minha mente se rebela contra a estagnação. Dê-me problemas, dê-me trabalho, dê-me o criptograma mais incoerente, ou a análise mais complexa, e estou no meu elemento. Abomino a rotina monótona da existência. Tenho necessidade de exaltação mental." Eu amo minha rotina diária, mas, como o famoso autor, não posso viver sem que minha mente esteja livre para explorar. Minha noite perfeita termina com uma rotina: ler um livro. O livro sempre me leva a lugares inexplorados, enquanto viajo na minha imaginação e escapo da minha rotina.

Thursday, July 7, 2011

Compassionate Angels (Anjos com compaixão)

 “Why do people blog?” My friend asked on Sunday. When he asked, I wasn’t exactly sure how to answer. Later on, I concluded we blog to express ourselves. Each person likes to express himself in a certain way. I have a cousin who designs mandalas, another does sculptures with metal, a third writes plays. As for me, I blog and discuss my feelings with complete strangers over the internet. Sound strange? Well, aren’t we all a little bit weird?

This week I was all set to blog about my deck. Actually, my hidden garden as I like to think about it. A place full of flowers, that I enjoy a lot, but nobody sees. Since I live in the US where people don’t have the habit of visiting each other, my lovely deck is only for the enjoyment of my husband and I. If we were in Brazil, many people would see it because there friends go to each other’s house. In the US, we go out a lot, but get-togethers with friends are rare and need to be scheduled way ahead of time. I saw my best friend last time in May. Who knows when I am going to see her again? In this land, this is not unusual…

That is what I was going to say this week to the strangers (or not) who read my blog. But suddenly I started to think about health, aging, and compassion. What provoked these thoughts was the fact that my mother-in-law was taken to the hospital, where she has been staying for the last few days. Looking at her so fragile and lost, filled my mind with questions about life and death. Are we all going to be in her situation one day? Why do we struggle to live longer if the end is usually so sad and undignified? What is the point of worrying so much about beauty and cosmetic surgeries when people might find themselves, in old age, wearing diapers? 

A visit to a hospital, no matter if it is to see a patient or to be there as a patient, is never an easy experience.   However, it surprises me to see the way that nurses and doctors cope with the sadness in the air. Whenever I am in a hospital, I encounter doctors and nurses who are very cheerful. Many of them turn out to be very compassionate. This time, I saw nurses being humorous with the patients, holding their hands and looking straight into their eyes when talking with them, and praising them for being capable of doing small things by themselves. I saw genuinely good people who seemed unaffected by all the sorrow around them.  

For someone like me, who tends to ponder too much and concentrate on the part of the glass that is half empty, instead of the part that is half full, it is wonderful to realize that there are people who really enjoy helping others. It is great to be reminded that even amidst the sadness of old age and illness, there are angels flying around, promising hope and happiness. 

ANJOS COM COMPAIXÃO
 
"Por que as pessoas blogam?" Meu amigo perguntou no domingo. Na hora, não soube exatamente o que responder. Mais tarde, cheguei à conclusão de que blogamos para nos expressarmos. Cada pessoa gosta de se expressar de uma maneira. Tenho uma prima que faz mandalas, outra faz esculturas em metal, outra ainda escreve peças de teatro. Quanto a mim, blogo para discutir meus sentimentos com completos estranhos através da internete. Parece esquisito? Bem, não somos todos meio esquisitos?

Esta semana eu ia  blogar sobre meu deck. Na verdade, meu jardim escondido como gosto de pensar nele. Um lugar cheio de flores, do qual gosto muito, mas que ninguém vê. Como moro nos EUA, onde as pessoas não têm o hábito de fazer visitas, o meu lindo deck é só para meu marido e eu curtirmos. Se estivéssemos no Brasil, pelo menos algumas pessoas o veriam porque lá os amigos vão à casa um do outro. Nos EUA, saímos muito, mas encontramos raramente com os amigos e esses encontros são agendados com bastante antecedência. A última vez que vi minha melhor amiga foi em maio. Sabe-se lá quando a verei novamente. Nesta terra, isso não é incomum ...

É isso que eu ia dizer esta semana para os estranhos (ou não) que lêem meu blog. Mas de repente comecei a pensar sobre saúde, velhice e compaixão. O que deu origem a esses pensamentos foi o fato de minha sogra ter ido para o hospital, onde ainda continua internada. Vendo-a tão frágil e perdida, me fez pensar sobre a vida e a morte. Será que estaremos todos nessa situação um dia? Por que lutamos para prolongar nossa vida se o fim é geralmente tão triste e indigno? Por que preocupar-nos com a beleza e fazer tantas plásticas se as pessoas, na velhice, acabam de fraldas?

Uma visita a um hospital, não importa se para ver um paciente ou se para ficar lá como paciente, nunca é uma experiência fácil. No entanto, fico surpresa  de ver a maneira com que os médicos e os enfermeiros lidam com a tristeza quase palpável no ar. Sempre que estou num hospital, encontro médicos e enfermeiros que parecem contentes. Muitos demonstram compaixão pelos doentes. Na minha última ida ao hospital,  vi enfermeiros brincando com os pacientes, segurando-lhes as mãos e olhando diretamente em seus olhos quando falavam com eles, e elogiando-os por serem capazes de fazer as coisas mais simples por si mesmos. Vi pessoas boas realmente, que não pareciam afetadas pela tristeza ao seu redor.

Para alguém como eu, que tende a pensar muito e se concentrar na parte do copo que está vazia em vez da parte que está cheia, é maravilhoso perceber de vez em quando que existem pessoas que realmente gostam de ajudar os outros. É ótimo ser lembrada de que mesmo no meio da tristeza provocada pela velhice e pela doença, há anjos voando ao redor, trazendo esperança e felicidade.

Photos: Bernadete Piassa