Monday, May 4, 2009

The Banana Man (O Bananeiro)



I grew up with the banana man but he knows more about me than I know about him. He knows who my parents and my sisters are and he never fails to greet me when he sees me. I know only that he comes early in the morning pulling his cart, takes his fruits out of wooden crates and spread them over a flat board inside the cart. During the day he can be seen barefoot, sitting in a plastic chair in front of the cart, talking with people who pass by as comfortable as if he were in his living room. By the end of the day he puts his fruits away, covers his cart and heads to a home that I know nothing about.

I don’t remember when I saw the banana man for the first time. Was he selling his fruits at my street since I was a kid and used to be sent to the small store around the corner with an old black composition book in which the vendor would write down everything I bought so my mother could pay him at the end of the month? Was he already there when I was in elementary school and would pass by every day at 1pm, sweating in my white uniform under the relentless Brazilian sun, hauling my books on my way to school? Was he there at Carnival times when the schools with people dressed in Indians costumes would parade throughout the streets at the sound of animated music? I remember being at the front window of my house and watching the make-believe Indians dancing while I tried to hide behind my mother’s skirt, afraid of the faces painted in red and the enormous feathers adorning the Indian’s heads. I remember that, but I can’t remember if the banana man was already there at that time.

The banana man was there for sure years later, when my elegant father started forgetting who he was and would dodge my mother’s surveillance and escape to the street shoeless. My father had been spotted talking with the banana man at that time. What did they talk about? I wonder. The banana man had a word to say to everyone and his presence was always reassuring. I saw him last time in 2004 when I visited my hometown in Brazil and asked him if I could take a picture of him. He wanted to know how much the picture would cost and I just laughed…

My sister told me a few weeks ago that the banana man had asked if he could have her dog, which he liked a lot. When she told me that, she made me happy. For me, the banana man is like the flavors of an ice cream that we try once and never forget, always bringing a smile to our face when we think about it. The world might change. I can move from one country to another. But the knowledge that the banana man is still at that street, barefooted as always, makes me feels that there will always be a place called home.




O BANANEIRO


Eu cresci com o bananeiro, mas ele me conhece muito mais do que eu o conheço. Ele sabe quem são meus pais e minhas irmãs e nunca deixa de me cumprimentar quando me vê. Eu sei apenas que ele chega de manhã cedo puxando seu carrinho, tira as frutas das caixas de madeira e as espalha em cima duma tábua dentro do carrinho. Durante o dia, ele pode ser visto descalço, sentado numa cadeira de plástico na frente da banquinha, conversando com as pessoas que passam, tão à vontade como se estivesse na sala de visitas da sua casa. No final da tarde, ele guarda as frutas, cobre a banquinha e vai embora pra sua casa da qual não sei absolutamente nada.

Não me lembro quando vi o bananeiro pela primeira vez. Será que ele já vendia suas frutas quando eu era pequena e ia ao mercadinho da esquina levando uma caderneta preta onde o dono da loja anotava tudo que eu comprava pra minha mãe poder pagar no final do mês? Será que ele já estava lá quando eu cursava o primeiro grau e tinha de andar pra escola à uma da tarde, no maior calor, suando no meu uniforme branco e carregando um monte de livros escolares? Será que ele já estava lá no carnaval, quando as pessoas se fantasiavam de índios e desfilavam pelas ruas ao ritmo das músicas carnavalescas? Eu me lembro de ficar na janela da minha casa, vendo os homens fantasiados de índios e tentando me esconder atrás da saia da minha mãe, com medo dos rostos pintados de vermelho e das penas enormes com que os homens enfeitavam as cabeças. Eu me lembro do carnaval, mas não me lembro se o bananeiro já estava lá nessa época.

O bananeiro estava lá com certeza alguns anos mais tarde, quando meu pai que era tão elegante começou a esquecer-se de quem ele era e driblar a vigilância da minha mãe pra ir pra rua descalço. Meu pai foi visto conversando com o bananeiro naquela época. O que será que eles conversavam? O bananeiro tinha uma palavrinha pra todo mundo e sua presença sempre era reconfortante. Eu o vi pela última vez em 2004 quando visitei a minha cidade natal e perguntei se podia tirar uma foto dele. Ele quis saber quanto que a foto ia custar e eu só ri ...

Minha irmã me disse há algumas semanas que o bananeiro tinha perguntado se poderia ficar com o cachorro dela, do qual ele gostava muito. Quando ela me disse isso, fiquei muito feliz. Para mim, o bananeiro é como um sorvete que tomamos uma vez e nunca esquecemos, sempre nos fazendo sorrir quando pensamos nele. O mundo pode mudar. Eu posso mudar de um país pra outro. Mas o fato de eu saber que o bananeiro continua lá na minha rua, descalço como sempre, me deixa tranquila, com a sensação de que pelo menos algumas coisas na vida continuam inalteradas.

2 comments:

  1. I am amazed by the simplicity of life that you describe. I am amazed when I think about listening to the radio instead of watching the television. I never knew that simplicity. I think that you did gives you an advantage. It makes you someone I am not and may never be. You touch me in ways I have never been touched before, and these are not in physical ways. You make me think. You have rekindled countless dreams. You have given me hope. All of this comes from the most complex and perplexing simplicity I have ever known.

    I found another watch.

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  2. Dete ,me emocionei com que voce escreveu sobre o bananeiro. é ìncrível como você consegue consegue fazer uma pessoa ficar ainda mais humana do que ela é.Esse é um dom que poucos escritore tem.

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