Sunday, March 14, 2010

The Knife Sharpener (O amolador de facas)


I was getting ready to leave a Brazilian restaurant in Northeast Philadelphia (US) when I saw a bulletin board in the entrance with many advertisements. There were ads for musical shows and prayers in an evangelic church, people offering to do translations, transportation to the airport, housecleaning…. But what really caught my attention was a sign that read: “Sharpener - pliers, scissors, cuticle pliers and other cutting objects.” I stared at the sign fascinated. I had totally forgotten about that!

For the last 24 years, I have been living in a country where people find it easier to throw away a knife that becomes dull than to sharpen it. A cuticle pliers? Who would imagine that such a thing could be sharpened? In the US, it would end up in the garbage to be replaced by another that soon would have the same destiny. But there he was: a Brazilian – Carlos – offering to sharpen all cutting objects…

The sign reminded of one day last January. I was visiting Brazil and staying at my sister’s house in the town of Campo Grande. We were sitting at the kitchen, drinking a cafezinho when her husband came inside and said that a young man had passed in the street offering his services as a knife sharpener, and he had given him several knifes to be sharpened. While the young man worked, my brother-in-law chatted with him and found out that the guy traveled throughout Brazil performing his craft.

In the small and medium size towns of Brazil there are still many people who go from house to house offering their services or products. My mother buys lemons from a Bolivian man who stops every week at her house with his fruits. She chats with him and he became so familiar, that she refuses to buy lemons in the grocery store, even when they are less expensive, out of loyalty to her street vendor. Her cheese also comes from a friend who has a farm and the product could never be replaced by one from a grocery store. There is a lady who goes to my aunt’s house to do her nails. She has been doing this for more than 20 years and became friends with my aunt.

When I was young, growing up in a small town in Brazil, there was a man who walked by our street selling a sweet called biju which he carried inside a tambour. He played a tambourine to announce his arrival, and the children would run outside to buy the sweet. There was also a man who sold popsicles in a small chart and would honk to let everybody know that he was there. Aside these, there were vendors of milk, butter, all sorts of fruits, Bolivian shawls and many other products.

Where I live now, nobody knocks on my door selling anything. I do find some flyers and brochures stuck under my door. But there is no one offering, in fact, their merchandise. After all, who would open the door to a stranger? I miss the simplicity of the past when objects had a long life because they were mended again and again, and passed from one generation to another. I miss the street vendors that added so much color and excitement to the neighborhoods. I miss the conversations that always took place when someone stopped by to sell something or perform a service. How can I ever explain to my children that there was a time like that? I wonder what they are going to miss when they get to be my age…

O AMOLADOR DE FACAS

Eu estava me preparando para sair de um restaurante brasileiro ao norte da cidade da Filadélfia, nos EUA, quando vi um quadro de avisos na entrada, com muitos anúncios. Havia anúncios de shows musicais e orações em uma igreja evangélica, pessoas oferecendo-se para fazer traduções, transporte para o aeroporto, limpeza .... Mas o que realmente me chamou a atenção foi um anúncio onde se lia: "Amola-se - alicates, tesouras, alicates de cutícula e outros objetos de corte." Fiquei fascinada. Tinha me esquecido totalmente daquilo!

Há 24 anos, moro num país onde as pessoas acham mais fácil jogar fora uma faca que perdeu o corte do que afiá-la. Um alicate de cutícula? Quem iria imaginar que tal coisa pudesse ser afiada? Nos EUA, o alicate acabaria no lixo e seria substituído por outro, que em breve teria o mesmo destino. Mas lá estava ele: um brasileiro - Carlos - oferecendo-se para amolar todos os objetos de corte ...

O anúncio me fez lembrar de um dia em janeiro. Eu tinha ido ao Brasil e estava hospedada na casa da minha irmã na cidade de Campo Grande. Estávamos sentadas na cozinha, tomando um cafezinho, quando o marido dela entrou e disse que um rapaz tinha passado na rua, oferecendo-se para afiar facas, e ele tinha lhe dado várias facas para serem afiadas. Enquanto o rapaz trabalhava, ficaram conversando e ele disse ao meu cunhado que viajava pelo Brasil todo fazendo o seu trabalho.

Nas cidades pequenas e médias do Brasil, ainda existem muitas pessoas que vão de casa em casa oferecendo seus serviços ou mercadorias. Minha mãe compra limões de um homem boliviano que passa toda semana na casa dela com suas frutas. Eles conversam e ela já o conhece tão bem, que se recusa a comprar limões no supermercado, mesmo quando eles são mais baratos, por fidelidade ao vendedor de rua. Seu queijo também vem de uma amiga que tem uma fazenda, e nunca poderia ser substituído por um de supermercado. Tem uma manicure que vai à casa da minha tia para lhe fazer as unhas. Ela faz isso há mais de 20 anos e se tornou amiga da minha tia.

Quando eu era jovem e morava numa cidadezinha no Brasil, havia um homem que passava em frente de casa vendendo um biju doce que ele carregava dentro de um tambor. Ele tocava um tamborim para anunciar sua chegada, e as crianças corriam para a rua para comprar os doces. Havia também um senhor que passava empurrando um carrinho e vendendo picolés. Ele buzinava para que todos soubessem que tinha chegado. Além desses vendedores, havia outros vendendo leite, manteiga, todos os tipos de frutas, xales bolivianos e muitas outras mercadorias.

Onde moro agora, ninguém bate na minha porta vendendo coisas. Acho alguns anúncios e brochuras debaixo da minha porta. Mas não há ninguém, de fato, oferecendo sua mercadoria. Afinal, quem iria abrir a porta para um estranho? Sinto saudades da simplicidade do passado quando os objetos tinham uma vida longa porque eram remendados várias vezes e passavam de uma geração a outra. Sinto falta dos vendedores ambulantes que davam tanta cor e animação aos bairros. Sinto falta das conversas que aconteciam quando alguém passava para vender algo ou fazer um serviço. Como posso explicar aos meus filhos que houve um tempo como esse? Eu me pergunto do que eles vão se lembrar quando tiverem a minha idade ...

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