Monday, December 5, 2011

Like a Herd of Elephants (Como uma manada de elefantes)

     I just lost my chamomile tea. I had planned to drink it while I checked my emails, before going to sleep. I could swear that I had brought it upstairs but it is nowhere to be found. Since it is not my cellular, which I keep losing, I can’t call it to find out where it is. Thank goodness my husband volunteered to go searching the house for it…

     My mind has been like that lately: in a state of total chaos, confusion, mess, which, by the way, I believe are just synonyms but sound very different. I have been working so hard that I don’t have time to write on my blog, read other people’s blog, or even be on Facebook. Usually, I read at least 2 daily newspapers online. I can’t even dream of doing this now. Even to read people.com and relax my mind finding out what Demi Moore and Ashton Kutcher are up to is out of the question.

     The end of the year arrived in my life with the strength of a herd of elephants, stampeding across the oasis of calm I managed to create and enjoy the months before. Now, I am living on a deadline: I have to do this, and that, and another thing yet before I can go on vacations and breathe! It is at times like that I miss being in Brazil, getting an extra month pay (the 13th paycheck) at the end of the year, with one month of vacation, and not having to answer professional emails within 10 minutes after I get them or people will wonder what is going on… Peace, relaxation… Is this a dream?

     So, my dear readers, since I won’t have time to write again this year, I want to thank you for reading my blog and say that I really appreciate you taking the time to stop by, with so many other things to do in your busy lives. I hope the New Year brings for you and I a lot of happiness, tranquility, and inner peace. We both deserve that for sure.

Photo: Bernadete Piassa (Thailand)
COMO UMA MANADA DE ELEFANTES
     Acabei de perder meu chá de camomila. Estava pensando em tomá-lo enquanto checava  meus e-mails, antes de ir dormir. Podia jurar que eu o tinha trazido aqui para cima, mas não consigo encontrá-lo. Já que o chá não é como meu celular, que perco sempre, mas depois ligo para ele para saber onde está, não posso fazer nada. Graças a Deus meu marido se ofereceu para procurá-lo pela casa afora ...
 
     Minha cabeça anda assim ultimamente: num estado de caos total, confusão, bagunça, o que, a propósito, acho que são sinônimos, mas parecem  diferente quando a gente fala. Ando trabalhando tanto que não tenho tempo para escrever meu blog, ler o blog de
​​outras pessoas, ou ficar de bobeira no Facebook. Normalmente, leio pelo menos 2 jornais diários online. Agora, não posso nem sonhar em fazer isso. Até dar uma olhadinha no site de people.com e relaxar descobrindo o que Demi Moore e Ashton Kutcher estão fazendo ultimamente está difícil...
 
      Tenho a impressão de que o fim do ano chegou com a força de uma manada de elefantes, pisoteando sobre o oásis de calma que eu tinha conseguido criar e desfrutar nos meses anteriores. Agora, estou vivendo com hora marcada para tudo: tenho que fazer isso, e aquilo, e outra coisa mais,  antes que possa sair de férias e respirar! Em momentos como esses é que sinto falta de estar no Brasil, ganhando um mês de salário extra (o décimo-terceiro) no final do ano, com um mês de férias, sem ter que responder e-mails profissionais em  10 minutos no máximo, depois de tê-los recebido, ou as pessoas já se perguntam o que está acontecendo ... Paz, relaxamento ... isso é um sonho?

      Então, meus caros leitores, já que não terei tempo para escrever novamente este ano, quero agradecer a todos que leram meu blog e dizer que realmente fico grata por visitarem minha página, com tantas outras coisas para fazer nas suas vidas que, com certeza, são bem ocupadas. Espero que o Ano Novo traga para vocês, e para mim também, muita tranquilidade, felicidade, e paz interior. Nós merecemos, com certeza.

Sunday, November 20, 2011

Wealth, Mozambique style (Riqueza no estilo de Moçambique)


     I just finished writing a short email, with 3 small paragraphs, to a woman who used to be my best friend when I was a child. Another friend of mine gave me her email address about a week ago and since then I have been wondering what to write to someone I used to like so much, have so much in common with, but haven’t seen in more than 40 years. How could I reconnect with someone from my past who was so important to me? Wasn’t it safer to leave it at that, in the past? We both traveled so far away and  lead such different lives. I had to ask myself if there was anything left to talk about. On the other hand, aren’t friends and family the threads that tie our lives together?
     In his essay “Languages We Don’t Know We Know,” the writer Mia Couto explains that in some of the languages spoken in Mozambique, there isn’t a word for “poor.” A poor person is called by a word meaning “orphan” because poor is someone who doesn’t have relatives. Poverty is loneliness, family rupture. ..This week I reconnected with another friend from my childhood through Facebook and also sent the email I just mentioned. Aside that, there was a big reunion in Brazil, attended by 77 relatives from my mother’s side of the family. Although I wasn’t there, I felt part of it due to all the comments posted on Facebook, photos shared, and endless talks about the meeting.  This week I am definitely wealthy in Mozambican terms…
     But it is not the Brazilian part of me that feels wealthy right now. I have made a few but good friends in my adoptive country.  My 3 children live here, I am married to an American, and although sometimes I feel that my feet are still firmly planted on the other side of the ocean, I have developed strong ties in the US as well. When I left my country, 26 years ago, I was the only person in my extended family living abroad. Nowadays, I have cousins or nephews in Canada, Germany, and Austria. In the US, there are people from my family in the East and the West Coast. One day, we will be spread all over the world. With the internet connecting us, we can still maintain our ties and celebrate each others' lives even from faraway places.
     The bonds that we form with family and friends last forever. It is true that some people come and go, and that sometimes we feel more connected to one person than another. However, we know that true friends are there for us no matter what. We can be in different countries or living only minutes apart. In our heart, they are always present helping us fell wealthy and blessed even when everything else might be falling apart.

Riqueza no estilo de Moçambique
 
     Acabei de escrever um email de três parágrafos para uma pessoa que era minha melhor amiga nos meus tempos de criança. Uma outra amiga me passou o email dela e  eu fiquei angustiada quase uma semana, pensando no que escrever para alguém de quem eu gostava muito, com quem tinha tanta coisa em comum, mas que não via há mais de 40 anos. Como  seria me reconectar com alguém que tinha sido tão importante no meu passado? Não seria mais seguro deixá-la para trás,  apenas como passado? Nós duas viajamos para tão longe, levamos vidas tão diferentes. Será que teríamos do que conversar? Por outro lado, não são os amigos e as pessoas da família os fios que mantêem nossas vidas ligadas?
          Na sua crônica "As línguas que não sabemos que sabemos", o escritor Mia Couto explica que em alguns dos dialetos falados em Moçambique, não existe uma palavra para "pobres". Uma pessoa pobre é chamada por uma palavra que significa "órfão" porque pobre é alguém que não tem parentes. Pobreza é solidão, é a ruptura familiar. .. Esta semana eu voltei a conversar com outra amiga de infância através do Facebook e também enviei o tal email do qual já falei. Além disso, houve uma grande reunião no Brasil, do pessoal da família da minha mãe, na qual 77 parentes meus participaram. Embora eu não estivesse lá, me senti parte da festa devido a todos os comentários postados no Facebook, as fotos compartilhadas e as conversas intermináveis
​​sobre a reunião. Esta semana eu me considerei definitivamente rica, nos termos de Moçambique ...
          Mas não é apenas minha parte brasileira que me faz sentir rica. Fiz alguns bons amigos neste meu país adotivo. Meus 3 filhos vivem aqui, sou casada com um americano e, apesar de às vezes sentir que meus pés ainda estão firmemente plantados no outro lado do oceano, criei laços fortes com os EUA. Interessante que quando deixei o meu país, há 26 anos, eu era a única pessoa na minha família que foi morar no exterior. Hoje em dia, tenho primos ou sobrinhos no Canadá, Alemanha e Áustria. Nos EUA, há pessoas da minha família no Leste e Oeste. Um dia, estaremos espalhados por todo o mundo. Com a internet conectando-nos, ainda podemos manter nossos laços e comemorar as coisas importantes que acontecem para cada um de nós, mesmo de lugares distantes.
           Os laços que formamos com a família e amigos são indestrutíveis. É verdade que algumas pessoas vêm e vão, e que às vezes nos sentimos mais ligados a uma do que a outra. No entanto, sabemos que podemos contar com nossos verdadeiros amigos sempre que precisamos. Podemos estar em um país longínquo ou morando a apenas alguns minutos uns dos outros. Em nosso coração, eles estão sempre presentes, enriquecendo-nos e abençoando-nos, mesmo quando todo o resto está caindo aos pedaços.

Friday, November 4, 2011

Memories and Desires (Lembranças e desejos)

What if every day you were to wake up not knowing who you were? What if you thought the man in bed with you, who said he was your husband, looked like a complete stranger and only scared you? What if you imagined (or not just imagined) that the past he described to you was filled with lies? Who could you trust to tell you the truth? Could you trust even yourself to discern what was real from what was not?
I just finished reading a fascinating book, “Before I go to sleep”, from the English writer S.J. Watson, in which he describes the life of a woman who, in her 20’s, loses her memory. When the book starts, she is in her 40’s but thinks of herself as being 20 years old and has no recollection of her past. Every day, she needs to look at the mirror, where her husband sticks some notes with a few facts and pictures, to make a little sense of the world. Every day, she asks him the same questions. She retains the answers while she is awake. Then she goes to sleep and forgets.
The premise of the book is very intriguing and the questions it rises very disturbing.  How can one person survive in a world where she is totally fragile and dependent upon other people’s memories? From the day we are born, we start accumulating memories. Memories give us a sense of security. We can rely on the knowledge acquired in our past to make decisions about the present and the future. Without these memories, we would be like a child uncertain of how to act, what to think.
With age, many people start to forget things, forget their memories. Making decisions becomes very difficult. The world turns into a confusing and frightening place, where one finds herself without a reference, a compass to guide her hesitant steps.
Daily, we tell stories to ourselves. We remind ourselves of what we are, we make lists, we call friends who we know from our past, or we build new friendships adding new material to our memories. Our past is intertwined with our present and future. During the day, we think about what we did the day before and what we will do the next.  Our memory is at work the whole time but we don’t pay attention to it. It is like our liver: we don’t think about it until it fails.
Lately, I have realized the importance of telling myself a good story, creating good memories. When I am very old, I want to look back and remember a lot of good things. Of course, I can’t erase the bad ones. But I am working hard (and believe me, it is a conscious act of work) on concentrating on the good and letting go of the bad. I am hopeful the memory of happiness will, somehow, be impregnated in my soul and won’t ever leave me.

LEMBRANÇAS E DESEJOS
 
E se todos os dias você acordasse sem saber quem era? E se o homem ao seu lado, na cama, dizendo que era seu marido, parecesse um completo estranho que lhe desse medo? E se você imaginasse (ou não apenas imaginasse) que o passado descrito por ele era tudo uma mentira? Em quem você poderia confiar para lhe dizer a verdade? Poderia confiar em si mesma, para discernir o real do que imaginário?
             Acabei de ler um livro fascinante, "Antes de adormecer", do escritor Inglês SJ Watson, no qual ele descreve a vida de uma mulher que perde a memória quando tem uns 20 anos. Quando o livro começa, ela tem uns 40 anos mas acha que ainda está com uns 20 e não se lembra nada do passado. Todos os dias, ela precisa olhar no espelho, onde seu marido deixa notinhas com alguns fatos e fotos, para tentar entender um pouco do seu mundo. Todos os dias, ela lhe faz as mesmas perguntas. Ela retém as respostas enquanto está acordada. Então, vai dormir e esquece tudo.
           Achei o tema do livro muito interessante e as ideias discutidas nele muito perturbadoras. Como alguém poderia sobreviver num mundo sentindo-se totalmente frágil e dependendo das memórias dos outros? Desde que nascemos, começamos a acumular lembranças. Memórias nos dão segurança. Podemos confiar nos conhecimentos adquiridos no passado para tomar decisões sobre o presente eo futuro. Sem as memórias, seríamos como uma criança incerta a respeito de como agir, o que pensar.
           Com a idade, muitos idosos começam a esquecer coisas, perder a memória. As decisões tornam-se muito difíceis de se tomar. O mundo se transforma num lugar confuso e assustador, onde a pessoa encontra-se sem um referencial, uma bússola para guiar seus passos hesitantes.
          Diariamente, contamos histórias para nós mesmas. Nós nos lembramos do que somos, fazemos listas, telefonamos para amigos que já conhecemos, ou começamos novas amizades adicionando material às nossas memórias. Nosso passado está entrelaçado com o nosso presente e futuro. Durante o dia, pensamos sobre o que fizemos no dia anterior e no que faremos no dia seguinte. Nossa memória trabalha o tempo todo, mas nós não prestamos atenção a ela. É como nosso fígado: não nos preocupamos com ele até ele falhar.
           Ultimamente, tenho percebido a importância de criar uma história interessante de vida, acumular boas lembranças. Quando eu for bem velha, quero olhar para o passado e lembrar de um monte de coisas boas. Claro, não posso apagar as ruins. Mas estou fazendo um esforço (e acreditem, é um esforço consciente e difícil) de me concentrar nas coias boas e deixar as ruins de lado. Tenho esperança de que a memória da felicidade de alguma forma ser impregne na minha alma e nunca a deixe...

Friday, October 21, 2011

Bocaiuva Ice Cream (Sorvete de bocaiuva)

Many times I think I won’t write ever again. And then, out of nowhere, comes the inspiration. One smell, one sound, one thought, one desire… Like an old lover, who knows so easily how to lure us to his arms, one small thing is enough to bring me back to my old passion: writing.

For the last two weeks, I have this craving for bocaiuva ice cream. I keep thinking about how delicious the ice cream tastes and how wonderful it was when I used to have it as a kid. Growing up in Brazil in a small town on the border with Bolivia, in the early evenings when the weather was hot (which was about 99% of the time) we used to pile in my father’s car, usually an old pick up or a VW wagon, and go out to get the ice cream. The fat lady (Oh, we were so politically incorrect at that time!) had an ice cream store on Frei Mariano street, right in front the Praça da Independência, or The Garden as we knew the park. We drove there, got our ice cream, climbed in the car again and started our slow drive down the Frei Mariano street, making a  left on the Avenida to drive until the end of it, and from there to where my father’s imagination would take him. In the days that he was more inspired to drive, we would go all the way to the Old train station or to Ladario. The windows of the car would be open. A warm breeze would threaten to melt our ice cream if we didn’t finish it fast, but we enjoyed it slowly as we enjoyed the drive through town, listening to my parents’ conversation and just admiring the landscape. 

The Frei Mariano was filled with activity. In the coffee shops, men caught up on the news, some  just standing outside, smoking and gossiping with friends. The Avenida, with its elegant palm trees on both sides, provided a beautiful view of the Paraguay River, on the right. The streets leading to it had many historic houses, painted in bright colors, that attracted our attention less than the kids running around, the dogs, and the chickens loose on the streets, which we always saw when we drove towards the old train station. We took in all of these sights slowly, enjoying them without hurry like we enjoyed our ice cream. My father drove slowly.  We didn’t have a TV and there was no hurry to go back home to watch a soap opera. Internet was something that we couldn’t even imagine. We had time.

Last week, I had to buy something in a hurry and went to a Walmart store in a neighborhood where I usually don’t go. It turned out that it was a Super Walmart so big, that I was afraid I would get lost in there. One minute there and I asked my husband if we could leave. I just couldn’t bear to stay in the store that stretched forever, crowded with a multitude of people who were probably dazed by the number of choices  they were forced to make. Why so many choices? Why have we always thought more was better?

I guess it was after that quick visit to WalMart that I started craving  bocaiuva ice cream. Thinking back, there weren’t many flavors in the store where we got it. But we didn’t need many. We needed only one ice cream made with love, not a thousand products shipped all the way from China without love but, of course, inexpensive. We needed the comfort of the quiet conversation of our parents, the warm feeling of the wind on our faces, the sight of the people on the streets, always talking with each other, and the sensation of security. That was home. That was where our hearts belonged
.
SORVETE DE BOCAIUVA 

Muitas vezes acho que não vou mais escrever. De repente,  como que do nada, vem a inspiração. Um cheiro, um som, um pensamento, um desejo ... Como um velho amante, que sabe tão facilmente nos atrair para seus braços, uma coisinha qualquer é suficiente para me levar de volta a minha antiga paixão: escrever.

          Há duas semanas ando com vontade de tomar sorvete de bocaiuva. Fico lembrando do gosto delicioso dele e de como era maravilhoso quando eu era criança e a gente ia tomá-lo. Naquela cidadezinha do Brasil, na fronteira com a Bolívia, quando a noite caía e fazia calor (o que acontecia mais ou menos  99% do tempo) nós costumávamos nos empilhar no carro do meu pai, uma Pickup ou uma Kombi, e sair para tomar sorvete. A gorda (Ah, nós éramos tão politicamente incorretas naquela época!) tinha uma sorveteria na rua Frei Mariano, em frente da Praça da Independência, o Jardim, como chamávamos a praça. Íamos de carro até lá, comprávamos o sorvete, entrávamos novamente no carro e começávamos nosso passeio descendo a rua Frei Mariano, virando a esquerda na Avenida, indo até o final dela, e de lá para onde a imaginação de meu pai nos levasse . Nos dias que ele estava mais inspirado para dirigir, íamos até a antiga estação ferroviária ou para Ladário. Com as janelas do carro abertas, o ar quente ameaçava derreter nossos sorvetes se não o tomássemos rápido, mas mesmo assim nós o saboreávamos lentamente enquanto curtíamos o passeio pela cidade, ouvindo a conversa dos meus pais e admirando a paisagem.

        A Frei Mariano tinha muito movimento. Nos cafés, os homens se inteiravam das últimas notícias, alguns deles parados na calçada, fumando e fofocando com os amigos. Da Avenida, com suas palmeiras elegantes nos dois lados, tínhamos uma bela vista do rio Paraguai, à direita. Nas transversais, havia muitas casas históricas, pintadas em cores fortes,  mas elas não atraíam tanto nossa atenção quanto as crianças correndo, os cães e as galinhas soltas nas ruas, que sempre víamos quando passávamos pelos lados da antiga estação ferroviária. Olhávamos tudo isso sem pressa enquanto saboreávamos nosso sorvete. Meu pai dirigia lentamente. Nós não tínhamos TV e não havia necessidade de voltar para casa para assistir novelas. Internet era algo que não podíamos nem imaginar que existiria um dia. Tínhamos tempo.

        Na semana passada, eu precisava comprar uma coisa e fui correndo a uma Walmart num bairro onde não costumo ir. Descobri que era uma “Super Walmart” tão grande, que fiquei com medo de me perder lá dentro. Depois de um minuto lá, perguntei ao meu marido se podíamos ir embora. Eu simplesmente não aguentava ficar naquela loja imensa, lotada de gente que provavelmente estava atordoada pelas escolhas que era forçada a fazer. Para que tantas opções? De onde tiramos essa noção de que mais é melhor?

      Acho que foi depois dessa visita
relâmpago ao Walmart que comecei a ficar com saudades do sorvete de bocaiuva. Não havia muitos sabores diferentes na sorveteria onde íamos. Mas não precisávamos de muitos. Precisávamos apenas de um sorvete feito com amor, não de mil produtos enviados lá de longe, da China, sem amor, é claro, mas muito baratos. Precisávamos do conforto da conversa calma de nossos pais, da carícia do vento quente nos nossos rostos, de ver as pessoas nas ruas, conversando à toa, e da sensação de segurança. Nós nos sentíamos como que em casa. No lugar onde nosso coração se encontrava.

Monday, October 3, 2011

The image of ourselves (A imagem de nós mesmas)

The Private Life of a Public Woman, Houghton Mifflin Harcourt
I like to think of myself as a person who exercises. For many years, I did yoga, swam, walked, and tried many different forms of exercise. In the last year, I have been to the gym only once or twice. But I keep paying for membership as religiously as if I went every day. If I didn’t pay, it would be an admission that I am not exercising. And I like to think of myself as a person who exercises, especially as a person who practices yoga.
My sister sent me this appalling picture which I presumed was from an ad against anorexia, showing a woman who faces the mirror and sees herself totally different from what she really is. After looking at that, I started to ponder the reasons that lead us to create a distorted perception of ourselves and even spend money (like I do with the gym) just to maintain the fake perception.
Why is it so important to live up to the images we create of ourselves and to try to conform to the way other people perceive us?  We are always terrified of what other people will think about ourselves. What if we disappoint them by doing something different from what is expected of us, even though that is exactly what we want to do?
I have a wonderful friend with whom I would like very much to be friends on Facebook©. But he is not there. I suspect that he doesn’t want people to know he is gay and see pictures of him with his male friends. He needs to hide his true identity because he is afraid of destroying his image. As a consequence, he can’t enjoy the innocent hobby of millions of people who share pictures and talk nonsense over the Internet.
Recently, I was looking at an excerpt of Jane Fonda’s biography, “The private life of a public woman”, which I intend to read because I find her a fascinating woman. In the book, she talks about her accomplishments as an actress, fitness guru, entrepreneur, philanthropist and political activist, and also about her need to please every man with whom she was romantically involved. With the film director Roger Vadim, she became a sex kitten. Married to the radical Tom Hayden, she became a political activist. Later, she was the trophy wife of the billionaire Ted Turner. This woman, who had so much to offer on her own (by the way, she was anorexic for many years), kept changing her personality like a chameleon, in a fruitless attempt to please, in fact, Henry Fonda, the famous and distant father who never paid attention to her.
Why do we need to fulfill the expectations of others and to build unrealistic expectations for ourselves? Maybe it is because the images we create are more glamorous, more sophisticated than what we really are. However, while we pretend that we are someone else, we fail to meet the person we are in our heart and who could become our best friend.  Someone who doesn’t criticize, who doesn’t set high expectations, who doesn’t get disappointed on us, and who won’t fail us even when everybody else does.
  A IMAGEM DE NÓS MESMAS
Gosto de pensar em mim mesma como uma pessoa que se exercita. Durante muitos anos, fiz ioga, nadei, caminhei, e tentei fazer várias formas diferentes de ginástica. No ano passado, fui à academia no máximo duas vezes mas continuei pagando- a religiosamente, como se a frequentasse todos os dias. Não pagar seria uma admissão de que não estava fazendo exercício. E eu gosto de pensar em mim mesma como uma pessoa que se exercita, especialmente como uma pessoa que pratica ioga.
Minha irmã me enviou uma foto chocante que parecia ser de uma campanha contra anorexia e mostrava uma mulher em frente ao espelho, vendo uma imagem totalmente diferente do que ela realmente era. Depois de olhar aquela foto, comecei a refletir sobre as razões que nos levam a criar uma percepção distorcida de nós mesmas e até gastar uma grana (como faço com a academia) só para manter essa falsa percepção.
Por que é tão importante viver de acordo com a imagem que criamos de nós mesmas e tentar nos adaptar à forma como outras pessoas nos vêem? Temos medo do que os outros vão pensar a nosso respeito. E se os decepcionarmos fazendo algo diferente do que é esperado de nós, mesmo que seja exatamente o que queremos fazer?
Eu tenho um amigo maravilhoso e gostaria muito de convidá-lo para ser meu amigo também no Facebook ©. Mas ele não está no Face. Acho que não quer que as pessoas saibam que ele é gay e vejam suas fotos com amigos do sexo masculino. Ele esconde sua verdadeira identidade para preservar sua imagem. Como resultado, não pode se dedicar ao passatempo inocente de milhões de pessoas que compartilham fotos e discutem besteiras na Internet.
Recentemente, eu estava dando uma olhada num trecho da biografia de Jane Fonda, "A vida privada de uma mulher pública", que pretendo ler porque a acho uma mulher fascinante. No livro, ela fala sobre seu sucesso como atriz, dona de academia, empresária, campeã de causas caridosas e ativista política, e também sobre sua necessidade de agradar a todos os homens com quem se envolveu romanticamente. Com o cineasta Roger Vadim, ela foi um objeto sexual. Casada com o radical Tom Hayden, tornou-se ativista política. Mais tarde, foi a esposa troféu do bilionário Ted Turner. Essa mulher, que tinha tanto a oferecer por si mesma (por falar nisso, ela foi anorética por muitos anos), mudava de personalidade como um camaleão numa tentativa inútil de agradar ao homem famoso e distante que nunca prestou atenção nela: seu pai Henry Fonda.
Por que precisamos cumprir as expectativas dos outros e criar expectativas irreais para nós mesmas? Talvez seja porque as imagens que inventamos são mais interessantes, mais sofisticadas do que somos na realidade. No entanto, enquanto fingimos ser outra pessoa, deixamos de lado a pessoa que somos no nosso íntimo, e que poderia se tornar nossa melhor amiga. Alguém que não critica, que não alimenta falsas expectativas, que não fica decepcionada conosco, e que não nos deixará na mão, mesmo quando todo mundo deixar.

Monday, September 26, 2011

What we take with us (O que levamos conosco)

My daughter was telling me of this TV show about hoarders who accumulate so much stuff that they can’t walk in their own house. There are people who save just one type of object, like books, while others can’t throw anything away and end up submerged in the mess they create. The American Journal of Psychiatry says that "Compulsive hoarding is most commonly driven by obsession fears of losing important items that the patient believes will be needed later, distorted beliefs about the importance of possessions, excessive acquisition, and exaggerated emotional attachments to possessions."

The conversation with my daughter about hoarding interested me because my mother-in-law is soon going to a retirement home and my husband and I have to deal with all the stuff she has accumulated over her 94 years.  Last week we were helping her sort some of her belongings. She agonized about what to do with each small box, each glass, napkin, table cloth, and so on… The process of reducing an entire house to just a single room seemed very challenging for her and, above all, very emotional.

We, human beings, are strange creatures. We come to this world naked, with nothing and, most of the time, leave it with our clothes on. We know that this is what will happen but the knowledge doesn’t prevent us from accumulating things or from thinking that everything we have can’t be disposed of. We gather stuff and stow it in every possible corner, pack it in drawers, pile it on shelves, and hide it in basements, because we can’t stand the idea of parting with anything. We accumulate so much that, when the time comes for us to be confronted with our mortality, we are at a loss to figure out what really matters and what doesn’t.

It seems that we like to accumulate not only “things” but also years. If someone gets to be 100 years old we celebrate the accomplishment. The pharmaceutical companies work non-stop to find medications to make us live longer. But does anyone really want to live until 100 if it can't be done independently? Reaching 100, and being confined to a room and a bed, does not seem very appealing. 

I think we should concentrate on living fewer years and focus on making the most of the years we live. Why waste time accumulating objects that we can’t take with us instead of building memories that will always belong in our hearts? Why wait to travel to that wonderful city at the top of a hill when we are so old and frail that we can’t climb the steps that take us there anymore? We spend our days burdening ourselves with the things we collect, the guilt we carry, and the regrets for the dreams we fail to accomplish. We forget that, in the end, what we remember will be the laughter, the good moments, the gentleness, the beauty, the friendship and, above all, the love. 




O QUE LEVAMOS CONOSCO

 
Minha filha estava me falando sobre um programa na televisão a respeito dessas pessoas que acumulam tanta coisa que nem podem mais andar em sua própria casa. Tem gente que guarda apenas um tipo de objeto, como livros, enquanto outras não podem jogar nada fora e acabam submersas na bagunça que criam. O American Journal of Psychiatry diz que "armazenamento compulsivo é mais comumente ocasionado por medos obsessivos de perder coisas importantes que o paciente acha que serão necessárias mais tarde, crenças distorcidas sobre a importância de bens, aquisição excessiva e ligações emocionais exageradas com bens materiais."

A conversa com minha filha sobre acumular coisas me interessou porque a minha sogra vai se mudar em breve para uma casa de repouso e meu marido e eu estamos separando as coisas que ela acumulou nos seus 94 anos de vida. Na semana passada, fomos ajudá-la nessa tarefa. Ela levou horas para decidir o que faria com cada caixinha, cada copo, guardanapo, toalha de mesa, e assim por diante ... Ter de pensar em cada objeto da casa e tentar  imaginar se caberá num quarto apenas está sendo muito difícil para ela e, acima de tudo, um processo muito emocional.

Nós, seres humanos, somos criaturas estranhas. Chegamos neste mundo nus, sem nada. Na maioria das vezes, o deixamos apenas com a roupa do corpo. Sabemos que será assim, mas esse conhecimento não nos impede de acumular coisas ou de pensar que nada nosso pode ser jogado fora. Guardamos coisas em todos os cantos possíveis, em gavetas, prateleiras, porões, porque não podemos suportar a ideia de nos separarmos delas. Acumulamos tanto que, quando chega a hora de sermos confrontados com a nossa mortalidade, ficamos perdidos tentando descobrir o que realmente tem importância.

Parece que gostamos de acumular não só "coisas", mas também anos. Se alguém completa 100 anos, comemoramos a data. As empresas farmacêuticas trabalham sem parar pesquisando remédios para prolongar nossa vida. Mas será que realmente queremos viver até os 100 anos, se precisarmos depender de alguém para nos ajudar com tudo? Chegar aos 100 confinado num quarto com uma cama não parece muito interessante.

Às vezes acho que devemos nos concentrar em viver menos tempo, mas aproveitar ao máximo nossos anos de vida. Por que desperdiçar nosso tempo juntando objetos que não podemos levar conosco, em vez de acumular lembranças que estarão sempre em nossos corações? Por que esperar para conhecer aquela cidade maravilhosa no topo de uma colina quando estivermos tão velhos e frágeis que nem conseguimos mais subir os degraus que levam a ela? Passamos nossos dias sobrecarregando-nos com coisas que guardamos, culpas que carregamos, tristeza pelos sonhos que não realizamos. Nos esquecemos de que, no final, o que levaremos será apenas a lembrança das risadas, dos bons momentos, da delicadeza, da beleza, da amizade e, acima de tudo, do amor que vivemos.

Tuesday, September 6, 2011

Travels: The Mount Assisi Gardens and Fallingwater (Viagens: O jardim Mount Assisi e Fallingwater)

In Brazil, when someone can’t stay in one place for a long time, we say that the person has a scarab. This is a reference to an insect like a beetle which is always in motion. When I don’t travel for a long time, I get the scarab fever. I can’t wait to pack and go somewhere, anywhere. Last weekend was going to be a long weekend, with a holiday on Monday, and I couldn’t bear to stay home. But I also didn’t want to follow the crowds and head to the beach. So, my husband and I decided to go west, to the rural side of Pennsylvania, and embarked on a journey that was very interesting.
When people travel they do so for different reasons – work, visit with family, a celebration of some kind, to see some historic or cultural site, relax…. My main motivation for this trip was to be in a beautiful place that would bring tranquility to my soul. Since I believe in destiny and intuition, I knew that if I searched the Internet, I would end up finding the place that was just right for me. I wasn’t surprised when I discovered Mount Assisi Gardens, in Loretto PA, considered the “Unknown Jewel of The Allegheny Mountains."
A long stroll in the gardens definitely brought peace to my soul. A century ago, the formal Sunken Gardens of this Pennsylvania Historical Site were considered to be among the most beautiful in the country. The Franciscans opened the gardens to the public in 1950, restricting the visits to the gardens only. But, from there, one can see the beautiful monastery built originally to be a summer estate for the millionaire Charles M. Schwab, the "Bethlehem Steel Magnet". The estate at that time was known as Immergrun, which in German means "always green."
On the grounds of Mount Assisi one can also visit The Shrine Our Lady of Fatima, built in 1950 and constructed by a Franciscan Friar who recovered from a long illness though his intercession with the Virgin Mary and her Son. The Virgin's appearance at Fatima, in the year 1917, at the Cova de Iria in Portugal, is depicted in the Shrine.
After leaving the peaceful gardens, we headed to our hotel for dinner and to sleep. Next morning, we got up very early and drove to the site of Fallingwater. I had seen countless pictures of the beautiful house, the most famous project, in terms of houses, in the US, designed in 1936 by the architect Frank Lloyd Wright. The architect later designed the Guggenheim Museum of New York, one of the most significant architectural icons of the 20th century which, unfortunately, Wright died without seen complete. For some reason, I never realized that Fallingwater was in Pennsylvania and less than 5 hours away. But destiny was conspiring to take me to peaceful places over the weekend and so we arrive there Sunday morning.
When we were finally escorted by the tour guide through the woods and saw the house for the first time, I was almost speechless. It was much more spectacular than I had ever imagined! The tour guide told us that Frank Lloyd Wright asked the Kaufmanns, a family from Pittsburgh for whom the house was designed as a weekend house and who later donated it to Western Pennsylvania Conservancy, where their favorite spot on their land was located. They indicated a stream with the waterfall, and Wright designed the house to rise above it, rather than face it. “I want you to live with the waterfall, not just look at it, but for it to become an integral part of your lives.” Wright said.
The house is an impressive example of the respect for nature instead of disrespect and destruction. It was constructed of sandstone quarried on the property and built by local craftsmen, mixing right in with its surroundings. There are no curtains on the windows of the house (donated by the Kaufmanns with its original furniture) and the woods seem to penetrate in the interior, while the creek lulls the visitors with the music of its running water. In the spacious living room, Frank Lloyd Wright designed a set of stairs leading to the stream. This way, Kaufmann could sit in his living room to fish or dangle his feet in the water, if he so desired.
Throughout the house, one can see the artwork collected by Mrs. Kauffman, including some original Tiffany’s lamps. But what struck me the most about the place was its simplicity. The swimming pool has spring-fed water, untreated to maintain the health of the stream. For the cars, Wright designed a carport thinking that this way there would be no accumulation of clutter, like in garages. Everything was designed with the idea of not letting people spoil the beauty of nature and, by contrast, be part of it.
We left the house with the impression that we had seen the work of a visionary. A man who died at the age of 92, after having designed some of the most impressive architectural work in the world, and who once said: "If you foolishly ignore beauty, you'll soon find yourself without it. Your life will be impoverished. But if you wisely invest in beauty, it will remain with you all the days of your life."
·         There are no photos allowed inside Fallingwater. To see more about the site or book a tour, go to http://www.fallingwater.org/

VIAGENS: O JARDIM MOUNT ASSISI E FALLINGWATER

No Brasil, quando alguém não consegue ficar parado dizemos que a pessoa tem bicho carpinteiro, uma referência a um inseto tipo besouro que está sempre se mexendo. Quando não viajo por um tempo, parece que tenho bicho carpinteiro. Fico louca para fazer as malas e ir para algum lugar, qualquer lugar. O último fim de semana ia ser comprido, com um feriado na segunda-feira, e eu não estava satisfeita com a ideia de ficar em casa. Também não queria fazer como todo mundo que vai para a praia nessa época. Por isso, eu e meu marido decidimos ir para o oeste, o lado rural da Pensilvânia, e assim começamos uma viagem que acabou sendo muito interessante.

Quando as pessoas viajam o fazem por razões variadas: vão a trabalho, visitar a família, para alguma festividade, ver algum local histórico ou cultural, relaxar .... Minha principal motivação nessa viagem era passear em algum lugar bonito que trouxesse tranquilidade para minha alma. Como acredito em destino e intuição, sabia que se procurasse na internet acabaria encontrando o lugar certo para mim. Não fiquei surpresa quando descobri Mount Assisi Gardens, em Loretto PA, um jardim considerado "o tesouro escondido das Montanhas Allegheny".

Um longo passeio nos jardins definitivamente me deixou em paz. Há um século, esses jardins eram considerados como uns dos mais bonitos do país. Os monges franciscanos os abriram ao público em 1950, restringindo as visitas apenas aos jardins. Mas, de lá, dá para ver o lindo mosteiro, construído originalmente para ser a casa de verão do milionário Charles M. Schwab, o "Magnata de Aço de Bethlehem". Naquela época, a propriedade era conhecida como Immergrun, que em alemão significa "sempre verde".

Nos jardins também pode se visitar a capela de Nossa Senhora de Fátima, construída em 1950 por um frade franciscano que se recuperou de uma longa doença, depois de ter intercedido junto à Virgem Maria e seu Filho. A Aparição da Virgem de Fátima, no ano de 1917, na Cova da Iria em Portugal, é retratada na capela.

Depois de deixar o tranquilo jardim, fomos para o hotel para jantar e dormir. De manhã, nos levantamos bem cedo e viajamos até Fallingwater. Eu já tinha visto inúmeras fotos da lindíssima casa, que é o projecto de arquitetura mais famoso dos EUA, em termos de casas, e foi projetada em 1936 pelo arquiteto Frank Lloyd Wright. Anos mais tarde, o arquiteto iria projetar o Museu Guggenheim de Nova York, um dos ícones arquitetônicos mais significativos do século 20 que, infelizmente, Wright morreu sem ver concluído. Por alguma razão, nunca tinha me dado conta de que Fallingwater ficava na Pensilvânia,  a menos de 5 horas da minha casa. Mas o destino estava conspirando para nos levar a lugares calmos no fim de semana e assim chegamos lá no domingo de manhã.

Quando a guia turística finalmente atravessou a floresta conosco e vi a casa pela primeira vez, quase fiquei sem palavras. Fallingwater era muito mais espetacular do que eu jamais havia imaginado! A guia nos contou que Frank Lloyd Wright havia perguntado aos Kaufmanns - um casal de Pittsburgh para quem a casa foi projetada como uma residência de fim de semana e que mais tarde a doou a Western Pennsylvania Conservancy - onde era seu lugar favorito. O casal mostrou o riacho com a cachoeira.Wright desenhou a casa em cima da cachoeira, em vez de na frente dela. "Quero que vocês vivam com a cachoeira, e não apenas a olhem, para que ela se torne parte integrante de suas vidas." Wright disse.

A casa é um exemplo fantástico de como a natureza pode ser respeitada em vez de destruída. Foi construída por artesãos locais, usando arenito extraído na propriedade, e se mistura muito bem com seus arredores. Não há cortinas nas janelas da casa (doada pelos Kaufmanns com o mobiliário original) e a floresta parece penetrar no interior, enquanto o riacho embala os visitantes com o som da água corrente. Na espaçosa sala de estar, Frank Lloyd Wright projetou uma escada que desce até o córrego. Assim, Kaufmann podia sentar-se na sala de estar para pescar ou molhar os pés no riacho, se quisesse.

Em todos os cômodos da casa, há obras de arte colecionadas pela Sra. Kauffman, incluindo algumas lâmpadas originais de Tiffany. Mas o que mais impressiona é a a simplicidade do lugar. A piscina é de água natural, sem ser tratada, para manter a pureza do riacho. Para os carros, Wright desenhou uma garagem aberta, para evitar o acúmulo de coisas inúteis, comum em garagens fechadas. Tudo foi concebido com a ideia de não deixar as pessoas violarem a beleza da natureza e, ao contrário, fazer parte dela.

Saímos da casa com a impressão de ter visto o trabalho de um homem visionário. Um homem que morreu aos 92 anos de idade, depois de ter criado algumas das obras mais impressionantes da arquitetura do mundo, e que uma vez disse: "Se você ignorar a beleza, em breve se verá sem ela. Sua vida será empobrecida. Mas se investir sabiamente na beleza, ela permanecerá com você todos os dias da sua vida. "

• Não é permitido tirar fotos no interior de Fallingwater. Para ler mais a respeito do lugar ou reservar um passeio, acesse http://www.fallingwater.org/

Photos: Bernadete Piassa

Monday, August 22, 2011

Love is Synthesis (O amor é síntese)

Photo: Aleksandr Kutsayev
I started (and almost finished) writing a blog about the differences between poor and rich countries, in which I discussed how we can live in a world with so many contradictory realities. But suddenly I realized that I didn’t care about the nations and all their ambiguities. This week, there is just one thing that I can think about: my eldest daughter is getting married!

I am still trying to figure out how she went so fast from a fragile baby in my arms to a woman, ready to start a new life with the man she chose. But, somehow, time flew and now that her big moment is almost here, I am worrying about many different things: Is the wedding going to turn out the way my daughter and her fiancé planned? Am I going to make a fool of myself and cry during the entire ceremony? Is it going to rain? Is my other daughter going to give a nice talk about the bride and the groom? But, most of all, I wonder: is my older daughter going to have a happy marriage? Like all mothers, I wish so much that I could erase all problems from her life, leaving room only for happiness. However, I know that we all face problems and that, in fact, they help us to grow. So, I just hope she has the strength to overcome all the many obstacles and keep living, moving forward always toward her dreams.

As the wedding day approaches, my heart is full of memories, of emotions, of dreams. I hope my daughter finds what she is looking for in the decent, smart man she has chosen to marry. I hope they will soon have children to treasure. I hope that their love can overcome any obstacles and that they remain friends forever.  What else can a mother wish for? Life is so filled with uncertainties. Because of that, I also wish that, whatever difficulties they face in their married life, they face it holding hands. Then, one day when they are very old, they can look at each other and remark that their boat was able to withstand a lot of storms and stay on course.
I wish that my daughter and her husband- understand that love is not perfect. It requires work, requires thinking as a single unit, not an individual, and that, as the Brazilian poet Mario Quintana so well wrote in a poem, Love is Synthesis:

“Please do not analyze me
Do not be in the lookout for every weakness of mine.
If no one can resist a deep analysis,
Neither can I ...

Jealous, demanding, insecure, needy
All full of marks that life left
I see in every demanding cry
A request for a grace period, a call for love.

Love is synthesis
It is a data integration
There is no need to take apart or put together
No need to cut into slices
No one can hug just a piece

Wrap me all in your arms
And I'll be the perfect love.”

O AMOR É SÍNTESE 

Comecei (e quase acabei) de escrever um blog sobre as diferenças entre os países pobres e ricos, discutindo como podemos viver num mundo com tantas realidades contraditórias. Mas, de repente, percebi que não me importava com a situação dos países e todas as suas ambiguidades. Esta semana, apenas uma coisa me interessa: minha filha mais velha vai se casar!

Ainda estou tentando descobrir como ela passou tão rápido de um frágil bebê nos meus braços a uma mulher, pronta para começar uma nova vida com o homem que escolheu. De alguma maneira, o tempo voou e agora que o seu grande momento está quase aqui, me preocupo com várias coisas: será que o casamento vai se realizar do jeito que minha filha e seu noivo planejaram? Vou dar uma de idiota e chorar durante a cerimônia inteira? Será que vai chover? Será que minha outra filha fará um discurso bonito sobre a noiva e o noivo? Mas, acima de tudo, eu me pergunto: será que minha filha mais velha será feliz no casamento? Como todas as mães, eu só queria poder apagar todos os problemas da vida dela, deixando espaço apenas para a felicidade. No entanto, sei que todos enfrentamos problemas e que, na verdade, eles nos ajudam a crescer. Então, só espero que ela tenha forças para superar seus impasses e continuar vivendo, avançando sempre em direção a seus sonhos.

Com a aproximação do dia do casamento, meu coração está cheio de lembranças, de emoções, de sonhos. Espero que minha filha ache o que está procurando no homem decente e inteligente que ela escolheu para se casar. Espero que em breve eles tenham filhos para amar. Espero que o amor deles possa superar qualquer obstáculo e que eles continuem sempre amigos. O que mais posso desejar como mãe? Sei que a vida é cheia de incertezas. Por isso, também desejo que, qualquer dificuldade que eles enfrentem na sua vida de casados, enfrentem de mãos dadas. Assim, um dia, quando estiverem bem velhos, poderão olhar um para o outro e constatar que seu barco venceu muitas tempestades sem sair da rota.

Eu gostaria que minha filha e seu futuro marido entendessem que o amor não é perfeito. Que o amor exige trabalho, exige que se pense como um casal. E que, como o poeta brasileiro Mario Quintana tão bem escreveu em um poema, amor é síntese:
Photo: Sharron Goodyear

"Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...

Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço.

Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.”

Friday, August 12, 2011

Neglected people (As pessoas abandonadas)

Photo: Kenneth Cratty
     Over the last few weeks, when I go to the Spiritist Center I give a ride to a Colombian lady. On Monday, when I stopped my car and waited for her to go down the few steps in front of her house, I noticed that she was limping. Later, she told me she had fallen the evening before and had hurt herself very badly. She showed me the bruises on her two arms, on her legs, and confessed that her shoulder was hurting so much that she was afraid she had dislocated it. Had she gone to see a doctor? I wanted to know. No, she didn’t have health insurance, she told me.

     I was left almost speechless and could only sympathize with her predicament, by expressing my indignation about the healthcare services in this country. For the last 6 years the lady has been working in a bank, cleaning it. The bank sub-contracts the cleaning service to a company that doesn’t provide health insurance benefits to its employees. She can’t afford to pay $250 a month for a semi-decent health insurance. As a result, she is left with no insurance. If she went to an emergency room after her fall, in all likelihood she would end up with a bill for services amounting to about $10,000.

     Today, I had lunch with the fiancée of my daughter, who is a doctor, and asked him what someone could have done in that situation. Nothing, he told me. People who are really poor can apply for government insurance through Medicaid, but they need to be really, really poor. Someone who works in a McDonald from 9am to 5pm probably would not qualify because there are too many restrictions. Sometimes it is easier not to work because then you can get free health insurance…

    My mother-in-law is 94 years old and is entitled to get some help from the government since she lives by herself. She applied and was told that she could have a health aide come to see her three times a week to help her with her personal hygiene and some chores around the house.  But, since there are so many people waiting for these services and the government has no money, she needs to wait until her name gets to the top of the waiting list. The service center can’t say how long she has to wait. It might be months, or years… So, in fact, there is no help at all…

     How did it happen that in one of the most developed countries in the world people were left without any health insurance from the government and the same government discourages people from working so they can receive free services? I think about other countries like Canada, France, and even Brazil, where there might be long lines for services, but one can still receive free treatment. I wonder how the US could so utterly fail the hard-working people, both immigrants and American citizens, who live here, work hard, and contribute their sweat to make this country a better one.

     While the Congressmen in Washington allocate money for wars outside the US, inside the country, there is a helpless war against poverty. I wonder how they would feel if they had to live, just for one day, the life of the Colombian lady: waking up at 5am, boarding a train by 6am, arriving at work 1h40minutes later, and in the early evening coming home exhausted. The lady told me that she reads on the train, to educate herself. I am sure the Congressmen could use a ride in the train to educate themselves as well and to figure out how real people, their constituents, feel.

AS PESSOAS ABANDONADAS

Nas últimas semanas, tenho dado carona para uma senhora colombiana quando vou ao Centro Espírita. Na segunda-feira, quando parei o carro e esperei que ela descesse alguns degraus em frente de sua casa, reparei que ela mancava. Mais tarde, ela contou que na noite anterior tinha caído e se machucado bastante. Mostrou-me os hematomas nos dois braços, nas pernas, e confessou que seu ombro doía tanto que estava com medo que tê-lo deslocado. Perguntei se havia ido ao médico. Ela me disse que não, pois não tinha seguro de saúde.

      Fiquei meio sem saber o que dizer e só pude simpatizar com sua situação, expressando minha indignação com o sistema de saúde deste país. Já fazem seis anos que essa senhora trabalha num banco, limpando-o. O banco terceiriza o serviço de limpeza para uma empresa que não fornece seguro de saúde para os empregados. A senhora não pode se dar ao luxo de pagar $250 por mês por um seguro de saúde mais ou menos decente. O resultado é que não tem seguro. Se fosse para um pronto-socorro depois de ter caído, com toda certeza teria acabado pagando uns $10.000.

      Hoje, almocei com o noivo da minha filha, que é médico, e lhe perguntei o que alguém poderia ter feito naquela situação. Nada, ele me disse. As pessoas que são realmente pobres podem solicitar seguro de saúde pelo governo. Mas, para serem aceitas, precisam ser muito, muito pobres. Alguém que trabalha num McDonald das nove da manhã às cinco da tarde, provavelmente não se qualificaria, porque há muitas restrições. Às vezes é mais fácil não trabalhar porque então a pessoa pode obter seguro de saúde gratuito ...

      A minha sogra tem 94 anos e teoricamente pode receber ajuda do governo já que vive sozinha. Ela se inscreveu e se qualificou para um serviço pelo qual uma ajudante de enfermeira iria até à casa dela três vezes por semana para ajudá-la com sua higiene pessoal e alguns serviços de casa. Mas, como muitas pessoas estão à espera desses serviços e o governo não tem dinheiro, ela precisa esperar até que seu nome chegue ao topo da lista de espera. O centro de assistência social não sabe quanto tempo ela terá que esperar. Pode ser meses, ou anos ... Então, na verdade, não há nenhuma ajuda do governo...

      Como pode um dos países mais desenvolvidos do mundo não ter seguro de saúde para todos, oferecido pelo governo, e por que esse mesmo governo quase que desencoraja as pessoas a trabalharem porque assim recebem serviços gratuitos? Em outros países como Canadá, França, e até mesmo Brasil, há longas filas para serviços de saúde, mas pode-se receber tratamento gratuito. Como os EUA podem ter abandonado totalmente esse povo trabalhador, constituído tanto por imigrantes quanto por cidadãos americanos, que vivem aqui, trabalham duro, e contribuem com seu suor para fazer deste país um país melhor?

      Enquanto os deputados e senadores de Washington alocam recursos para guerras no exterior, no seu próprio país estão perdendo a guerra contra a pobreza. Eu me pergunto como eles se sentiriam se tivessem de viver, apenas por um dia, a vida da senhora colombiana: acordando às 5 da manhã, pegando um trem às seis horas, chegando 1h e 40 minutos depois no trabalho, e voltando para casa exaustos já de noite. A senhora me disse que lê no trem, para se educar. Acho que os deputados e os senadores poderiam usar um tempo num trem para se educar também e  descobrir como os
cidadãos de verdade se sentem.

Wednesday, August 3, 2011

Brazilians vs. Laziness (Os brasileiros e a preguiça)

Two weeks ago, my house was filled with the sounds of hymns. There were two Brazilian men painting my living-room. As they worked,  I heard them discussing women, cars, life in the US, what was going on in the Brazilian community and, more specifically, in the Universal Church. From time to time, one of them would start a religious song. It made me wonder about these two young men who had such faith they felt the need to praise the Lord while working.

On the days they were painting my house, they arrived at 8am, stopped less than ½ hour to eat lunch, and left around 6pm or later.  I thought about the reputation Brazilian people have of being lazy and concluded that this could not be farther from the truth: these guys worked extremely hard . And they aren’t an exception. Almost all Brazilians I meet in the US work very hard. The women clean houses from Monday to Saturday, resting only on Sunday. The men work construction, doing the jobs Americans refuse to do.

Brazilians have the habit of saying bad things about their countrymen.  There are many jokes about the laziness inherent in the people. In 1928, the writer Mário de Andrade wrote the novel “Macunaíma” portraying a hero without a character, who was always too lazy to do anything. The novel became a classic of Brazilian literature.

Somehow, Brazilians seem to be proud of their soccer skills, the beauty of their women, their forests and beaches, but not of the way they work. In Brazil, it seems almost like a sin to praise someone who works hard. It is much more politically correct to make fun of these people and pretend that nobody works. 
After have been living in the US for 26 years, this is one of the mysteries of Brazilian culture I find hard to understand and explain to foreigners. The Americans admire the Brazilian “joie de vivre” but also compliment us on our work ethic. As for us, we prefer to point out that Brazilians talk on the cellular while driving and also drink and drive.  But aren’t Americans famous for that too? I had an American friend who not only drove while holding his cellular, but had a cup of coffee in the other hand as well. Brazilians say that their countrymen don’t respect lines and spread tables on the sidewalks. How about the French who totally ignore the concept of lines and have countless cafés on the sidewalks? They say that Brazilians forge documents. How about that entire town in Romania full of crooks that got rich stealing money over the Internet? So, Brazilians are lazy? How about the Spanish, who take two hour siestas or the Thais, who after lunchtime sleep wherever they are? Funny how we prefer to ignore these facts…

In the same way Brazilian men like to cultivate their reputation of “macho,” it seems that the people in general like to think of themselves as carefree. What is wrong with admitting that we do work hard and being proud of that? I guess this is a question Brazilians will not be able to give me an answer.

OS BRASILEIROS E A PREGUIÇA
 
Há duas semanas, minha casa estava cheia de músicas religiosas. Os dois brasileiros que pintavam minha sala de estar conversavam a respeito de mulheres, carros, a vida nos EUA, as novidades da comunidade brasileira e, mais especificamente, da Igreja Universal. De tempos em tempos, um deles cantava um hino religioso. As músicas me deixaram pensando sobre aqueles dois jovens que tinham tanta fé que sentiam a necessidade de louvar o Senhor durante o horário de trabalho.

Nos dias em que eles estavam pintando a minha casa, chegavam às 8 da manhã, paravam menos de meia hora para almoçar e só iam embora às seis ou mais tarde. Lembrei-me da reputação que o povo brasileiro tem de ser preguiçoso e conclui que isso não podia estar mais longe da verdade: aqueles caras trabalhavam duro. E não eram exceção. Quase todos os brasileiros que encontro aqui nos EUA trabalham muito. As mulheres limpam casa de segunda a sábado, descansando apenas no domingo. Os homens se dedicam à construção, fazendo trabalhos que os americanos se recusam a fazer.

Os brasileiros têm o hábito de falar mal dos seus compatriotas. Há muitas piadas sobre a preguiça inerente dos brasileiros. Em 1928, o escritor Mário de Andrade escreveu o romance "Macunaíma" no qual ele retratava um herói sem caráter, sempre com preguiça de fazer qualquer coisa. O romance se tornou um clássico da literatura brasileira.

Por alguma razão, os brasileiros se orgulham de suas façanhas no futebol, da beleza de suas mulheres, das suas florestas e praias, mas não da forma como o povo trabalha. No Brasil, parece quase um pecado elogiar alguém que trabalha duro. É mais comum caçoar dessas pessoas e fazer de conta que ninguém trabalha.

Depois de ter vivido nos EUA há 26 anos, esse é um dos mistérios da cultura brasileira que acho difícil de entender e explicar aos estrangeiros. Os americanos admiram a alegria de viver dos brasileiros mas  também elogiam nossa ética profissional. Quanto a nós, preferimos ressaltar que os brasileiros falam no celular enquanto dirigem e também bebem e dirigem. Mas os americanos não são famosos por fazerem isso também? Eu tinha um amigo americano que dirigia falando no celular que ele segurava com uma mão, enquanto com a outra equilibrava uma xícara de café. Os brasileiros dizem que seus compatriotas não respeitam filas e espalham mesas nas calçadas. E os franceses que ignoram totalmente o conceito de filas e têm inúmeros cafés nas calçadas? Dizemos que os brasileiros falsificam documentos. Que tal aquela cidade inteira na Romênia cheia de vigaristas que ficam ricos roubando dinheiro pela internete? Ah, os brasileiros são preguiçosos? E os espanhóis, que tiram sonecas de duas horas, ou os tailandeses que também dormem depois do almoço seja lá onde estiverem? Engraçado como preferimos ignorar esses fatos ...

Da mesma forma que os homens brasileiros gostam de cultivar a sua reputação de "macho", parece que o povo brasileiro em geral gosta de cultivar a imagem de alguém que não está nem aí para o trabalho. O que está errado em admitir que fazemos um bom trabalho e ter orgulho disso? Acho que essa é uma pergunta que os brasileiros não serão capazes de me responder.

Photo: Wikimedia Commons, Hammocks in Brazil