Wednesday, July 29, 2009

Reflections (Reflexões)



My cat admires the world and I admire him. He is probably thinking about what he will do next, while I am afraid of what he will do next. You see, last week I had left beans soaking in water overnight and when I got to the kitchen, in the morning, he had put his paws inside the bowl, spread the beans over the counter and drunk some of the water. The same day, he peed in the living room, found some cleaning material and started kicking it around, and hid my daughter’s headband under the refrigerator. Then, he went to sleep in someone’s lap. He doesn’t favor a particular lap. He will take any lap. My cat is very democratic and very affectionate. How can I hate him when he purrs and tries to get closer and closer to me, staring at me with eyes full of love? Of course, I threaten to kill him once a day when he gets into mischief. But he knows that he has a special place in my heart.

I wonder how come sometimes we hate someone but still love that person. Aren’t love and hate supposed to be opposite emotions? I also wonder why we try so hard to understand our emotions, examining them rationally, striving to find an explanation for everything. Why can’t we accept that life is a wild horse that can’t be tamed? Many times I see people – very intelligent people – doing their best to control everything in their life, not leaving any room for improvising, afraid that something might turns up in a way that they didn’t plan. They are so set in their ways that they don’t enjoy the small gifts of life that come unexpectedly. They don’t live for the present but for the future that lays ahead, the future that they planned. How surprised they get when everything turns upside down and the job that they were supposed to get in Honolulu ends up being in New York, or their boss chooses someone more flexible to the position to which they prepared so hard… They thought they were gods, in charge of the universe. Disappointed, they discover that they are, in fact, just human beings.

I try to understand why my cat peed in the living room. I theorize about the cats that had appeared on the deck and probably made him jealous. I call the veterinarian who suggests some possible reasons, not very likely. I look at the Internet for cat behavior. In the end, I am no closer to an answer than I was in the beginning. The cat is an animal, and I can’t understand the psychology of an animal. But can we understand the behavior of other human beings?

I also wonder why it is so much easier for a mother to be closer to a daughter than to a son. With my daughters, I can speak in the same language. With my son, I grasp for meanings that I seldom understand. But, when he reads aloud for me one of the romances that I wrote and I am trying to correct, this moment of intimacy is more precious than any diamond.

Sometimes I wonder why I wonder so much. Maybe I should leave to my cat the job of pondering the world. But I am sure he would rather eat my rug.




REFLEXÕES

Meu gato admira o mundo e eu admiro meu gato. Ele provavelmente pensa no que fará daqui a pouco, enquanto eu tenho medo do que ele fará daqui a pouco. Na semana passada, tinha deixado feijão de molho e, quando cheguei na cozinha de manhã, ele havia colocado as patas dentro da tigela, esparramado o feijão na mesa e bebido um pouco do caldo. No mesmo dia, fez xixi na sala, pegou material de limpeza e começou a chutar pelo chão, e escondeu a fivela de cabelo da minha filha embaixo da geladeira. Depois disso, achou o colo de alguém para dormir. Para ele, qualquer colo dá na mesma. Ele se sente bem em qualquer um. Meu gato é muito democrático e muito carinhoso. Como posso odiá-lo quando ele ronrona e tenta se aproximar de mim cada vez mais, olhando-me com olhos cheios de amor? Evidentemente, eu ameaço matá-lo uma vez por dia quando ele faz essas besteiras. Mas ele sabe que tem um lugar especial no meu coração.

Às vezes me pergunto como é possível odiar e amar, ao mesmo tempo, uma pessoa. O amor e o ódio não são emoções opostas? Pergunto-me também por que tentamos tão arduamente entender as nossas emoções, analisando-as racionalmente, buscando uma explicação para tudo. Por que não aceitamos que a vida é como um cavalo selvagem que não pode ser domado? Muitas vezes vejo pessoas - pessoas muito inteligentes, por sinal – se esforçando ao máximo para controlar tudo na vida, não deixando qualquer espaço para improvisos, com medo de que alguma coisa possa sair dos planos. São pessoas tão rígidas que não apreciam os pequenos presentes que a vida nos traz inesperadamente. Não vivem para o presente, mas para o futuro; o futuro que planejaram. Como se surpreendem quando tudo vira de cabeça para baixo e o trabalho que era para ser em Honolulu acaba sendo em Nova York, ou quando o chefe escolhe alguém mais flexível para o cargo para o qual se prepararam com tanto empenho ... Pensaram que eram deusas, no comando do universo. Decepcionadas, descobrem que são, na verdade, apenas seres humanos.

Tento entender por que meu gato fez xixi na sala. Teorizo a respeito dos gatos que apareceram na varanda e, provavelmente, o deixaram com ciúmes. Ligo para o veterinário, que sugere algumas possíveis razões não muito convincentes. Procuro na internete tudo sobre comportamento de gato. No final, não estou mais perto de uma explicação do que estava antes. O gato é um bicho, e não entendo a psicologia de um animal. Mas será que podemos entender o comportamento de outros seres humanos?

Pergunto-me também por que é muito mais fácil para uma mãe sentir-se mais próxima de uma filha do que de um filho. Com minhas filhas, posso falar na mesma linguagem. Com meu filho, tento adivinhar o que ele diz e é tão difícil de compreender. Mas, quando ele lê em voz alta um dos romances que escrevi e estou tentando corrigir, este momento de intimidade é mais precioso do que qualquer diamante.

Às vezes me pergunto por que faço tantas perguntas. Talvez devesse deixar meu gato refletindo a respeito do mundo. Mas tenho certeza de que ele iria prefirir comer o meu tapete.

2 comments:

  1. Adorei! Morri de saudades dos meus gatos, que menciono naquela crônica que estou preparando.
    É interessante que, minutos antes de ler esta crônica, escrevi uma postagem com uma temática semelhante. Sinal de que estamos realmente sintonizadas.

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  2. Ah o seu gato,depois de sentir a morte rondando,como entendo o seu gato.
    Ultimamente ajo como ele.A opinião dos outros?Deixa pra la.Descobri que não sou deus e não cmando o universo.

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