Tuesday, June 30, 2009

Love And Guns (Amor e Armas)


A few days ago, I read on the Internet that a pastor in Kentucky told his parishioners to bring handguns to church for a service celebrating the right to bear arms, in what he said was an effort to promote safe gun ownership. When the service started, 200 people were there… I have also been reading about Mark Sanford, the governor of South Carolina, who betrayed his wife with an Argentinean. First he confessed his betrayal, afterwards he apologized and cried, while his wife tried to put a brave face. Interestingly, the news about the pastor in Kentucky appeared only one day and didn’t get any attention. But the news about the South Carolina’s governor is still being pursued by the press, avid for more details about the affair. Comparing these two coverages, I come to two conclusions: first, I am glad that I am not a journalist anymore because I am not proud of the way the press behaves nowadays. Second, I can’t understand a country where a private affair becomes state business.

The other day I was talking with a Brazilian whose wife had just had a baby, and he asked me if I thought that it had been wise to move to the US, or if I regretted the fact that my kids had been raised in the US. I didn’t need to think twice to answer that I regretted that they had been raised here. The reason I gave to him was that in Brazil the extended family played a very important role in the children’s lives. Siblings, cousins, aunts, and grandmothers… everybody was very close. While here, the bonds didn’t seem to be so strong. Besides, I would always be Brazilian while my children had become Americans. There was an abyss separating us that was very difficult to bridge.

But it wasn’t just because of the family that I felt that I would like to be living still in Brazil. It was also because of the guns and the extra-marital affairs.

Unfortunately, Brazil is a very violent country with gang wars exploding everywhere. But there is a very strong movement to contain the spread of arms and one would never find a church that would welcome guns inside it. On the other hand, it wouldn’t be very difficult to find a pastor suggesting that his parishioners bring flowers to the church to celebrate peace on earth.

As for the governor, one of the biggest newspapers of Sao Paulo, Folha de Sao Paulo, reported on the subject once, to comment that it was strange that the governor had been out of touch with his staff for a few days, and another time to report that he had admitted to an affair. And that was the end of it. No big deal. Nobody in Brazil would think that the governor’s affair had impacted his ability to govern the state. His affair would be considered something that he would need to discuss only with his wife.

On occasions like these, I find myself pondering my feelings in relation to this country: will I ever understand it? Will this country ever understand people like me? I don’t know if my children who grew up here would support a pastor who welcomed guns and a press that delights on trashing someone’s love life. On the other hand, sometimes I wonder if maybe it is not a matter of being Brazilian or not, but of being able to discern what is right from what is wrong.

AMOR E ARMAS

Há alguns dias, li na Internet que um pastor em Kentucky sugeriu que seus paroquianos trouxessem suas armas à igreja, para uma missa celebrando o direito de portar armas. Segundo ele, isso era parte de uma campanha para fazer com que as pessoas portassem armas com responsabilidade. Quando a missa começou, havia 200 pessoas na igreja ... Também tenho lido sobre Mark Sanford, o governador da Carolina do Sul que traiu a mulher com uma argentina. Primeiro ele confessou a traição, depois pediu desculpas e chorou, enquanto sua esposa tentava fazer de conta que tudo estava bem. Curiosamente, a notícia sobre o pastor em Kentucky apareceu só um dia e não recebeu nenhuma atenção. Mas a notícia sobre o governador da Carolina do Sul continua sendo um prato cheio para a imprensa, ávida por mais detalhes sobre o assunto. Comparando estas duas coberturas jornalísticas, chego a duas conclusões: primeiro, estou feliz por não ser mais jornalista, porque não me orgulho da forma com que a imprensa se comporta atualmente. Segundo, não posso entender um país onde um assunto privado torna-se uma questão de Estado.

Outro dia estava conversando com um brasileiro cuja esposa tinha acabado de ter um bebê, e ele me perguntou se eu achava que tinha sido uma boa coisa mudar para os EUA, ou se lamentava o fato de os meus filhos terem sido criados aqui. Nem precisei pensar duas vezes para responder que arrependia de tê-los criado aqui. Expliquei a ele que no Brasil a família tem um papel muito importante na vida da criança. Irmãos, primos, tias, avós ... todo mundo está muito ligado. Enquanto que aqui, os laços não parecem tão fortes. Além disso, sempre serei brasileira, embora meus filhos tenham se tornado americanos. Um abismo nos separa e esse abismo é muito difícil de atravessar.

Mas não é apenas por causa da família que gostaria de estar ainda no Brasil. É também por causa das armas e dos casos de amor extra-conjugais.

Infelizmente, o Brasil é um país muito violento, com guerras de gangs explodindo por todo lado. Mas há um movimento muito forte para conter a proliferação de armas, e não seria possível achar um pastor que aprovasse o uso de armas na sua igreja. Por outro lado, não seria difícil encontrar um pastor que sugerisse a seus paroquianos para trazerem flores à igreja para celebrar a paz na terra.

Quanto ao governador, a Folha de São Paulo, um dos maiores jornais de São Paulo, tocou no assunto uma vez, estranhando que ele tivesse ficado fora de contato com sua equipe por alguns dias, e numa outra vez, para informar que o governador havia confessado o caso amoroso. Esses foram os únicos comentários. Nada mais. Ninguém no Brasil iria achar que o adultério do governador teria um impacto na sua capacidade de governar o estado. O adultério seria um problema a ser discutido apenas entre ele e a esposa.

Em ocasiões como estas, fico pensando o que sinto por este país: será que um dia irei entendê-lo? Será que este país um dia entenderá as pessoas como eu? Não sei se meus filhos que cresceram aqui iriam ser a favor de um pastor que apoia a proliferação de armas e uma imprensa que se delicia arrasando a vida amorosa de alguém. Por outro lado, às vezes me pergunto se é uma questão de ser brasileiro ou não, ou de ser capaz de discernir o que é certo do que é errado.

Photograph by Bill Eshbach

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