Tuesday, April 26, 2011

In The Region Of Fog (Na região das neblinas)

Last Sunday, I was driving home by myself after having dropped my son off at college. It was past midnight and the roads were deserted. A dense fog covered everything and made me feel as if I were in a magical world. The road meandered through a few small towns but, for the most part, kept to the middle of fields and woods. It was a paradise for deer, foxes, and other animals. I drove slowly to make sure that I didn’t run over any of these animals, hiding in the dense fog. As I drove, I reflected about life.

This was the last time I would make the drive on this road from the college by myself. The next time on this road, I would be coming home with my son and he would be finished with college, ready to start a new phase in his adult life. For me, also, it would be the end of a cycle of many drives we took together talking, arguing, discussing, in silence, and many drives that I returned home by myself, just thinking. I was glad that my son was able to finish school like his two sisters: safe in a world where so many dangers lurk, especially for young adults.

But mostly I was thinking about the resolution that I had made a few weeks ago and that I somehow celebrated in the small restaurant where my husband and I went last week for my birthday. I decided that I will not be searching for marketing research work for the next few months. I will accept and be glad for any work that comes my way, but I will not be actively looking for more. I will survive for these few months living carefully off the money I saved over the last few months, and I will dedicate myself to writing.

I believe that everyone has a reason for coming to this region of fog, which is what the Spiritists call this part of the planet Earth. I always knew that my mission was to write. However, there was always something preventing me from this mission. I did publish short stores and essays, but never concentrated on finishing the novel that means the world to me. Above all, I never considered myself a writer. I kept telling myself that I wasn’t a “true” writer and, certainly, not a good one. What if I did not publish my novel? What if I just bothered people with my writing? There are so many people trying to write...

I wanted a guarantee, something that would assure me: you are investing 8 hours a day in your writing, so you will be rewarded with this amount of money, as if writing was a bureaucratic job done from 9am to 6pm…It took me a long time, but now I realize there are no guaranties in life. Either you trust yourself and have the courage to do what you want, or you don’t and spend the life regretting and complaining for not fulfilling your dreams. The only guarantee we have is that we will die one day and we certainly won’t take with us any riches that we accumulated.

So, I am taking the plunge and leaving the certain for the uncertain. I finally understand that what matters for me is not to have something published (although I would love that) but to be able to touch a few people with my stories. I am translating my novel to Portuguese, hoping that I did not forget my native language. I also hope that there will be at least a few readers curious to read about an old woman, born with a gypsy soul that she inherited from her grandfather, who sits in a rocking chair at the border of the Paraguay River and tells magical stories.



NA REGIÃO DAS NEBLINAS 

Na noite do domingo, voltei de carro para casa sozinha, depois de ter deixado meu filho na faculdade. Já passava de  meia-noite e as estradas estavam desertas. Uma densa neblina cobria tudo à minha volta, me dando a impressão de estar num mundo mágico. A estrada passava entre algumas cidadezinhas, mas, na maior parte do tempo, se esgueirava entre campos e florestas, formando um verdadeiro paraíso para veados, raposas, e outros animais. Eu dirigia lentamente, com medo de atropelar algum bicho escondido no espesso nevoeiro. Enquanto dirigia, pensava sobre a vida.

Essa era a última vez em que eu estava voltando por aquela estrada sozinha, vindo da faculdade. Na próxima vez, meu filho viria comigo para casa, já formado e pronto para iniciar uma nova fase na sua vida de adulto.  Para mim, a viagem marcava o final de um ciclo e eu me lembrava das muitas vezes em que nós tínhamos feito o percurso juntos, batendo papo, discutindo coisas que lemos em algum lugar, brigando, em silêncio, e também das muitas vezes que passei por aquela estrada sozinha, perdida em meus pensamentos. Estava feliz porque finalmente meu filho ia terminar a faculdade, como suas duas irmãs: sem nenhuma tragédia num mundo de tantos perigos, especialmente para os jovens.

Mas, principalmente, pensava sobre a resolução que tinha tomado há algumas semanas e celebrado no pequeno restaurante onde eu e meu marido fomos comemorar o meu aniversário. Eu tinha decidido que, nos próximos meses, não ia procurar trabalho na área de pesquisa de mercado. É claro que ficaria feliz se aparecesse algum trabalho e iria fazê-lo. Mas, basicamente, tentaria sobreviver  alguns meses usando cuidadosamente o dinheiro que tinha economizado e me dedicando a escrever.

Acredito que todos nós temos uma razão para vir a esta região do nevoeiro, como os espíritas chamam esta parte do planeta Terra. Eu sempre soube que minha missão era escrever. No entanto, havia sempre algo me impedindo de fazer isso. Publiquei contos e crônicas, mas nunca me concentrei em terminar o romance que significa tanto para mim. Na verdade, nunca me considerei uma escritora. Sempre disse a mim mesma que eu não era uma escritora “de verdade” e, principalmente, não era uma boa escritora. E se eu não publicasse o romance? E se eu estivesse apenas incomodando as pessoas com minhas histórias? Tem tanta gente querendo ser escritor ...

Eu queria uma garantia, algo que me dissesse: você está investindo 8 horas por dia nas suas histórias. Por isso,  será recompensada com essa quantia X… como se escrever fosse um trabalho burocrático que pudesse ser feito das nove da manhã às seis da tarde ... Levei um tempão para perceber que não há garantias na vida. Ou você confia em si mesma e tem coragem de fazer o que quer, ou não faz e passa a vida reclamando e lamentando por não realizar seus sonhos. A única garantia que temos é que vamos morrer um dia e com certeza não levaremos conosco nenhuma riqueza que acumulamos.

Então, decidi deixar o certo pelo incerto. Finalmente entendi que o que importa para mim não é ter um romance publicado (embora eu adoraria isso, é claro), mas ser capaz de tocar algumas pessoas com o que escrevo. Comecei a traduzir o romance para o português, esperando que não tenha esquecido totalmente minha língua pátria. Espero também encontrar pelo menos alguns leitores curiosos para ler um livro sobre uma mulher idosa, que nasceu com uma alma cigana herdada de seu avô. Sentada numa cadeira de balanço na beira do rio Paraguai, ela narra algumas histórias mágicas…

Photo: William Eshbach

6 comments:

  1. Que lindo Dete!!! e que linda foto. Boa sorte para vc. Eu particularmente sempre gostei dos seus escritos e estou anciosa para ler o livro.

    ReplyDelete
  2. Não sei se vc é uma escritora "de verdade", mas acabo de ler mais um dos seus inúmeros e maravilhosos textos e aguardo ansiosamente pelo livro que antecipadamente sei que vou adorar.

    ReplyDelete
  3. Adorei (post, foto) e estou louca para ler esse livro encantado.
    Good luck!

    ReplyDelete
  4. Boto fé em você como escritora! Aliás, já lhe considero uma escritora "de verdade" e uma ótima escritora! Bj

    ReplyDelete
  5. Se eu sou uma leitora de verdade, então você é uma escritora de verdade. Que bom , poder ler seu livro! E mais, você me ajuda a dar uma bela polida no meu humilde inglês. You go, girl friend !

    ReplyDelete
  6. Espero esse romance pantaneiro há anos! Em português! Nenhuma dúvida que ele será muito bem vindo!

    ReplyDelete