Monday, June 7, 2010

Avocados and Other Memories (Abacates e outras lembranças)


I grew up with avocados. Big avocados, small avocados, medium size avocados. All sweet, green, bursting with flavor avocados. We harvested them, ate them, applied them to our hair and, in general, didn’t give a damn about them. They were everywhere, all the time. Why would we give them a second thought? While my sisters and I were in the pool, tanning ourselves, we stared at the avocado tree without seeing it. We walked under it to get a hose to wet ourselves but never glanced at its fruits. At that time, the avocados were almost invisible for me. But now that I live in a country where they are not so common; they became one of the symbols of my childhood.

When I was growing up in Brazil, whenever I opened the refrigerator I would find countless glasses with avocado. My mother would spoon out their pulp, mix it with milk and sugar, and blend it. Then, she would serve us that smoothie either in the morning, with breakfast, or before we went to bed. For lunch, the avocado, once more mixed with milk and sugar, was presented as a dessert. In this case, there was less milk and the dessert had the consistency of a mousse. Many times my sisters and I would come back from parties and sit at the table in the indoor patio, gossiping and eating the avocado mix while sweat ran down our faces during those hot, tropical nights.

Later, in the United States, I saw for the first time people eating avocados with salt, tomatoes, pepper and onions. They called that “guacamole” and I heard that the food had originated in Mexico. How weird, I thought, to eat avocado with salt instead of sugar… I tried it, and it wasn’t so bad. But when I had a plain avocado by itself, what a disappointment. Where were the flavors, the texture, the colors, the smells? Why did I have to pay $1 for a fruit that grew everywhere in my hometown, that people almost didn’t know anymore what to do with it?

I felt the same disappointment when I ate mangoes, guavas, oranges and bananas. The mangoes, my favorite fruits in Brazil, seemed to get here sad, dry, like an old lady who just made a long voyage and doesn’t know where she is anymore. The guavas were small and always past their prime, begging not to be eaten so far away from their homes. The oranges looked beautiful on the outside but lacked flavor. The bananas were of two kinds only: where could I find the banana maçã, banana prata, banana nanica, banana da terra, bananinha and all other varieties so popular in Brazil?

As a little girl, I would ask my mother to make me a “bu”. That was the name my sisters and I gave to a smoothie with milk, banana and other fruits. When the blender was on, it made a sound like a “buuuuu” and that is how we named the fruit drink. We had those smoothies all the time. My friend, who is American, told me that he tried a smoothie for the first time when he was about 50 years old. I thought he was teasing me, but then I remembered that there are so many things that I still don’t understand about my adoptive country…

Many years ago, after I got married and went to live close to Sao Paulo, we threw an avocado pit on the soil and it turned into a tree that my small daughter used to climb. Today, when I was cutting an avocado to put in a salad, I looked at the avocado pit and felt tempted to save it and plant it in a vase on my deck. But the snow would come and I would have to move it indoors. The plant would grow slowly and resent the lack of heat. It probably would never yield any fruits… I threw the pit in the garbage, thinking that some things are better kept in our memories…

ABACATES E OUTRAS LEMBRANÇAS

Eu cresci com abacates. Abacates grandes, abacates pequenos, abacates médios. Todos doces, verdes, muito saborosos. Nós os pegávamos do pé, comíamos, passávamos no cabelo e, de maneira geral, não dávamos a mínima bola para eles. Os abacates estavam por toda parte, o tempo todo. Por que iríamos nos preocupar com eles? Quando eu e minhas irmãs estávamos na piscina, nos bronzeando, olhávamos para o abacateiro sem vê-lo. Passávamos embaixo dele para pegar uma mangueira e nos molhar, mas nem reparávamos nas frutas. Naquela época, os abacates eram quase invisíveis para mim. Mas agora que vivo num país onde eles não são tão comuns, tornaram-se um dos símbolos da minha infância.

Quando eu era criança e morava no Brasil, sempre que abria a geladeira havia inúmeros copos com abacate. Minha mãe tirava a polpa da fruta com uma colher e misturava com leite e açúcar. Depois, ela nos servia esse suco de manhã, com nosso café da manhã, ou antes de irmos dormir. Na hora do almoço, o abacate, mais uma vez misturado com leite e açúcar, era servido como sobremesa. Neste caso, havia menos leite e o doce tinha a consistência de uma mousse. Muitas vezes, eu e minhas irmãs voltávamos de uma festa e sentávamos-nos à mesa no pátio para fofocar e comer a mistura de abacate, enquanto o suor escorria pelos nossos rostos naquelas noites quentes e tropicais.

Mais tarde, nos Estados Unidos, vi pela primeira vez as pessoas comerem abacate com sal, tomate, pimenta e cebola. Disseram-me que o prato se chamava "guacamole" e tinha se originado no México. Que estranho, pensei, comer abacate com sal, em vez de açúcar... Experimentei e até que não era tão ruim. Mas quando provei um abacate puro, que decepção! Onde estava o sabor, a textura, as cores, o cheiro? Por que eu tinha que pagar um dólar por uma fruta que crescia por todo lado na minha cidade natal, que as pessoas quase nem sabiam mais o que fazer com ela?

Tive a mesma decepção quando comi mangas, goiabas, laranjas e bananas. As mangas, minhas frutas favoritas no Brasil, pareciam chegar aos EUA tristes, secas, como uma velha senhora que fez uma longa viagem e não sabe mais onde se encontra. As goiabas eram pequenas e pareciam quase prestes a morrer, implorando para não serem comidas tão longe de suas casas. As laranjas eram lindas por fora, mas não tinham sabor. As bananas eram apenas de dois tipos: onde eu poderia encontrar banana maçã, banana prata, banana nanica, banana da terra, bananinha e todas as outras variedades tão populares no Brasil?

Nos meus tempos de infância, gostava de pedir para minha mãe me fazer um bu ". Esse era o nome que minhas irmãs e eu tínhamos dado a um suco com leite, banana e outras frutas. Quando o liquidificador era ligado, fazia um barulho como um “buuuuu"e por isso demos esse nome ao suco. Nós tomávamos “bu” o tempo todo. Meu amigo, que é americano, me disse que tomou um suco desse tipo pela primeira vez quando tinha 50 anos. Pensei que ele estivesse brincando comigo, mas depois lembrei-me que há tantas coisas que ainda não entendo neste meu país adoptivo ...

Há muitos anos, depois que me casei e fui morar perto de São Paulo, jogamos um caroço de abacate no quintal e ele virou uma árvore na qual minha filha pequena gostava de subir. Hoje, quando eu estava cortando um abacate para colocar numa salada, olhei para o caroço e pensei em guardá-lo e plantá-lo em um vaso no meu pátio. Mas quando começasse a nevar, eu teria que colocá-lo dentro de casa. A planta iria crescer lentamente e se ressentiria da falta de calor. Provavelmente nunca iria dar frutos... Joguei o caroço no lixo, pensando que algumas coisas são mais bem guardadas na nossa memória...

2 comments:

  1. Hum, me deu até vontade de comer abacate! É engraçado como a gente não dá valor a coisas que parecem estar à disposição.

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  2. Embora eu more no Rio de Janeiro, onde há muitas frutas, até hoje acho estranho ter que comprar abacates, goiabas, cajus, maracujás, atas, figos, mangas, pitangas, sapotis e tantas outras frutas que eram muito mais saborosas quando colhidas nos quintais da infância. E as bocaiúvas e os tarumãs, que nem conseguimos comprar? Que saudades!

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