Wednesday, September 9, 2009

Women Of Strength (Mulheres fortes)


I like to tell stories about the past even though sometimes I am not sure if they are real or not. The other day, I was reading an essay from a well-known Brazilian journalist, and she said that for a woman not to be considered old, she should stop saying things like “In my time…" or "In the past…” After I read her words, I started wondering: should I write only about the present and my dreams for the future? Should I forget all the wonderful things that happened when I was growing up, or before that, or yesterday, so people will not see me as an old woman? I am not sure if I care about what people think about me anymore. So, I am going to reminisce about the past.

In my family there are many strong women. We defy illness, economic adversities, divorces, and many other trials in life. When we have to deal with a problem, we look it in the eye and fight it. We cry; oh we cry a lot! We are sentimental women, women who live with passion. But, above all, we are warriors.

It is said that my great-grandmother was from the Guató tribe that lived in the wetlands of Mato Grosso do Sul, in Brazil. Considered extinct until around 1960, the Guatós were re-discovered by an Italian missionary and were officially recognized as a tribe in 1980. In 1848, there were about 500 Guatós living in the lakes at the source of the Paraguay River. The Paraguay war and countless illnesses brought by the white men made the population decline. In 2008, there were 175 Guatós in the state of Mato Grosso do Sul and 195 in the state of Mato Grosso.

Nowadays, the Guató language is practically extinct. In the beginning of 2008 there were only four people capable of speaking it. The language doesn’t have adjectives and the nouns are tied with a verb. It is supposed to be a language of few words and many meanings.

The origin of the word Guató is not clear. It might have been derived of guatá, verb that in Guarani means walk, circulate, travel, and go around to indicate a canoe people with high mobility space. The canoe is very important in the Guatós’ lives. The boat manum is their primary means of transportation to the point where the legs of the men are poorly developed and curved inward, while the trunk remains remarkably more developed because of the activity of rowing. The Guatós build small, low huts with twigs, sticks and palm leaves, just enough to shelter them from sun and rain. Many nights they sleep in their canoes. The children, from an early age, are already quite familiar with the canoes and often lead them through the rivers, bays and streams. A woman is responsible to captain the canoe, standing in the stern.

How my great-grandmother left her tribe, came to marry my great-grandfather, and end up living in the small town of Corumbá is a mystery that nobody in my family is able to explain. We are not even sure that she was, in fact, a Guató. However, when I think about the love for traveling that characterizes everyone in my family and the strength that emanates from the women, I become convinced that we descend, in fact, from these canoe people, whose women commanded the canoes and their destines.

When I am feeling sad, without the will to live, or disappointed because people who were supposed to behave in a decent way turned out not to have any decency, I get inspiration from these Indians who lived in contact with nature. I am sure that sleeping under the stars, lulled by the waters that embraced their canoes, they were not afraid, sad or nervous. They were just smiling and glad to be alive.


MULHERES FORTES

Gosto de contar histórias sobre o passado, embora às vezes não tenha certeza se essas histórias são verdadeiras ou não. Outro dia estava lendo uma crônica de uma jornalista brasileira famosa e ela disse que para uma mulher não ser considerada velha, devia parar de dizer coisas como: "No meu tempo ... Naquela época ..." Depois de ler isso, fiquei pensando: será que eu deveria escrever apenas sobre o presente e sobre meus planos para o futuro? Deveria esquecer todas as coisas maravilhosas que aconteceram quando eu era pequena, ou antes de eu nascer, ou até ontem, para que as pessoas não pensem que sou velha? Pra falar a verdade, não me importo mais com a opinião dos outros a meu respeito. Por isso, vou continuar lembrando do passado.

Na minha família há muitas mulheres fortes. Encaramos doenças, dificuldades econômicas, divórcios e muitos outros golpes da vida. Nos momentos de adversidade, olhamos o problema de frente e lidamos com ele. Choramos, ah choramos muito! Somos mulheres sentimentais, mulheres que vivem com paixão. Mas, acima de tudo, somos guerreiras.

Dizem que minha bisavó era da tribo Guató, que habitava o pantanal, em Mato Grosso do Sul, no Brasil. A tribo era considerada extinta até por volta de 1960. Nos anos 70, os Guatós foram re-descobertos por uma missionária italiana e reconhecidos oficialmente como uma tribo em 1980. Em 1848, havia cerca de 500 Guatós nos lagos do Alto Paraguai. A guerra do Paraguai e inúmeras doenças trazidas pelo povo branco provocaram o declínio da população. Em 2008, havia 175 Guatós no estado de Mato Grosso do Sul e 195 no estado de Mato Grosso.

Atualmente, a língua Guató está praticamente extinta. No início de 2008 apenas quatro pessoas eram capazes de falar o idioma. O Guató não tem adjetivos e os substantivos são entrelaçados com os verbos. É, supostamente, uma língua de poucas palavras e muitos significados.

A origem do termo Guató não é bem explicada. Poderia ter sido derivada de
Guatá, verbo que em guarani significa caminhar, circular, viajar, passear, indicando um povo canoeiro com muita mobilidade. A canoa é muito importante na vida dos Guatós. O barco manum é seu principal meio de transporte. As pernas dos homens são pouco desenvolvidas e se curvam para dentro, enquanto o tronco é maior por causa da atividade do remo. O Guatós constroem pequenas cabanas baixas com galhos, gravetos e folhas de palmeira, que servem para protegê-los do sol e da chuva. Muitas noites dormem nas suas canoas. As crianças, desde pequenas, aprendem a remar e levam os barcos através dos rios, baías e córregos. A mulher é responsável por conduzir a canoa, de pé na popa.

Como minha bisavó deixou sua tribo, casou-se com meu bisavô, e acabou vivendo na cidade de Corumbá é um mistério que ninguém na minha família sabe explicar. Não temos certeza sequer se ela era, na verdade, uma Guató. No entanto, quando penso sobre o amor pelas viagens, que caracteriza todos na minha família, e a força que emana das mulheres, me convenço de que somos, de fato, descendentes dos índios canoeiros, cujas mulheres lideravam as canoas e seus destinos.

Quando fico triste, sem vontade de viver, ou decepcionada porque as pessoas que deveriam se comportar com decência agem de uma maneira equivocada, busco inspiração nessas índias que viviam em contato com a natureza. Posso vizualizá-las dormindo sob as estrelas, embaladas pelas águas que abraçavam suas canoas, sem medo, tristeza ou preocupações. Só sorrindo, felizes por estarem vivas.

1 comment:

  1. Foi uma agradável e estimulante surpresa encontrar esse texto nesta manhã. Ajudou a afastar a sensação de vazio e de uma certa inutilidade que me assalta de vez em quando.
    Me deu mais vontade de me debruçar sobre o passado da nossa família e escrever uuma história que começasse lá atrás com o povo guató.
    Acho que essa "herança" talvez explique esse desejo de mobilidade, esse gosto pela aventura e uma eterna insatisfação com a vida conquistada.

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