Friday, July 31, 2009

Childhood Flavors (Sabores de infância)


“I am going to take a picture of that cheese that is in the refrigerator,” I told my son.
“I don’t even want to know…” he answered, rolling his eyes.

I don’t know why, but my son thinks that I am a little crazy. He finds my ideas too unusual, and he spent his life wishing he had a mother exactly like the others. Well, he is already 21 years old and is still waiting for me to become “normal.”

But, going back to the cheese… Yesterday, I was very happy because I was able to buy farmer’s cheese at the grocery store. It is not easy to find this kind of cheese in the US. However, it was there, close to the yogurt, smiling at me. I just had to buy it. After all, it reminded me of so many things…

When I lived with my parents in Corumba, Brazil, the cheese, that we called “white cheese,” was always on the table at breakfast time. My mother used to put it there and cover it with a piece of cloth, to protect it from flies and mosquitoes. In Corumba, the heat was unbearable and the flies and mosquitoes were convinced that they had more rights than the human beings. Since we insisted on living in a place where they were kings, we had to try our best to outsmart them.

The cheese was over the table all mornings. There were also bolachas pantaneiras, at least one kind of cake (ah, how my father loved cake!) and bread fresh from the bakery’s oven. To go together with all of this, there was butter from the farm, kept in the refrigerator. A very yellow butter, and with real taste of butter. For us to drink, there were coffee with milk and juices: orange juice, lemon juice, or avocado blended with milk. This breakfast kept us going the whole morning while we played outside (in our childhood), went to school (in our teenaged years), or just stayed around the house talking (when we grew up and went to Corumba only from time to time to visit.)

My father died, my mother’s steps became more and more slow when she went to fetch the cheese. But she never forgot to bring it to the table. The dogs that always followed her from the kitchen to the patio, where we had our breakfast, also got old. Some of them died and others took their place, observing the chesse without ever touching it.

But why did I start thinking about these things? Ah, memories! They appear suddenly, without asking for our permission. Sometimes, it is just enough to open a refrigerator and see a piece of cheese for us to travel back to our childhood.

SABORES DE INFÂNCIA

"Vou tirar uma foto daquele queijo que está na geladeira", eu disse para o meu filho.
"Nem quero saber ..." ele respondeu, fazendo uma careta.

Não sei por quê, mas meu filho acha que sou meio maluca. Ele acha que minhas ideias são originais demais, e passou a vida desejando ter uma mãe exatamente como as outras. Bem, ele já está com 21 anos e ainda está esperando que eu me torne "normal".

Mas, voltando ao queijo ... Ontem, fiquei muito feliz porque pude comprar queijo de fazenda no supermercado. Não é fácil encontrar esse tipo de queijo nos EUA. No entanto, ele estava lá, perto dos iogurtes, sorrindo para mim. Tive que comprá-lo. Afinal, ele me lembrava de tantas coisas ...

Quando eu morava com meus pais no Brasil, em Corumbá, o queijo que a gente chamava de "queijo branco" estava sempre em cima da mesa na hora do café da manhã. Minha mãe costumava colocá-lo lá e cobri-lo com uma toalha, para protegê-lo das moscas e mosquitos. Em Corumbá, o calor era insuportável e as moscas e os mosquitos estavam convencidos de que tinham mais direitos do que os seres humanos. Uma vez que insistíamos em viver num lugar onde eles reinavam, precisávamos ser mais espertos do que eles.

Todas as manhãs, o queijo estava lá, na mesa. Havia também bolachas pantaneiras, pelo menos um tipo de bolo (ah, meu pai adorava bolo!), e pão da padaria ainda quentinho. Para passar no pão, pegávamos manteiga de fazenda na geladeira. Uma manteiga amarela, e com verdadeiro sabor de manteiga. Para beber, tinha café com leite e sucos: suco de laranja, sumo de limão, ou abacate batido com leite. Esse café da manhã nos sustentava a manhã inteira enquanto brincávamos lá fora (na nossa infância), íamos para a escola (na nossa adolescência), ou simplesmente ficávamos em casa conversando (quando ficamos mais velhas e passamos a ir à Corumbá só de vez em quando para passear.)

O tempo passou, meu pai morreu, os passos da minha mãe tornaram-se mais e mais lentos quando ia buscar o queijo. Mas ela nunca se esqueceu de trazê-lo pra mesa. Os cachorros que a acompanhavam da cozinha para o pátio, onde tomávamos o café da manhã, também envelheceram. Alguns morreram e outros tomaram seu lugar, observando o queijo sem nunca tocá-lo.

Mas por que comecei a pensar sobre essas coisas? Ah, lembranças! Elas aparecem de repente, sem pedir licença. Às vezes, basta abrir a geladeira e ver um pedaço de queijo para que a gente viaje de volta à nossa infância.

1 comment:

  1. lembranças boas e queridas, parece ate que estou vendo a mamae de chinelos de saltos , tirando o queijo da geladeira e colocando na mesa.Alem do pao quentinho, sempre tinha pao torrado que ela mesmo torrava.

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