Saturday, July 4, 2009
The Recipe Book (O Livro De Receitas)
There is something original about this chocolate cake. It doesn’t need flour. My gilrfriend, who used to be my next-door neighbor in Brazil, sent me its recipe. I try it, it comes out delicious, and I decide to write the recipe in my recipe book. When I get my notebook, my kids start to laugh: the book is falling apart but, somehow, I just don’t have the heart to part with it. You see, the recipe book holds not only recipes. It also holds memories of so many people, of so many years ago…
I got the notebook in my hometown in Brazil, about 30 years ago. It has a brownish hardcover and letters on its side so I can organize the recipes by alphabetic order. But the K and Y are not there: they didn’t belong in the Portuguese alphabet at the time the notebook was made.
The cover is missing one small piece from one side. One day I saw my dog, Preta, chewing on it. Preta was a black German Shepard that my ex-husband and I got when we decided to try having a dog before we had a child. Preta was beautiful, her hair very shining, and she had a very interesting personality: she didn’t like black people. If a workman arrived to do something at your house, Preta would allow him to come inside, providing that he was white. If he were black, the closest he could get was the garage. Whenever he tried to get inside our house, Preta would bark furiously and keep the poor person paralyzed with fear until my ex-husband appeared to rescue him.
I have a recipe in the book from Ana, a housekeeper who used to clean and cook for us in Brazil a few days a week. Ana could barely write, but she wrote me a recipe for another chocolate cake. One day, when I came back from work, she was sitting in the rocking chair waiting for me. She asked me if I had sent my friend to pick up my camera to take pictures of his son. This is how I found out that a thief had come to our house, pretending that he was my friend, and Ana had given my photographic equipment to him…
Dona Olinda, another housekeeper, also wrote me recipes for some pies that were mouth-watering. Before working at our house, she used to cook in a nunnery. That is how we found out that the nuns weren’t as frugal as we imagined: they liked good food and not only the ones that asked for inexpensive ingredients…
My friend Kathryn gave me a recipe for chocolate chip cookies. Until I arrived in the US, I had never tried a chocolate chip cookie. Once I tried, I just had to have the recipe. Kathryn and I used to baby-sit each other kids when we lived in New York. She was married to a doctor and one of the first friends I made in this country. I will always remember her kindness.
I also have a recipe for a French cake that a teacher gave to my daughter. She used to teach in the elementary school where my daughter studied when we lived in France. I don’t remember how I got her recipe, but I still have it.
Each of the recipes in my notebook has a story. There are the Japanese recipes that my son asked me to write down because he was considering spending time in Japan and was interested in the Japanese culture. There is the recipe I took from an old can of condensed milk and became such an important part of our Christmas dinners. The majority of the recipes are in Portuguese, but some are in English and some in French. The book has moved with me from country to country, never complaining about being packed unceremoniously in so many suitcases. Each handwriting in the book reminds me of a person. I see the handwriting of my mother, my sister, my ex-husband, my aunt, my former mother-in-law, and many others that used to be my friends.
I am sure that there are many recipe books at the stores that are more fashionable than mine. But how could I throw away all these memories? I can’t. I just hope that the book grows old with me, a silent witness of so many roads I walked and so many people who crossed my life.
O LIVRO DE RECEITAS
Este bolo de chocolate é original: não precisa de farinha. Minha amiga, que morava na casa vizinha à minha no Brasil, me mandou a receita. Experimentei, ficou delicioso, então decidi copiar a receita. Quando peguei o caderno de receitas, meus filhos começaram a rir: o caderno está caíndo aos pedaços, mas não tenho coragem de jogá-lo fora. Ele não contém só receitas. Também reúne lembranças de muitas pessoas, de muitos anos passados ...
Comprei o caderno de receitas na cidade onde nasci, no Brasil, há mais ou menos 30 anos. O caderno tem uma capa dura e marrom, com letras no lado, para que as receitas sejam organizadas em ordem alfabética. As letras K e Y não estão lá: não faziam parte do alfabeto português quando o caderno foi fabricado.
Você pode ver um pedaço pequeno meio mordido num dos lados da capa…. Um dia, peguei minha cachorra, Preta, mastigando o caderno. Preta era uma pastora alemã que meu ex-marido e eu compramos, quando decidimos que seria uma boa idéia criar um cachorro antes de termos um filho. Preta era linda, o pelo brilhante, e tinha uma personalidade intrigante: não gostava de negros. Quando um trabalhador chegava para fazer algum serviço na nossa casa, Preta só deixava que ele entrasse se fosse branco. Se fosse negro, ele não passava da garagem. Se insistisse em entrar na casa, Preta latia furiosamente e o deixava paralisado de medo, até que meu ex-marido aparecesse para resgatá-lo.
Tenho uma receita de uma faxineira brasileira que limpava e cozinhava para nós alguns dias por semana. Ana mal podia escrever, mas me deu uma receita de outro bolo de chocolate. Um dia, quando voltei do trabalho, ela estava sentada na cadeira de balanço esperando por mim. Ana me perguntou se eu tinha deixado meu amigo pegar minha máquina fotográfica para tirar fotos do filho dele. Acabamos descobrindo que um ladrão tinha vindo à nossa casa, fingindo que era meu amigo, e Ana tinha dado meu equipamento fotográfico para ele ...
Dona Olinda, outra empregada, também me deu algumas receitas de tortas que eram fantásticas. Antes de trabalhar na nossa casa, ela era cozinheira de um convento de freiras. Foi assim que ficamos sabendo que as freiras não eram tão simples como imaginávamos: elas gostavam de comer bem, e não apenas comidas que usavam ingredients baratos ...
Minha amiga Kathryn me deu uma receita para chocolate chips cookies. Antes de eu morar nos EUA, nunca tinha comido chocolate chip cookies. Depois que experimentei, tive de pedir a receita… Eu e Kathryn costumávamos nos revezar tomando conta dos nossos filhos quando morávamos em Nova York. Ela era casada com um médico e uma das primeiras amigas que fiz neste país. Vou sempre me lembrar da bondade dela.
Também tenho uma receita de um bolo francês que uma professora deu para minha filha. Ela era professora da escola onde minha filha estudava quando morávamos na França. Não me lembro como peguei a receita, mas ainda a tenho.
Cada uma das receitas no meu caderno tem uma história. Há receitas japonesas que meu filho me pediu para escrever porque estava pensando em passar um tempo no Japão e estava interessado na cultura japonesa. Há uma receita que tirei de uma lata velha de leite condensado e se tornou uma parte muito importante nos nossos jantares de Natal. A maioria das receitas são em português, mas algumas são em inglês ou francês. O caderno mudou comigo de país para país, nunca se queixando por ser jogado sem cerimônias em tantas malas. Cada caligrafia me lembra de alguém. Tem a letra da minha mãe, minha irmã, meu ex-marido, minha tia, minha ex-sogra, e muitas outras amigas.
Tenho certeza de que há muitos cadernos de receitas para vender muito mais sofisticados do que o meu. Mas como poderia jogar fora todas essas lembranças? Não consigo. Só espero que o caderno envelheça comigo, uma testemunha silenciosa de tantos caminhos que percorri e de tantas pessoas que passaram pela minha vida.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
Dete, sua crônica me fez lembrar do meu caderno de receitas, que começou a ser escrito quando vim morar em Mato Grosso em 88 e decidi que seria finalmente uma boa dona de casa. As folhas estão sujas amareladas, despencando do caderno, mas ainda não tive coragem de substitui-lo. Agora entendi o motivo: ele me traz lembranças maravilhosas da época em que vivi alguns dos melhores anos da minha vida, na fazenda, com o meu ex-marido, meus gatos, cães e vendo nascer e crescer minhas filhas.
ReplyDelete