Saturday, July 11, 2009

Nature, Beasts and Men


The small cascade was just one among many that we saw on the Cascade Trail, in New Hampshire. We had read on the guide that the trail was not very difficult to hike, and we decided to try it. What the guide failed to mention, was that the trail started on top of a mountain not as high as Mount Everest, but still high enough to require a ski lift for the people who wanted to ski downhill in the winter. After climbing the mountain for about half an hour and regretting all the cigarettes that we had ever smoked in our lives, we finally reached the trail. Then, for three miles we walked in the middle of the forest, seeing one cascade here and other there, smelling the trees and feeling the soft breeze caressing us, happy for being alive and in harmony with nature.

While we walked, I thought about my daughter who had gone camping and hiking with her girlfriend about ten days before. The mountain where they went was supposed to be full of bears and, in the evening, when they set up camp, they had to tie their food high up in a tree so the bears couldn’t reach it. They were by themselves in the middle of nowhere, but I wasn’t afraid of any animal attacking them. My big fear was that a man might hurt them.

I remember when I was a child and we listened to stories of people being attacked by jaguars, alligators or piranhas. We trembled and held our breath while we wondered what we would do if we were faced with a predator like that. The animals were menacing, unpredictable. The forests where they made their habitat were dark, treacherous.

When did we stop fearing the animals and start fearing the other human beings? Of course, we still don’t go find a bear and welcome it with open arms. But, nowadays, the other human beings are more of a threat to us.

In the old times, a child was taught to be polite to strangers, to say their name, to answer questions. Now, the children are taught not to talk with strangers, never tell them their names or where they live. In the small towns in the US, the parents are more comfortable if their children take the bus to school, even if the school is very close. Most of the times, neighbors don’t talk with neighbors anymore. The fear of rapes, murders, and robberies is always present in everyone’s minds, and the television and newspapers make a point of increasing the panic. The cities became like the forests: menacing, treacherous. And the human beings became the beasts.

While I walk in the forest listening to the songs of the birds and the cascades, I ask myself why. Why did we lose touch with the others human beings, why did we turn our backs to nature and surrounded ourselves with the gray walls of the cities, why did we stop trusting each other and replace the trust with suspicions?

I continue to walk and see a woman and a small child coming on the trail towards my friend and I. I prepare myself to greet her with a smile, but she prefers to look at the ground when she reaches me. Her daughter also doesn’t look at me. She probably learned with her mother not to trust a stranger. In the middle of the peaceful forest, full of cascades, I am the enemy.

A NATUREZA, AS FERAS E OS HOMENS

Essa cascatinha foi uma das inúmeras que vimos na Trilha das Cascatas, em New Hampshire. Tínhamos lido num guia que a caminhada não era muito puxada e resolvemos encará-la. O que o guia não mencionava era que a trilha começava no alto de uma montanha não tão alta quanto o Everest, mas alta o suficiente para que, no inverno, os esquiadores precisassem subir a montanha usando um teleférico… Depois de levar mais ou menos meia hora para escalar a montanha, nos arrependendo de todos os cigarros que havíamos fumado na nossa vida, finalmente chegamos à trilha. Então, caminhamos mais ou menos três milhas pela floresta, vendo uma cascata aqui e outra ali, sentindo o cheiro das árvores e a brisa suave que nos acariciava, felizes por estarmos vivos e em harmonia com a natureza.

Enquanto caminhávamos, lembrei da minha filha que tinha ido acampar com uma amiga há uns dez dias. A montanha onde foram era cheia de ursos e, à noite, quando montavam acampamento, elas tinham de amarrar a comida no alto de uma árvore para que os ursos não pegassem. As duas estavam sozinhas no meio do nada, mas eu não estava com medo de que algum animal aparecesse para atacá-las. O meu grande receio era que um homem fizesse alguma coisa com elas.

Lembro-me de que quando eu era criança, ouvíamos muitas histórias de pessoas que tinham sido atacadas por onças, jacarés e piranhas. Nós tremíamos e prendíamos a respiração, tentando imaginar o que faríamos se tivéssemos que enfrentar um predador como aqueles. Os bichos eram ameaçadores, imprevisíveis. As florestas onde eles se escondiam eram escuras e traiçoeiras.

Quando deixamos de ter medo de bichos e começamos a ter medo dos outros seres humanos? É claro que ninguém sai por aí procurando um urso para acolhê-lo de braços abertos. Mas, hoje em dia, os seres humanos são considerados a verdadeira ameaça.

Nos velhos tempos, as crianças eram ensinadas a serem educadas com estranhos, dizendo seu nome e respondendo às perguntas. Agora, as crianças são ensinadas a não falar com estranhos, nunca dizer seu nome ou onde moram. Nas cidades pequenas, nos EUA, os pais ficam muito mais tranquilos se seus filhos pegam o ônibus escolar, mesmo que a escola seja bem perto. Na maioria das vezes, um vizinho não conversa com o outro. O medo de estupros, assassinatos e assaltos está sempre presente, e a televisão e os jornais parecem fazer questão de aumentar o pânico. As cidades se tornaram como as florestas: ameaçadoras, traiçoeiras. E os seres humanos tornaram-se as feras.

Enquanto caminho pela floresta, ouvindo as canções dos pássaros e das cachoeiras, eu me pergunto o porquê. Por que perdemos contato com os outros seres humanos, por que viramos as costas para a natureza e nos escondemos entre as paredes cinzentas das cidades, por que deixamos de confiar nos outros e substituímos a confiança pela suspeita?

Continuo a caminhar e vejo uma moça com uma menininha vindo na trilha na nossa direção. Prepáro-me para lhe dar um sorriso, mas ela prefere olhar para o chão quando chega perto de mim e do meu amigo. Sua filha também não olha para mim. Provavelmente aprendeu com a mãe a não confiar em estranhos. No meio da floresta tranquila, cheia de cachoeiras, eu sou a inimiga.

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