Friday, July 31, 2009
Childhood Flavors (Sabores de infância)
“I am going to take a picture of that cheese that is in the refrigerator,” I told my son.
“I don’t even want to know…” he answered, rolling his eyes.
I don’t know why, but my son thinks that I am a little crazy. He finds my ideas too unusual, and he spent his life wishing he had a mother exactly like the others. Well, he is already 21 years old and is still waiting for me to become “normal.”
But, going back to the cheese… Yesterday, I was very happy because I was able to buy farmer’s cheese at the grocery store. It is not easy to find this kind of cheese in the US. However, it was there, close to the yogurt, smiling at me. I just had to buy it. After all, it reminded me of so many things…
When I lived with my parents in Corumba, Brazil, the cheese, that we called “white cheese,” was always on the table at breakfast time. My mother used to put it there and cover it with a piece of cloth, to protect it from flies and mosquitoes. In Corumba, the heat was unbearable and the flies and mosquitoes were convinced that they had more rights than the human beings. Since we insisted on living in a place where they were kings, we had to try our best to outsmart them.
The cheese was over the table all mornings. There were also bolachas pantaneiras, at least one kind of cake (ah, how my father loved cake!) and bread fresh from the bakery’s oven. To go together with all of this, there was butter from the farm, kept in the refrigerator. A very yellow butter, and with real taste of butter. For us to drink, there were coffee with milk and juices: orange juice, lemon juice, or avocado blended with milk. This breakfast kept us going the whole morning while we played outside (in our childhood), went to school (in our teenaged years), or just stayed around the house talking (when we grew up and went to Corumba only from time to time to visit.)
My father died, my mother’s steps became more and more slow when she went to fetch the cheese. But she never forgot to bring it to the table. The dogs that always followed her from the kitchen to the patio, where we had our breakfast, also got old. Some of them died and others took their place, observing the chesse without ever touching it.
But why did I start thinking about these things? Ah, memories! They appear suddenly, without asking for our permission. Sometimes, it is just enough to open a refrigerator and see a piece of cheese for us to travel back to our childhood.
SABORES DE INFÂNCIA
"Vou tirar uma foto daquele queijo que está na geladeira", eu disse para o meu filho.
"Nem quero saber ..." ele respondeu, fazendo uma careta.
Não sei por quê, mas meu filho acha que sou meio maluca. Ele acha que minhas ideias são originais demais, e passou a vida desejando ter uma mãe exatamente como as outras. Bem, ele já está com 21 anos e ainda está esperando que eu me torne "normal".
Mas, voltando ao queijo ... Ontem, fiquei muito feliz porque pude comprar queijo de fazenda no supermercado. Não é fácil encontrar esse tipo de queijo nos EUA. No entanto, ele estava lá, perto dos iogurtes, sorrindo para mim. Tive que comprá-lo. Afinal, ele me lembrava de tantas coisas ...
Quando eu morava com meus pais no Brasil, em Corumbá, o queijo que a gente chamava de "queijo branco" estava sempre em cima da mesa na hora do café da manhã. Minha mãe costumava colocá-lo lá e cobri-lo com uma toalha, para protegê-lo das moscas e mosquitos. Em Corumbá, o calor era insuportável e as moscas e os mosquitos estavam convencidos de que tinham mais direitos do que os seres humanos. Uma vez que insistíamos em viver num lugar onde eles reinavam, precisávamos ser mais espertos do que eles.
Todas as manhãs, o queijo estava lá, na mesa. Havia também bolachas pantaneiras, pelo menos um tipo de bolo (ah, meu pai adorava bolo!), e pão da padaria ainda quentinho. Para passar no pão, pegávamos manteiga de fazenda na geladeira. Uma manteiga amarela, e com verdadeiro sabor de manteiga. Para beber, tinha café com leite e sucos: suco de laranja, sumo de limão, ou abacate batido com leite. Esse café da manhã nos sustentava a manhã inteira enquanto brincávamos lá fora (na nossa infância), íamos para a escola (na nossa adolescência), ou simplesmente ficávamos em casa conversando (quando ficamos mais velhas e passamos a ir à Corumbá só de vez em quando para passear.)
O tempo passou, meu pai morreu, os passos da minha mãe tornaram-se mais e mais lentos quando ia buscar o queijo. Mas ela nunca se esqueceu de trazê-lo pra mesa. Os cachorros que a acompanhavam da cozinha para o pátio, onde tomávamos o café da manhã, também envelheceram. Alguns morreram e outros tomaram seu lugar, observando o queijo sem nunca tocá-lo.
Mas por que comecei a pensar sobre essas coisas? Ah, lembranças! Elas aparecem de repente, sem pedir licença. Às vezes, basta abrir a geladeira e ver um pedaço de queijo para que a gente viaje de volta à nossa infância.
Wednesday, July 29, 2009
Reflections (Reflexões)
My cat admires the world and I admire him. He is probably thinking about what he will do next, while I am afraid of what he will do next. You see, last week I had left beans soaking in water overnight and when I got to the kitchen, in the morning, he had put his paws inside the bowl, spread the beans over the counter and drunk some of the water. The same day, he peed in the living room, found some cleaning material and started kicking it around, and hid my daughter’s headband under the refrigerator. Then, he went to sleep in someone’s lap. He doesn’t favor a particular lap. He will take any lap. My cat is very democratic and very affectionate. How can I hate him when he purrs and tries to get closer and closer to me, staring at me with eyes full of love? Of course, I threaten to kill him once a day when he gets into mischief. But he knows that he has a special place in my heart.
I wonder how come sometimes we hate someone but still love that person. Aren’t love and hate supposed to be opposite emotions? I also wonder why we try so hard to understand our emotions, examining them rationally, striving to find an explanation for everything. Why can’t we accept that life is a wild horse that can’t be tamed? Many times I see people – very intelligent people – doing their best to control everything in their life, not leaving any room for improvising, afraid that something might turns up in a way that they didn’t plan. They are so set in their ways that they don’t enjoy the small gifts of life that come unexpectedly. They don’t live for the present but for the future that lays ahead, the future that they planned. How surprised they get when everything turns upside down and the job that they were supposed to get in Honolulu ends up being in New York, or their boss chooses someone more flexible to the position to which they prepared so hard… They thought they were gods, in charge of the universe. Disappointed, they discover that they are, in fact, just human beings.
I try to understand why my cat peed in the living room. I theorize about the cats that had appeared on the deck and probably made him jealous. I call the veterinarian who suggests some possible reasons, not very likely. I look at the Internet for cat behavior. In the end, I am no closer to an answer than I was in the beginning. The cat is an animal, and I can’t understand the psychology of an animal. But can we understand the behavior of other human beings?
I also wonder why it is so much easier for a mother to be closer to a daughter than to a son. With my daughters, I can speak in the same language. With my son, I grasp for meanings that I seldom understand. But, when he reads aloud for me one of the romances that I wrote and I am trying to correct, this moment of intimacy is more precious than any diamond.
Sometimes I wonder why I wonder so much. Maybe I should leave to my cat the job of pondering the world. But I am sure he would rather eat my rug.
REFLEXÕES
Meu gato admira o mundo e eu admiro meu gato. Ele provavelmente pensa no que fará daqui a pouco, enquanto eu tenho medo do que ele fará daqui a pouco. Na semana passada, tinha deixado feijão de molho e, quando cheguei na cozinha de manhã, ele havia colocado as patas dentro da tigela, esparramado o feijão na mesa e bebido um pouco do caldo. No mesmo dia, fez xixi na sala, pegou material de limpeza e começou a chutar pelo chão, e escondeu a fivela de cabelo da minha filha embaixo da geladeira. Depois disso, achou o colo de alguém para dormir. Para ele, qualquer colo dá na mesma. Ele se sente bem em qualquer um. Meu gato é muito democrático e muito carinhoso. Como posso odiá-lo quando ele ronrona e tenta se aproximar de mim cada vez mais, olhando-me com olhos cheios de amor? Evidentemente, eu ameaço matá-lo uma vez por dia quando ele faz essas besteiras. Mas ele sabe que tem um lugar especial no meu coração.
Às vezes me pergunto como é possível odiar e amar, ao mesmo tempo, uma pessoa. O amor e o ódio não são emoções opostas? Pergunto-me também por que tentamos tão arduamente entender as nossas emoções, analisando-as racionalmente, buscando uma explicação para tudo. Por que não aceitamos que a vida é como um cavalo selvagem que não pode ser domado? Muitas vezes vejo pessoas - pessoas muito inteligentes, por sinal – se esforçando ao máximo para controlar tudo na vida, não deixando qualquer espaço para improvisos, com medo de que alguma coisa possa sair dos planos. São pessoas tão rígidas que não apreciam os pequenos presentes que a vida nos traz inesperadamente. Não vivem para o presente, mas para o futuro; o futuro que planejaram. Como se surpreendem quando tudo vira de cabeça para baixo e o trabalho que era para ser em Honolulu acaba sendo em Nova York, ou quando o chefe escolhe alguém mais flexível para o cargo para o qual se prepararam com tanto empenho ... Pensaram que eram deusas, no comando do universo. Decepcionadas, descobrem que são, na verdade, apenas seres humanos.
Tento entender por que meu gato fez xixi na sala. Teorizo a respeito dos gatos que apareceram na varanda e, provavelmente, o deixaram com ciúmes. Ligo para o veterinário, que sugere algumas possíveis razões não muito convincentes. Procuro na internete tudo sobre comportamento de gato. No final, não estou mais perto de uma explicação do que estava antes. O gato é um bicho, e não entendo a psicologia de um animal. Mas será que podemos entender o comportamento de outros seres humanos?
Pergunto-me também por que é muito mais fácil para uma mãe sentir-se mais próxima de uma filha do que de um filho. Com minhas filhas, posso falar na mesma linguagem. Com meu filho, tento adivinhar o que ele diz e é tão difícil de compreender. Mas, quando ele lê em voz alta um dos romances que escrevi e estou tentando corrigir, este momento de intimidade é mais precioso do que qualquer diamante.
Às vezes me pergunto por que faço tantas perguntas. Talvez devesse deixar meu gato refletindo a respeito do mundo. Mas tenho certeza de que ele iria prefirir comer o meu tapete.
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Wednesday, July 22, 2009
The dark cloak (O véu negro)
Today I was reading an interview with the great Brazilian author, Lygia Fagundes Telles. In the interview, the author recalls how her book, The Girls, written during the time of censorship in Brazil, managed not to be censored even though one of the main characters was a revolutionary. Telles explains that the censor got bored after reading 20 pages of her book and didn’t continue. That is how The Girls escaped the hands of the censors and was published. The book is one of the best-known works from the famous author and tells the story of three girls who meet in a boardinghouse and go on to explore different paths of life.
Telles’ story reminded me of the times of the dictatorship in Brazil that not only affected the arts and literature, but also impacted the entire country. For the ones that didn’t experience life in these hard times, it is worth remembering that Brazil was under a dictatorship for 20 years. In 1964, the military ousted the president Joao Goulart and took power. From then on, the country was governed by a succession of generals who banished all forms of protest and, using torture, assured that all rebellion was under control.
Times were difficult. Fear covered the nation with a dark cloak. Politicians and artists were exiled. The press was under censorship. The newspapers couldn’t publish any news of the countless young people who were thrown in jail, tortured, and disappeared to be never seen again. Most of the newspapers had a censor who went there daily to read the entire edition of the paper and cut anything that was considered remotely revolutionary. O Estado de S.Paulo, one of the biggest newspapers of Brazil, started printing poems of the Portuguese poet Luís Vaz de Camões to replace the articles in the newspaper that had been censored. Soon, the newspaper had a lot of poems in its daily edition, and the readers understood what was going on.
While the arts were being hit hard, the economy was in even worse shape. In 1980, inflation hit 77.2%. In 1983, it had soared to 200%. The Brazilian financial system was in total disarray.
As the years passed, the generals allowed a few liberties. But they were still very much in control. When the general João Baptista Figueiredo was “elect” not by popular vote, but by the Congress in 1979, he was asked what he would do with the ones that were against the liberalization of the country. He answered: I will jail, I will hit, I will trash them! Brazil was far from being a democracy.
Only in 1985, 20 years after the military coup, Tancredo Neves, a civilian president, was elected. From there on, Brazilian democracy flourished along with its economy. Nowadays, to think that a censor could get a pen and cross out pages and pages of an author’s book is something totally out of the question. The censorship is gone, but its ghost still scares the hearts of people who lived in that dark times.
O VÉU NEGRO
Hoje eu estava lendo uma entrevista com a grande escritora brasileira, Lygia Fagundes Telles. Na entrevista, a escritora recorda como o seu livro, As Meninas, escrito durante o tempo da censura no Brasil, conseguiu não ser censurado, embora um dos principais personagens fosse uma revolucionária. Lygia explica que o censor começou a ler o livro, leu até a página 20, achou muito chato e não foi adiante. Foi assim que As Meninas escapou das garras da censura e foi publicado. O livro, um dos trabalhos mais conhecidos da famosa autora, narra a história de três meninas que moram num pensionato e acabam explorando diferentes caminhos de vida.
A história da escritora me fez lembrar dos tempos da ditadura no Brasil, que não só afetaram as artes e a literatura, mas todo o país. Para os que não viveram nesse período difícil, é importante lembrar que o Brasil foi uma ditadura militar durante 20 anos. Em 1964, os militares afastaram o presidente João Goulart e tomaram o poder. Depois disso, o país foi governado por uma sucessão de generais que baniram todas as formas de protesto e, utilizando a tortura, asseguraram que todos os descontentes estavam sob controle.
Foram tempos difíceis. O país estava coberto por um manto escuro. Políticos e artistas foram exilados. A imprensa estava sob censura. Os jornais não podiam publicar notícias dos inúmeros jovens que eram atirados na prisão, torturados, e desapareciam para nunca mais serem vistos. A maioria dos jornais tinha um censor que ia diariamente ler todas as notícias e proibia tudo que fosse considerado remotamente revolucionário. O Estado de S.Paulo, um dos maiores jornais do Brasil, começou a imprimir poemas do poeta português Luís Vaz de Camões, para substituir os artigos que haviam sido censurados. Logo, o jornal tinha um monte de poemas na sua edição diária, e os leitores perceberam o que estava acontecendo.
Enquanto as artes eram duramente atingidas, a economia estava ainda em pior forma. Em 1980, a inflação atingiu 77,2%. Em 1983, subiu até 200%. O sistema financeiro brasileiro estava numa desordem total.
À medida em que os anos passaram, lentamente os generais começaram a promover a abertura política. Mas o controle ainda era imenso. Quando o general João Baptista Figueiredo foi "eleito" não pelo voto popular, mas pelo Congresso em 1979, a imprensa quis saber o que ele faria com os que eram contra a liberalização do país. Ele respondeu: eu prendo, eu bato, eu arrebento! O Brasil estava longe de ser uma democracia.
Só em 1985, 20 anos após o golpe militar, Tancredo Neves, um presidente civil, foi eleito. A partir daí, a democracia brasileira floresceu, juntamente com a economia. Hoje em dia, pensar que um censor possa pegar uma caneta e riscar páginas e páginas de um livro é inconcebível. A censura desapareceu, mas seu fantasma ainda assombra as pessoas que viveram naquela época de escuridão.
Thursday, July 16, 2009
A Trip To Bolivia (Uma viagem À Bolívia)
I was eating my peanut butter sandwich in the kitchen and looking at the pictures that I have on the wall. And there she was, the Bolivian “colla,” selling hats, pocketbooks and other stuff. I had seen her so many times, not only in pictures but also in real life, that she seemed very familiar to me. However, we barely exchanged a few words in all the time that I lived in Corumba, Brazil, and used to go with my family to Puerto Suárez, Bolivia, to buy perfumes, whiskey, and other goods.
When I was growing up, a visit to Bolivia was something to look forward to. We piled in our car and drove for about ½ hour, braving the 100 degree heat and the dusty and bumpy road to get to the border. The Brazilian soldiers would just wave us to proceed, then we would cross a small brook, be greeted by some sleepy Bolivian soldiers who would examine our papers, and continue on our way to the stores.
Nowadays, Puerto Quijarro, the Bolivian town closer to Corumba, has a very active street market and there is no need to drive all the way to Puerto Suárez. But, many years ago, we made the trip to Puerto Suárez to hit the stores. My mother always had a list of things that she wanted to buy. For us, children, the town had many attractions: houses almost falling apart, reminding us of old cowboys movies where the bad guy would get shot in the central square after leaving a saloon, children playing outside their house in their underwear, stray dogs parading the streets followed by chickens, and the river Paraguay stretching lazily behind the town. The river held the most interesting sight for my sisters and I: Bolivian men swimming naked! Unfortunately, my mother didn’t share our opinion and would always insist on dragging us to the stores.
The collas that sold the merchandises moved at the same rhythm of the town: slow, deliberate, as if time was of no consequence. I loved to admire their long skirts and braided hair, and I was always puzzled by their face that, for some reason, never smiled.
Now, looking at the picture in my kitchen, I still wonder why the collas never seemed happy. But, I guess, the entire trip to Puerto Suárez always left me with the impression that I had gone back in time, to a place where life had a meaning that intrigued me but I was never able to grasp.
UMA VIAGEM Á BOLÍVIA
Eu estava na cozinha comendo meu sanduíche com manteiga de amendoim, olhando para as fotos na parede, e me deparei com a foto da "colla" boliviana, vendendo chapéus, carteiras e outras coisas. Já a vi tantas vezes, não só na foto mas também na vida real, que ela me parece muito familiar. No entanto, mal conversamos em todo o tempo que morei em Corumbá, Brasil, e ia frequentemente com minha família para Puerto Suárez, na Bolívia, para comprar perfumes, uísque e outras mercadorias.
Quando eu era pequena, uma visita à Bolívia era uma coisa que esperávamos com ansiedade. Entrávamos no nosso carro animadas e dirigíamos mais ou menos ½ hora, enfrentando o calor de quase 40 graus, a poeira e a estrada esburacada até chegar à fronteira. Os soldados brasileiros nos acenavam para seguir adiante. Atravessávamos um pequeno riacho, parávamos em frente dos sonolentos soldados bolivianos que examinavam nossos documentos, e continuávamos em direção às lojas.
Atualmente, Puerto Quijarro, a cidade boliviana mais próxima de Corumbá, tem uma feira de rua bem grande e não há necessidade de dirigir até Puerto Suárez. Mas, há muitos anos, íamos a Puerto Suárez para fazer compras. Minha mãe sempre tinha uma lista de coisas que queria comprar. Para nós, crianças, a cidade propriamente dita tinha muitas atrações: casas quase desmoronando, lembrando-nos dos antigos filmes de cowboys onde o bandido levava um tiro na praça central depois de sair de um bar, crianças brincando em frente às casas só de calcinhas ou cuecas, cachorros vira-lata passeando pelas ruas seguidos por galinhas, e o rio Paraguai se espreguiçando atrás da cidade. O rio tinha a atração mais interessante para eu e minhas irmãs: homens bolivianos nadando nus! Infelizmente, minha mãe não partilhava da nossa opinião e sempre insistia em nos arrastar para as lojas.
As collas vendiam suas mercadorias no mesmo ritmo da cidade: devagar, calmamente, como se o tempo não tivesse nenhuma importância. Eu gostava de admirar suas saias compridas e seus cabelo com tranças, e ficava intrigada pensando por que elas nunca sorriam.
Até agora, olhando a foto na minha cozinha, ainda me pergunto por que as collas nunca pareciam felizes. Mas, admito que essas viagens a Puerto Suárez sempre me deixaram com a impressão de que eu tinha voltado atrás no tempo, viajando para um lugar onde a vida tinha um significado que me intrigava mas nunca fui totalmente capaz de entender.
Monday, July 13, 2009
Smile: It Is A Beautiful Day! (Sorria: O Dia Está Lindo!)
Today was a beautiful day in Newtown, PA. Warm, not a cloud in the sky, and a soft breeze encouraging the leaves to dance. I was happy and feeling like smiling. How could I not smile in a day like that, when nature teases us with different fragrances, colors and sounds, when the entire world appears to be smiling with us?
While I was going about my smiling day, I thought about an article that I read on the Internet about smiles. Apparently, a railway company in Japan has introduced a "Smile Scan" system to evaluate the grins of its station staff. The software analyzes the facial characteristics of a person, including eye movements, lip curves and wrinkles, and rates a smile on a scale from 0 to 100. The employees will need to check their smiles with the device everyday before work. The ones with low scores will see advices like "You still look too serious," or "Lift up your mouth corners," on display on the screen.
Even though the news made me not only smile but even laugh, I wondered how I would feel if I had to smile all the time. Wouldn’t I feel like crying when I got home after eight or ten hours of a straight smiling session? What would I do in the days that I had problems at home? Would I call my boss and ask for a sick day because I couldn’t smile?
I could just imagine this software being introduced in other fields. A doctor would smile when he said to a person that he had only weeks to live; a boss would smile when he was firing someone; a bank clerk would smile when he said to a customer that his account had only $1; a policeman would smile handing out a speeding ticket… In a world like this, would anyone believe when you really felt like smiling, or would they suspect that yours was a fake smile like theirs?
I heard about a new type of yoga – laughter yoga – started by an Indian physician who believes that the act of smiling or laughting, even when someone isn’t happy, induces the person to feel better. His yoga laughter became a worldwide phenomenon and is now practiced in 60 countries. I can understand how the exercise of smiling can bring good vibrations and a feeling of general well being. But be forced to smile all day long? Now, that is not funny at all.
So, I am not applying for a job at that railway company in Japan. Instead, I would like to advise the employees with a low score on their smile scan to go on a vacation to the island of Saint Kitts And Nevis, in the Caribbean. Based on data from the World Health Organization for 2008, the small island has the lowest suicide rate in the world. I guess the people from the island could give a lesson to the railway company employees on how to be authentically happy.
SORRIA: O DIA ESTÁ LINDO!
Hoje estava um dia lindo em Newtown, PA. Quente, sem uma nuvem no céu, e uma brisa suave que fazia as folhas dançarem. Eu estava feliz e sorrindo. Como poderia não sorrir num dia como este, quando a natureza parece nos tentar com diferentes aromas, cores e sons, quando todo mundo parece estar sorrindo também?
Durante o dia, lembrei de um artigo que li na internet sobre sorrisos. Aparentemente, uma empresa ferroviária no Japão criou um "Smile Scan" para avaliar o sorriso dos funcionários da estação. O software analisa as características faciais de uma pessoa, incluindo movimentos oculares, curvas dos lábios e rugas, e classifica os sorrisos numa escala de 0 a 100. Os funcionários terão de checar seus sorrisos com o dispositivo antes de começar o dia de trabalho. Aqueles com notas baixas verão, na tela, sugestões como "Você ainda parece muito sério", ou "Levante os cantos da boca”.
O artigo não só me fez sorrir, mas rir de verdade. Ao mesmo tempo, me perguntei como me sentiria se tivesse que sorrir o tempo todo. Não teria vontade de chorar quando chegasse em casa após oito ou dez horas de sorrisos intermináveis? O que faria no dia que tivesse problemas em casa? Teria que telefonar para meu chefe e dizer que estava doente porque não podia sorrir?
Agora imagine esse software sendo utilizado em outros campos de trabalho. Um médico sorriria quando dissesse a um paciente que ele tinha apenas algumas semanas de vida; um chefe sorriria quando estivesse despedindo um empregado; um bancário sorriria ao dizer a um cliente que a conta dele tinha apenas $1, um policial sorriria quando desse uma multa... Em um mundo como esse, será que alguém acreditaria quando você sorrisse de verdade, ou suspeitaria que seu sorriso era tão falso quanto o dele?
Ouvi falar de um novo tipo de ioga, ioga-riso, iniciada por um médico indiano que acredita que o ato de sorrir ou rir, mesmo quando alguém não está feliz, induz a pessoa a se sentir melhor. Sua ioga-riso se tornou um fenômeno mundial e hoje é praticada em 60 países. Entendo como o exercício de sorrir pode trazer boas vibrações e uma sensação de bem-estar geral. Mas ser forçada a sorrir durante todo o dia? Isso não é nada engraçado.
Por isso, não vou me candidatar a esse emprego na empresa ferroviária do Japão. Em vez disso, gostaria de aconselhar aos trabalhadores com uma nota baixa nos seus sorrisos, que tirem umas férias na ilha de São Cristóvão e Neves, no Caribe. Dados da Organização Mundial da Saúde, para 2008, indicam que a ilha tem o menor índice de suicídio no mundo. Acho que os habitantes da ilha poderiam ensinar aos funcionários da empresa ferroviária como ser feliz de verdade.
Saturday, July 11, 2009
Nature, Beasts and Men
The small cascade was just one among many that we saw on the Cascade Trail, in New Hampshire. We had read on the guide that the trail was not very difficult to hike, and we decided to try it. What the guide failed to mention, was that the trail started on top of a mountain not as high as Mount Everest, but still high enough to require a ski lift for the people who wanted to ski downhill in the winter. After climbing the mountain for about half an hour and regretting all the cigarettes that we had ever smoked in our lives, we finally reached the trail. Then, for three miles we walked in the middle of the forest, seeing one cascade here and other there, smelling the trees and feeling the soft breeze caressing us, happy for being alive and in harmony with nature.
While we walked, I thought about my daughter who had gone camping and hiking with her girlfriend about ten days before. The mountain where they went was supposed to be full of bears and, in the evening, when they set up camp, they had to tie their food high up in a tree so the bears couldn’t reach it. They were by themselves in the middle of nowhere, but I wasn’t afraid of any animal attacking them. My big fear was that a man might hurt them.
I remember when I was a child and we listened to stories of people being attacked by jaguars, alligators or piranhas. We trembled and held our breath while we wondered what we would do if we were faced with a predator like that. The animals were menacing, unpredictable. The forests where they made their habitat were dark, treacherous.
When did we stop fearing the animals and start fearing the other human beings? Of course, we still don’t go find a bear and welcome it with open arms. But, nowadays, the other human beings are more of a threat to us.
In the old times, a child was taught to be polite to strangers, to say their name, to answer questions. Now, the children are taught not to talk with strangers, never tell them their names or where they live. In the small towns in the US, the parents are more comfortable if their children take the bus to school, even if the school is very close. Most of the times, neighbors don’t talk with neighbors anymore. The fear of rapes, murders, and robberies is always present in everyone’s minds, and the television and newspapers make a point of increasing the panic. The cities became like the forests: menacing, treacherous. And the human beings became the beasts.
While I walk in the forest listening to the songs of the birds and the cascades, I ask myself why. Why did we lose touch with the others human beings, why did we turn our backs to nature and surrounded ourselves with the gray walls of the cities, why did we stop trusting each other and replace the trust with suspicions?
I continue to walk and see a woman and a small child coming on the trail towards my friend and I. I prepare myself to greet her with a smile, but she prefers to look at the ground when she reaches me. Her daughter also doesn’t look at me. She probably learned with her mother not to trust a stranger. In the middle of the peaceful forest, full of cascades, I am the enemy.
A NATUREZA, AS FERAS E OS HOMENS
Essa cascatinha foi uma das inúmeras que vimos na Trilha das Cascatas, em New Hampshire. Tínhamos lido num guia que a caminhada não era muito puxada e resolvemos encará-la. O que o guia não mencionava era que a trilha começava no alto de uma montanha não tão alta quanto o Everest, mas alta o suficiente para que, no inverno, os esquiadores precisassem subir a montanha usando um teleférico… Depois de levar mais ou menos meia hora para escalar a montanha, nos arrependendo de todos os cigarros que havíamos fumado na nossa vida, finalmente chegamos à trilha. Então, caminhamos mais ou menos três milhas pela floresta, vendo uma cascata aqui e outra ali, sentindo o cheiro das árvores e a brisa suave que nos acariciava, felizes por estarmos vivos e em harmonia com a natureza.
Enquanto caminhávamos, lembrei da minha filha que tinha ido acampar com uma amiga há uns dez dias. A montanha onde foram era cheia de ursos e, à noite, quando montavam acampamento, elas tinham de amarrar a comida no alto de uma árvore para que os ursos não pegassem. As duas estavam sozinhas no meio do nada, mas eu não estava com medo de que algum animal aparecesse para atacá-las. O meu grande receio era que um homem fizesse alguma coisa com elas.
Lembro-me de que quando eu era criança, ouvíamos muitas histórias de pessoas que tinham sido atacadas por onças, jacarés e piranhas. Nós tremíamos e prendíamos a respiração, tentando imaginar o que faríamos se tivéssemos que enfrentar um predador como aqueles. Os bichos eram ameaçadores, imprevisíveis. As florestas onde eles se escondiam eram escuras e traiçoeiras.
Quando deixamos de ter medo de bichos e começamos a ter medo dos outros seres humanos? É claro que ninguém sai por aí procurando um urso para acolhê-lo de braços abertos. Mas, hoje em dia, os seres humanos são considerados a verdadeira ameaça.
Nos velhos tempos, as crianças eram ensinadas a serem educadas com estranhos, dizendo seu nome e respondendo às perguntas. Agora, as crianças são ensinadas a não falar com estranhos, nunca dizer seu nome ou onde moram. Nas cidades pequenas, nos EUA, os pais ficam muito mais tranquilos se seus filhos pegam o ônibus escolar, mesmo que a escola seja bem perto. Na maioria das vezes, um vizinho não conversa com o outro. O medo de estupros, assassinatos e assaltos está sempre presente, e a televisão e os jornais parecem fazer questão de aumentar o pânico. As cidades se tornaram como as florestas: ameaçadoras, traiçoeiras. E os seres humanos tornaram-se as feras.
Enquanto caminho pela floresta, ouvindo as canções dos pássaros e das cachoeiras, eu me pergunto o porquê. Por que perdemos contato com os outros seres humanos, por que viramos as costas para a natureza e nos escondemos entre as paredes cinzentas das cidades, por que deixamos de confiar nos outros e substituímos a confiança pela suspeita?
Continuo a caminhar e vejo uma moça com uma menininha vindo na trilha na nossa direção. Prepáro-me para lhe dar um sorriso, mas ela prefere olhar para o chão quando chega perto de mim e do meu amigo. Sua filha também não olha para mim. Provavelmente aprendeu com a mãe a não confiar em estranhos. No meio da floresta tranquila, cheia de cachoeiras, eu sou a inimiga.
Saturday, July 4, 2009
The Recipe Book (O Livro De Receitas)
There is something original about this chocolate cake. It doesn’t need flour. My gilrfriend, who used to be my next-door neighbor in Brazil, sent me its recipe. I try it, it comes out delicious, and I decide to write the recipe in my recipe book. When I get my notebook, my kids start to laugh: the book is falling apart but, somehow, I just don’t have the heart to part with it. You see, the recipe book holds not only recipes. It also holds memories of so many people, of so many years ago…
I got the notebook in my hometown in Brazil, about 30 years ago. It has a brownish hardcover and letters on its side so I can organize the recipes by alphabetic order. But the K and Y are not there: they didn’t belong in the Portuguese alphabet at the time the notebook was made.
The cover is missing one small piece from one side. One day I saw my dog, Preta, chewing on it. Preta was a black German Shepard that my ex-husband and I got when we decided to try having a dog before we had a child. Preta was beautiful, her hair very shining, and she had a very interesting personality: she didn’t like black people. If a workman arrived to do something at your house, Preta would allow him to come inside, providing that he was white. If he were black, the closest he could get was the garage. Whenever he tried to get inside our house, Preta would bark furiously and keep the poor person paralyzed with fear until my ex-husband appeared to rescue him.
I have a recipe in the book from Ana, a housekeeper who used to clean and cook for us in Brazil a few days a week. Ana could barely write, but she wrote me a recipe for another chocolate cake. One day, when I came back from work, she was sitting in the rocking chair waiting for me. She asked me if I had sent my friend to pick up my camera to take pictures of his son. This is how I found out that a thief had come to our house, pretending that he was my friend, and Ana had given my photographic equipment to him…
Dona Olinda, another housekeeper, also wrote me recipes for some pies that were mouth-watering. Before working at our house, she used to cook in a nunnery. That is how we found out that the nuns weren’t as frugal as we imagined: they liked good food and not only the ones that asked for inexpensive ingredients…
My friend Kathryn gave me a recipe for chocolate chip cookies. Until I arrived in the US, I had never tried a chocolate chip cookie. Once I tried, I just had to have the recipe. Kathryn and I used to baby-sit each other kids when we lived in New York. She was married to a doctor and one of the first friends I made in this country. I will always remember her kindness.
I also have a recipe for a French cake that a teacher gave to my daughter. She used to teach in the elementary school where my daughter studied when we lived in France. I don’t remember how I got her recipe, but I still have it.
Each of the recipes in my notebook has a story. There are the Japanese recipes that my son asked me to write down because he was considering spending time in Japan and was interested in the Japanese culture. There is the recipe I took from an old can of condensed milk and became such an important part of our Christmas dinners. The majority of the recipes are in Portuguese, but some are in English and some in French. The book has moved with me from country to country, never complaining about being packed unceremoniously in so many suitcases. Each handwriting in the book reminds me of a person. I see the handwriting of my mother, my sister, my ex-husband, my aunt, my former mother-in-law, and many others that used to be my friends.
I am sure that there are many recipe books at the stores that are more fashionable than mine. But how could I throw away all these memories? I can’t. I just hope that the book grows old with me, a silent witness of so many roads I walked and so many people who crossed my life.
O LIVRO DE RECEITAS
Este bolo de chocolate é original: não precisa de farinha. Minha amiga, que morava na casa vizinha à minha no Brasil, me mandou a receita. Experimentei, ficou delicioso, então decidi copiar a receita. Quando peguei o caderno de receitas, meus filhos começaram a rir: o caderno está caíndo aos pedaços, mas não tenho coragem de jogá-lo fora. Ele não contém só receitas. Também reúne lembranças de muitas pessoas, de muitos anos passados ...
Comprei o caderno de receitas na cidade onde nasci, no Brasil, há mais ou menos 30 anos. O caderno tem uma capa dura e marrom, com letras no lado, para que as receitas sejam organizadas em ordem alfabética. As letras K e Y não estão lá: não faziam parte do alfabeto português quando o caderno foi fabricado.
Você pode ver um pedaço pequeno meio mordido num dos lados da capa…. Um dia, peguei minha cachorra, Preta, mastigando o caderno. Preta era uma pastora alemã que meu ex-marido e eu compramos, quando decidimos que seria uma boa idéia criar um cachorro antes de termos um filho. Preta era linda, o pelo brilhante, e tinha uma personalidade intrigante: não gostava de negros. Quando um trabalhador chegava para fazer algum serviço na nossa casa, Preta só deixava que ele entrasse se fosse branco. Se fosse negro, ele não passava da garagem. Se insistisse em entrar na casa, Preta latia furiosamente e o deixava paralisado de medo, até que meu ex-marido aparecesse para resgatá-lo.
Tenho uma receita de uma faxineira brasileira que limpava e cozinhava para nós alguns dias por semana. Ana mal podia escrever, mas me deu uma receita de outro bolo de chocolate. Um dia, quando voltei do trabalho, ela estava sentada na cadeira de balanço esperando por mim. Ana me perguntou se eu tinha deixado meu amigo pegar minha máquina fotográfica para tirar fotos do filho dele. Acabamos descobrindo que um ladrão tinha vindo à nossa casa, fingindo que era meu amigo, e Ana tinha dado meu equipamento fotográfico para ele ...
Dona Olinda, outra empregada, também me deu algumas receitas de tortas que eram fantásticas. Antes de trabalhar na nossa casa, ela era cozinheira de um convento de freiras. Foi assim que ficamos sabendo que as freiras não eram tão simples como imaginávamos: elas gostavam de comer bem, e não apenas comidas que usavam ingredients baratos ...
Minha amiga Kathryn me deu uma receita para chocolate chips cookies. Antes de eu morar nos EUA, nunca tinha comido chocolate chip cookies. Depois que experimentei, tive de pedir a receita… Eu e Kathryn costumávamos nos revezar tomando conta dos nossos filhos quando morávamos em Nova York. Ela era casada com um médico e uma das primeiras amigas que fiz neste país. Vou sempre me lembrar da bondade dela.
Também tenho uma receita de um bolo francês que uma professora deu para minha filha. Ela era professora da escola onde minha filha estudava quando morávamos na França. Não me lembro como peguei a receita, mas ainda a tenho.
Cada uma das receitas no meu caderno tem uma história. Há receitas japonesas que meu filho me pediu para escrever porque estava pensando em passar um tempo no Japão e estava interessado na cultura japonesa. Há uma receita que tirei de uma lata velha de leite condensado e se tornou uma parte muito importante nos nossos jantares de Natal. A maioria das receitas são em português, mas algumas são em inglês ou francês. O caderno mudou comigo de país para país, nunca se queixando por ser jogado sem cerimônias em tantas malas. Cada caligrafia me lembra de alguém. Tem a letra da minha mãe, minha irmã, meu ex-marido, minha tia, minha ex-sogra, e muitas outras amigas.
Tenho certeza de que há muitos cadernos de receitas para vender muito mais sofisticados do que o meu. Mas como poderia jogar fora todas essas lembranças? Não consigo. Só espero que o caderno envelheça comigo, uma testemunha silenciosa de tantos caminhos que percorri e de tantas pessoas que passaram pela minha vida.
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