Saturday, September 25, 2010

Learning With Friends (Aprendendo com os amigos)


When the Portuguese writer José Saramago went to Stockholm to receive his Nobel Prize for Literature from the king of Sweden, he said in his acceptance speech: “The wisest man I ever met didn’t know how to read or write.” He was referring to his grandfather Jerónimo Melrinho, with whom he had spent countless summers on his farm in Alentejo, Portugal. The lessons Saramago learned from that modest peasant about love for nature, respect for all human beings, and responsibility to Mankind, shaped his literary work and his personal life.

Sometimes the most valuable lessons we learn come from people who weren’t formally schooled. They might not have lots of academic degrees, but somehow manage to accumulate a vast knowledge that they are always ready to share. Since I started going to a Spiritist center in Philadelphia, I had the occasion to meet many people like this. There is an old Brazilian woman who confided, timidly, that she had always dreamed of becoming a teacher but had not gone beyond elementary school because she used to live on a farm. Lately, when she moved to the US and could study, she had to take care of her children and grandchildren. Time passed and she never returned to school.

This old woman may lack a formal education. However, when she opens her mouth, everybody listens. She talks about love, the power of prayer, the need not to let oneself be engulfed in the waves of violence and hate delivered by the TV, and, above all, the importance of loving our enemies. In all her humility, she doesn’t realize that even without attending school she is, in fact, a wonderful teacher.

Then, there is the Colombian couple who runs the center. I never thought about asking whether they had a master’s degree or a doctorate because this didn’t seem important. What matters is that they are wise and kind. They welcome everyone to their Spiritist center with open arms and always have something special to say to each one of us. The lady teaches about Spirits and their influences on human beings. She imparts to us the wisdom and the visions that she receives from the Spirits. She advises us to make sure that we share our lives with friends who have goodness in their heart. She emphasizes the importance of cultivating good thoughts to attract good Spirits. Her husband explains with patience and insight the teachings of Allan Kardec and also works with hands-on healing. The lessons that both of them teach are based in love. They never let the people who have difficulties expressing themselves feel that they are less than anyone else. They know that it is not the years of schooling that matters, but what we learn throughout our lives.

In the Spiritual Center, there are many people who came to the US from Latin America to try their luck and never had a chance to study. All of them struggled to succeed but did not let their hearts be hardened by these struggles. They are still gentle people, ready to help each other, always with a smile on their face, avoiding criticism and gossip.

When I am with them, sometimes I am reminded of a writer’s group in which I used to participate here in the US. Some of the writers had already been published and were very full of themselves. Instead of encouraging the new writers, they used spiteful words to criticize their work. I always wondered why they couldn’t help each other to be successful, recognizing that the world is full of abundance and there is a special place for each of us… In the end, I stopped going to those meetings because I didn’t feel that I could improve my writing surrounded by jealous and envious people.

I look forward to Wednesdays and Fridays when I go to the Spiritual Center to learn the teachings of Allan Kardec and receive hands-on healing. When I am there, not only do I study the fundaments of Spiritism, but I also have the occasion of interacting with some very special people. The lessons of love, friendship and simplicity that I learn from all of them are priceless. There are no better teachers and friends than the ones with big hearts.

APRENDENDO COM OS AMIGOS

Quando o escritor português José Saramago foi a Estocolmo receber o Prêmio Nobel de Literatura entregue pelo rei da Suécia, disse em seu discurso: "O homem mais sábio que conheci não sabia ler nem escrever." Ele estava se referindo a seu avô Jerônimo Melrinho, com quem passou incontáveis verões em sua fazenda no Alentejo, em Portugal. As lições que Saramago aprendeu com o modesto camponês sobre o amor a natureza, respeito a todos os seres humanos, e responsabilidade em relação à humanidade marcaram profundamente sua obra literária e sua vida pessoal.

Às vezes as lições mais valiosas que aprendemos vêm de pessoas que não tiveram educação superior. Elas talvez não tenham muitos títulos acadêmicos, mas de alguma forma dispõem de um vasto conhecimento que estão sempre prontas a compartilhar. Desde que comecei a frequentar um centro espírita na Filadélfia, tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas assim. Há uma senhora brasileira que confessou, timidamente, que sempre sonhou em ser professora, mas não tinha ido além do primeiro grau porque morava numa fazenda. Mais tarde, quando se mudou para os EUA e poderia estudar, teve que cuidar dos filhos e netos. O tempo passou e ela nunca voltou à escola.

Esta senhora pode não ter uma educação de nível superior. No entanto, quando começa a falar, todo mundo presta atenção. Ela fala sobre o amor, o poder da oração, a necessidade de não se deixar engolir pelas ondas de violência e ódio emitidas pela TV e, acima de tudo, a importância de amar nossos inimigos. Na sua humildade, ela não percebe que, mesmo sem frequentar a escola, tornou-se, de fato, uma professora maravilhosa.

Além disso, há o casal colombiano que dirige o centro. Nunca pensei em lhes perguntar se tinham mestrado ou doutorado, porque isso não parecia importante. O que importa é que são sábios e bondosos. Acolhem a todos no centro espírita com os braços abertos e sempre têm algo de especial a dizer a cada um de nós. A senhora ensina a respeito dos espíritos e sua influência sobre os seres humanos. Ela nos transmite os ensinamentos e as visões que recebe dos Espíritos. Aconselha-nos a compartilhar nossas vidas com amigos bondosos. Salienta a importância de se ater aos bons pensamentos para atrair apenas bons espíritos. Seu esposo explica com paciência e sabedoria os ensinamentos de Allan Kardec e também trabalha com passes. As lições que ambos ensinam são baseadas no amor. Nunca deixam as pessoas com dificuldade de se expressar sentir que têm menos valor do que as outras. Sabem que não é o nível de escolaridade que importa, mas o que aprendemos com a vida.

No centro espirita, há muitas pessoas que vieram da América Latina para os EUA em busca de uma vida melhor e não tiveram a oportunidade de estudar. Todos lutaram para ter sucesso, mas não deixaram seu coração se endurecer no decorrer dessas lutas. Continuam a ser gentis, prontos para ajudar uns aos outros, sempre com um sorriso nos lábios, evitando críticas e fofocas.

Quando estou com eles, às vezes me lembro de um grupo de escritores do qual participei aqui nos EUA. Alguns dos autores já haviam publicado alguns dos seus trabalhos e eram muito convencidos. Em vez de incentivar os novos escritores, usavam palavras mesquinhas para criticá-los. Sempre me perguntei por que eles não podiam ajudar uns aos outros a ser bem-sucedidos, dando-se conta de que o mundo está cheio de abundância e há um lugar especial para cada um de nós... No final, parei de ir a essas reuniões porque não sentia que poderia me tornar uma escritora melhor cercada por pessoas ciumentas e invejosas.

Espero ansiosamente as quartas e sextas-feiras, quando vou ao Centro Espírita aprender os ensinamentos de Allan Kardec e receber passes. Quando estou lá, não só estudo os fundamentos do Espiritismo, mas também tenho a oportunidade de interagir com algumas pessoas muito especiais. As lições de amor, amizade e simplicidade que aprendo com todos eles são inestimáveis. Não há melhores professores e amigos do que aqueles com um coração imenso.

Photo: William Eshbach

Wednesday, September 15, 2010

The Art of Patience (A arte da paciência)


When I moved to the US 25 years ago, I learned English reading books for children that I took from the library where I went with my kids. When my husband decided to learn Portuguese, I thought that nothing would make more sense than teaching him with children’s books. Now, almost every night, we get the book “Lúcia Já-Vou Indo”, from the Brazilian author Maria Heloísa Penteado, and read at least one page of it. The story of the book could not be more appropriate: it is about a small slug that is invited for a party under the Passion Fruit tree, but because she is so slow, she is bound to be late. Or is she not? With the same difficulty and persistence of the slug, my husband is improving his Portuguese. As for me, I am learning the art of patience.

I think I wasn’t ever a good teacher. I am too impatient to wait for someone to learn at his own pace. Even when I am the one doing the learning, I am impatient because I have high expectations for myself. It is funny that we are always telling children that they should be patient. But aren’t we adults even more impatient?
Lately, I have had many occasions to practice my patience (or lack of it.) First, there are the Portuguese classes with my husband. He is doing a wonderful job of learning the language. But, of course, I wish he would learn faster.

Aside that, there is the current job situation in the US. It seems that as the economy deteriorates, people get more and more afraid of losing their jobs. As a consequence, professionals who used to be polite to each other, now behave like adversaries. They compete with each other to impress their bosses and avoid getting fired, or make unreasonable demands from their employees to get things done faster and for less cost. In this environment, where unfairness became the norm, the art of patience became even more important. And how difficult it is, to admit to a mistake that one didn’t do to calm an angry boss who wants only to be considered right at any costs…

I am also learning to be patient because of my leg. Since I hurt it a few weeks ago, I have to walk slowly, keep it propped up more, and I just can’t exercise much. It is very hard to do all these things without despairing that the leg won’t ever heal.

I read somewhere that cultivating the art of patience increases feelings of happiness and reduces stress and anxiety. Most things worth having take time to obtain – they take patience. Patience is a practice that requires constant awareness and commitment. Real patience calls for the courage to let life unfold at its own pace and reveal itself to you. Patience requires tolerance. It also requires accepting the faults of other people as well as our own.

In a world so rushed like ours, where emails are supposed to be answered immediately, everybody needs to be glued to their cellular all the time, and we are expected to multi-task since doing just one thing is not good enough anymore, the art of patience is becoming a lost one. However, by practicing it we become less angry and less demanding. Sometimes, it is important to stop everything, go outside, and learn a lesson with nature. After all, isn’t nature always teaching us that the seasons come and go to their own rhythm?

A ARTE DA PACIÊNCIA

Quando me mudei para os EUA há 25 anos, aprendi inglês lendo livros infantis da biblioteca aonde eu ia com meus filhos. Quando meu marido decidiu aprender português, pensei que nada seria melhor do que ensinar-lhe lendo livros infantis. Agora, quase todas as noites, pegamos o livro "Lúcia Já-Vou indo", da escritora brasileira Maria Heloísa Penteado, e lemos pelo menos uma página. A história não poderia ser mais apropriada: é a respeito de uma lesminha que é convidada para uma festa embaixo da árvore de maracujá, mas por ser tão lenta, está fadada a chegar atrasada. Ou será que não? Com a mesma dificuldade e persistência da lesminha, meu marido está aprendendo português. Quanto a mim, estou aprendendo a arte da paciência.

Acho que nunca fui uma boa professora. Sou muito impaciente para esperar alguém aprender no seu próprio ritmo. Mesmo quando sou eu quem está aprendendo, me impaciento porque tenho grande expectativa em relação a mim mesma. É engraçado que sempre dizemos para as crianças que elas devem ser pacientes. Mas será que nós, adultos, não somos ainda mais impacientes?

Ultimamente, tenho tido muitas ocasiões para praticar a minha paciência (ou falta dela). Primeiro, há as aulas de português com meu marido. Ele está aprendendo super bem, mas é claro que eu gostaria que ele aprendesse ainda mais rápido.

Além disso, há a situação atual de emprego nos EUA. Parece que quanto mais a economia se deteriora, mais as pessoas têm medo de perder seu emprego. Como consequência, os profissionais que costumavam ser educados uns com os outros, agora se comportam como adversários. Competem para impressionar os chefes e não serem demitidos, ou exigem coisas demais dos empregados para que tudo seja feito mais rápido e mais barato. Nesse ambiente, onde a injustiça se tornou a norma, a arte da paciência acaba sendo ainda mais importante. E como é duro admitir um erro que não se cometeu só para acalmar um chefe irritado que se considera certo o tempo todo...

Também estou aprendendo a ser paciente por causa da minha perna. Desde que alguma coisa aconteceu com ela há algumas semanas, tenho que andar devagar, mantê-la elevada a maior parte do tempo, e não posso fazer muito exercício. É muito difícil fazer todas essas coisas e não se desesperar, pensando que a perna não vai ficar boa nunca mais.

Li em algum lugar que cultivar a arte da paciência aumenta a felicidade, reduz o stress e a ansiedade. A maioria das coisas importantes leva um tempo para se obter – precisa de paciência. Paciência é uma prática que exige atenção constante e dedicação. Paciência de verdade requer coragem para deixar a vida se desenvolver no seu próprio ritmo e se revelar a você. Paciência também exige tolerância. Exige que as pessoas aceitem os defeitos dos outros e as nossas próprias falhas.

Em um mundo tão apressado como o nosso, onde e-mails devem ser respondidos de imediato, onde todo mundo precisa ficar colado no celular o tempo todo, e esperam que façamos milhões de coisas juntas, porque fazer uma coisa de cada vez não é mais suficiente, a arte da paciência está se perdendo. No entanto, ao praticá-la nos tornamos menos irritados e menos exigentes. Seria importante às vezes parar tudo por um minutinho apenas e ir lá fora, aprender uma lição com a natureza. Afinal, a natureza não nos ensina que as estações vão e vêm no seu próprio ritmo?

Photo: Bernadete Piassa

Thursday, September 9, 2010

The Bonfires of Ignorance (As Fogueiras da Ignorância)


I set aside a few books to return to the Northampton library today. As I always do on these occasions, I reflect on the many authors and many subjects that would still be unfamiliar to me if it weren’t for this library. I am thankful for it, and for the books and the role they have always played in my life.
Today, I am thinking even more about this because of the controversy I have been following in the newspapers regarding a pastor from a Baptist church in Florida, US, who had decided to burn the Koran as a reminder of the tragedy that happened on 9/11. He had originally said that the book "reveals the true colors of Islam," and he wanted to see what could be done "to really show the dangers of what happened that day." I think about the man, and his desire to burn books, and realize that unfortunately he has lots of company. Throughout the ages, countless books were burned. They were all destroyed in the bonfires of ignorance.

The web-based encyclopedia Wikipedia has a list of 86 notable historic book burning incidents. Just to mention a few of them:

• Christian books were burned by a decree of Roman Emperor Diocletian in 303, calling for an increased persecution of Christians.
• The library of the Serapeum in Alexandria was trashed, burned and looted, in 392, at the decree of Theophilus of Alexandria, following orders of Roman Emperor Theodosius I.
• The Royal Library of the Samanid Dynasty was burned at the turn of the 11th century during the Turkic invasion from the east
• The House of Wisdom was destroyed during the Mongol invasion of Baghdad in 1258, along with all other libraries in Baghdad. It was said that the waters of the Tigris ran black for six months with ink from the enormous quantities of books flung into the river.
• Countless books were destroyed after the publication of the Catholic "Index" (list of prohibited book in the 16th Century.)
• The Library of Louvain was burnt to the ground in the wake of the German advance in 1914. It was burnt to the ground a second time in 1940.
• Book-burnings took place after the Nazis took power in 1933. Piles of books by Jewish, communist, or 'degenerate' authors were stacked high and set alight.
• During the Nazi suppression of the Warsaw Uprising of 1944 the Załuski Library - the oldest public library in Poland and one of the oldest and most respectable libraries in Europe - was burned down
• In 1953 United States Senator Joseph McCarthy convinced the Eisenhower State Department to remove from its overseas librarians "material by any controversial persons, Communists, fellow travelers, etc."
• Copies of Salman Rushdie's Satanic Verses were burnt in the UK after Iranian Muslim leader Ayatollah Khomeini issued a fatwa against the author.
• Following the 2003 invasion of Iraq, Iraq's national library and the Islamic library in central Baghdad were burned and destroyed.
Aside the ones I mentioned, there were several other instances of book burning. Many of them were the result of wars and political persecution. Most of them were the result of decrees written by governors opposing certain religious points of view. All of them tried to extinguish ideas and succeeded only in spreading them even farther. When the bonfire is lit and the books are burned, their small pieces, instead of vanishing, spread in the air, get wings, and fly around the world whispering to everyone the contents of the books destroyed. The countless Spiritists books burned in 1861, during the famous Auto-Da-Fe event, promoted by the Catholic Church in Barcelona, Spain, definitely did not disappear. The New Testament burned in 1984 in Jerusalem by Orthodox Jews is still alive. The cover of the books and the pages inside them might have been destroyed, but their ideas are still alive.
After many countries staged protests against the Koran burning, the pastor changed his mind and decided not to burn it anymore. I hope that after 9/11 comes and goes this year, we think about it as a day in which many people died, but also as a day when the world came together against ignorance and against book burning. From the ashes of sadness and darkness, there is always hope that a new life will blossom.

AS FOGUEIRAS DA IGNORÂNCIA

Separei alguns livros para devolver para a biblioteca de Northampton hoje à tarde. Como sempre faço nessas ocasiões, fiquei pensando sobre os vários autores e muitos assuntos que ainda desconheceria se não fosse pela biblioteca. Sou grata pela biblioteca, pelos livros e pelo papel que eles desempenham na minha vida.

Hoje estou mais ligada nesse assunto por causa da controvérsia que ando acompanhando nos jornais sobre um pastor de uma igreja batista, na Flórida, EUA, que tinha decidido queimar o Alcorão para lembrar a tragédia que aconteceu há nove anos no dia 11 de setembro. Ele disse que o livro “revela a verdadeira face do Islã”, e ele queria ver o que poderia ser feito “para realmente mostrar o perigo daquele dia”. Fico pensando sobre aquele homem e seu desejo de queimar livros, e constato que, infelizmente, ele tem muita companhia. Através dos séculos, inúmeros livros foram queimados. Foram todos destruídos nas fogueiras da ignorância.

A enciclopédia da internet Wikipedia tem uma lista de 86 incidentes históricos de queima de livros. Só para citar algumas deles:

• Em 303, livros cristãos foram queimados por um decreto do imperador romano Diocleciano, que pregava a ampliação da perseguição aos cristãos.
• A biblioteca de Separeum, em Alexandria, foi queimada e saqueada em 392, por decreto de Teófilo de Alexandria, seguindo as ordens do imperador romano Teodósio I.
• A biblioteca real da dinastia samânida foi queimada na virada do século 11, durante a invasão turca vinda do leste.
• A Casa da Sabedoria foi destruída durante a invasão mongol de Bagdá em 1258, juntamente com todas as outras bibliotecas em Bagdá. Dizem que as águas do Tigre se tornaram pretas por seis meses com a tinta da enorme quantidade de livros lançados no rio.
• Inúmeros livros foram destruídos após a publicação do "Índice Católico" (lista dos livros proibidos no século 16).
• A Biblioteca de Louvain foi queimada inteiramente, na esteira do avanço alemão em 1914. Foi queimada pela segunda vez em 1940.
• Queima de livros ocorreram depois que os nazistas tomaram o poder em 1933. Pilhas de livros escritos por judeus, comunistas, ou autores "degenerados" foram queimadas.
• Durante a repressão nazista da Revolta de Varsóvia, em 1944, a Biblioteca Załuski - a mais antiga biblioteca pública da Polonia e uma das bibliotecas mais antigas e respeitáveis da Europa - foi incendiada
• Em 1953, o senador dos EUA Joseph McCarthy convenceu o Departamento de Estado de Eisenhower a retirar das suas bibliotecas estrangeiras "material escrito por qualquer pessoa controversa, comunistas, viajantes, etc".
• Cópias do livro “Satanic Verses”, de Salman Rushdie, foram queimadas na Inglaterra depois que o líder muçulmano iraniano Ayatollah Khomeini emitiu uma "fatwa" contra o autor.
• Após a invasão do Iraque em 2003, a Biblioteca Nacional do Iraque e a Biblioteca Islâmica no centro de Bagdá foram queimadas e destruídas.

Além dos que citei, há muitos outros casos de queima de livros. Muitos deles resultaram de guerras e perseguições políticas. A maioria resultou de decretos escritos por governadores opondo-se a determinados pontos de vista religiosos. Todos eles tentaram exterminar ideias e só conseguiram espalhá-las ainda mais. Quando a fogueira é acesa e os livros são queimados, os pedaçinhos de papel, em vez de desaparecer, se espalham pelo ar, criam asas e voam pelo mundo sussurrando a todos os segredos dos livros que foram destruídos. Os inúmeros livros espíritas, queimados em 1861 no famoso evento Auto-De-Fé, promovido pela igreja católica de Barcelona, na Espanha, definitivamente não desapareceram. O Novo Testamento, queimado em março de 1984 em Jerusalém pelos judeus ortodoxos, ainda está vivo. A capa e as páginas dos livros podem ter sido destruídas, mas as ideias permanecem.

Depois que muitos países protestaram contra a queima do Alcorão, o pastor mudou de ideia e decidiu não queimá-lo. Espero que este ano, quando 11 de setembro chegar e passar, nós nos lembremos dele como um dia em que muitas pessoas morreram, mas também como um dia em que o mundo se uniu para protestar contra a ignorância, contra a queima de livros. Das cinzas da tristeza e da escuridão, há sempre espaço para que uma nova vida desabroche.


Photo: Commons, public domain - St. Dominic de Guzman and the Albigensians. Panel by Berruguete, 15th century.

Thursday, September 2, 2010

Chaos (Caos)


Did you miss me? I missed you. I felt so guilty for not being able to write my blog for the last 2 weeks. But so many things happened. I don’t even know how to start. The only thing I can say is that life has a way of interfering and forcing us to do something that we didn’t plan. Sound confusing? Yes, I thought so.

Anyway, the best way is to start from the beginning. There is this book from this English author about France that says the year started with food. Well, I guess I should say the week (last week, the week of chaos,) started with my son breaking his nose. This was, of course, very distressing. I was nervous when he was taken to the emergency room, then more tranquil when I was told he was doing well, then nervous again when I had to drive him to a cosmetic surgeon.

But that was just the beginning. Because, after that, my daughter’s puppy came to spend the week at my house while she went on vacation. This furry mix of poodle and god knows what immediately got into a war with my cat which lasted for the whole week. They pursued and teased each other non-stop. My cat seemed depressed, probably wondering what the hell that strange animal was doing in his house, but the dog was in high spirits. During the entire week, he demanded our full attention. He was filled with energy. He was able to go up and down the stairs a million times. He ate my daughter’s cellular phone charger, a box full of raisins (box included), a box of shoes, one book that I enjoyed a lot, and maybe 12 orange earplugs that, well, I don’t need to tell you where they came out… While he was here, he also managed to make me twist my knee because I took him outside and walked him so many times. He also disturbed my concentration in my work. During that week, I happened to be working from home from 7am to 1am, trying to ignore all this confusion and pretending that I was a super-woman…

The puppy left on Sunday. On Monday, I cleaned the house with a vigor that only a Brazilian woman can have. Then, my knee felt even worse. By Tuesday, I was working while sitting on the bed with my legs stretched out, ice on my knee, my laptop on my lap, and my cat trying to sit on the mouse of my computer. After all, he missed this close contact while the dog was at my house.

The week started and ended with animals. It started and ended with health problems. It started and ended with chaos. So, please forgive me if I weren’t here to write an inspired blog about cultural differences or my thoughts about the world. I am back. But boy, what I week that was!!!!!

CAOS

Você sentiu minha falta? Eu senti a sua. E também me senti muito culpada por não ter escrito meu blog nessas duas últimas semanas. Mas tanta coisa aconteceu! Nem sei por onde começar. A única coisa que posso dizer é que a vida tem essa mania de interferir nos nossos planos e nos obrigar a fazer coisas que não planejamos. Parece confuso? Pois é, também acho.

Enfim, o melhor jeito é começar do começo. Li esse livro de um autor inglês sobre a França onde ele dizia que o ano começou com comida. Bem, eu devia dizer que a semana (quero dizer a semana passada, a semana do caos), começou com meu filho quebrando o nariz. Isso me deixou, naturalmente, muito angustiada. Fiquei nervosa quando ele foi levado para o pronto-socorro, me acalmei quando fui informada que ele estava bem, mas fiquei nervosa de novo quando tive que levá-lo a um cirurgião plástico.

Mas isso foi apenas o começo. Porque, depois disso, o cachorrinho da minha filha veio passar a semana na minha casa enquanto ela viajava. O cachorrinho pelulo, uma mistura de poodle e Deus sabe o quê, imediatamente entrou em guerra com o meu gato, e a guerra durou toda a semana. Eles se perseguiam e provocavam um ao outro sem parar. Meu gato acabou deprimido, na certa se perguntando que diabos aquele animal estranho estava fazendo na sua casa, mas o cachorrinho estava no mais alto astral. Durante toda a semana, ele exigiu atenção constante. Vivia cheio de energia. Podia subir e descer as escadas um milhão de vezes. Comeu o cabo do celular da minha filha, uma caixa cheia de passas (includindo a caixa), uma caixa de sapatos, um livro do qual eu gostava muito, e umas doze borrachinhas de ouvido cor de abóbora que, bem, nem preciso dizer por onde saíram... Durante a estadia dele na minha casa, acabei deslocando o joelho porque tive de levá-lo para andar muitas vezes. Ele também perturbou minha concentração no trabalho. Durante a semana, aconteceu de eu estar trabalhando em casa das 7 da manhã às 1 da manhã, tentando ignorar toda essa confusão e fingindo que eu era uma super-mulher ...

O cachorrinho foi embora no domingo. Na segunda-feira, limpei a casa com um vigor que só uma mulher brasileira pode ter. Daí, meu joelho piorou. Desde terça-feira, tenho trabalhado sentada na cama com as pernas esticadas, com gelo no meu joelho, o laptop no meu colo, e meu gato tentando sentar em cima da mouse. Afinal, ele sentiu saudades dessa proximidade, enquanto o cachorrinho estava aqui em casa.

A semana começou e terminou com animais. Começou e terminou com problemas de saúde. Começou e terminou com caos. Por favor, perdoe-me se não pude escrever um blog inspirado sobre diferenças culturais ou minhas opiniões sobre o mundo. Estou de volta. Mas, puxa vida, que semaninha !!!!!

Photo: Cléo Rogatko