Thursday, September 9, 2010

The Bonfires of Ignorance (As Fogueiras da Ignorância)


I set aside a few books to return to the Northampton library today. As I always do on these occasions, I reflect on the many authors and many subjects that would still be unfamiliar to me if it weren’t for this library. I am thankful for it, and for the books and the role they have always played in my life.
Today, I am thinking even more about this because of the controversy I have been following in the newspapers regarding a pastor from a Baptist church in Florida, US, who had decided to burn the Koran as a reminder of the tragedy that happened on 9/11. He had originally said that the book "reveals the true colors of Islam," and he wanted to see what could be done "to really show the dangers of what happened that day." I think about the man, and his desire to burn books, and realize that unfortunately he has lots of company. Throughout the ages, countless books were burned. They were all destroyed in the bonfires of ignorance.

The web-based encyclopedia Wikipedia has a list of 86 notable historic book burning incidents. Just to mention a few of them:

• Christian books were burned by a decree of Roman Emperor Diocletian in 303, calling for an increased persecution of Christians.
• The library of the Serapeum in Alexandria was trashed, burned and looted, in 392, at the decree of Theophilus of Alexandria, following orders of Roman Emperor Theodosius I.
• The Royal Library of the Samanid Dynasty was burned at the turn of the 11th century during the Turkic invasion from the east
• The House of Wisdom was destroyed during the Mongol invasion of Baghdad in 1258, along with all other libraries in Baghdad. It was said that the waters of the Tigris ran black for six months with ink from the enormous quantities of books flung into the river.
• Countless books were destroyed after the publication of the Catholic "Index" (list of prohibited book in the 16th Century.)
• The Library of Louvain was burnt to the ground in the wake of the German advance in 1914. It was burnt to the ground a second time in 1940.
• Book-burnings took place after the Nazis took power in 1933. Piles of books by Jewish, communist, or 'degenerate' authors were stacked high and set alight.
• During the Nazi suppression of the Warsaw Uprising of 1944 the Załuski Library - the oldest public library in Poland and one of the oldest and most respectable libraries in Europe - was burned down
• In 1953 United States Senator Joseph McCarthy convinced the Eisenhower State Department to remove from its overseas librarians "material by any controversial persons, Communists, fellow travelers, etc."
• Copies of Salman Rushdie's Satanic Verses were burnt in the UK after Iranian Muslim leader Ayatollah Khomeini issued a fatwa against the author.
• Following the 2003 invasion of Iraq, Iraq's national library and the Islamic library in central Baghdad were burned and destroyed.
Aside the ones I mentioned, there were several other instances of book burning. Many of them were the result of wars and political persecution. Most of them were the result of decrees written by governors opposing certain religious points of view. All of them tried to extinguish ideas and succeeded only in spreading them even farther. When the bonfire is lit and the books are burned, their small pieces, instead of vanishing, spread in the air, get wings, and fly around the world whispering to everyone the contents of the books destroyed. The countless Spiritists books burned in 1861, during the famous Auto-Da-Fe event, promoted by the Catholic Church in Barcelona, Spain, definitely did not disappear. The New Testament burned in 1984 in Jerusalem by Orthodox Jews is still alive. The cover of the books and the pages inside them might have been destroyed, but their ideas are still alive.
After many countries staged protests against the Koran burning, the pastor changed his mind and decided not to burn it anymore. I hope that after 9/11 comes and goes this year, we think about it as a day in which many people died, but also as a day when the world came together against ignorance and against book burning. From the ashes of sadness and darkness, there is always hope that a new life will blossom.

AS FOGUEIRAS DA IGNORÂNCIA

Separei alguns livros para devolver para a biblioteca de Northampton hoje à tarde. Como sempre faço nessas ocasiões, fiquei pensando sobre os vários autores e muitos assuntos que ainda desconheceria se não fosse pela biblioteca. Sou grata pela biblioteca, pelos livros e pelo papel que eles desempenham na minha vida.

Hoje estou mais ligada nesse assunto por causa da controvérsia que ando acompanhando nos jornais sobre um pastor de uma igreja batista, na Flórida, EUA, que tinha decidido queimar o Alcorão para lembrar a tragédia que aconteceu há nove anos no dia 11 de setembro. Ele disse que o livro “revela a verdadeira face do Islã”, e ele queria ver o que poderia ser feito “para realmente mostrar o perigo daquele dia”. Fico pensando sobre aquele homem e seu desejo de queimar livros, e constato que, infelizmente, ele tem muita companhia. Através dos séculos, inúmeros livros foram queimados. Foram todos destruídos nas fogueiras da ignorância.

A enciclopédia da internet Wikipedia tem uma lista de 86 incidentes históricos de queima de livros. Só para citar algumas deles:

• Em 303, livros cristãos foram queimados por um decreto do imperador romano Diocleciano, que pregava a ampliação da perseguição aos cristãos.
• A biblioteca de Separeum, em Alexandria, foi queimada e saqueada em 392, por decreto de Teófilo de Alexandria, seguindo as ordens do imperador romano Teodósio I.
• A biblioteca real da dinastia samânida foi queimada na virada do século 11, durante a invasão turca vinda do leste.
• A Casa da Sabedoria foi destruída durante a invasão mongol de Bagdá em 1258, juntamente com todas as outras bibliotecas em Bagdá. Dizem que as águas do Tigre se tornaram pretas por seis meses com a tinta da enorme quantidade de livros lançados no rio.
• Inúmeros livros foram destruídos após a publicação do "Índice Católico" (lista dos livros proibidos no século 16).
• A Biblioteca de Louvain foi queimada inteiramente, na esteira do avanço alemão em 1914. Foi queimada pela segunda vez em 1940.
• Queima de livros ocorreram depois que os nazistas tomaram o poder em 1933. Pilhas de livros escritos por judeus, comunistas, ou autores "degenerados" foram queimadas.
• Durante a repressão nazista da Revolta de Varsóvia, em 1944, a Biblioteca Załuski - a mais antiga biblioteca pública da Polonia e uma das bibliotecas mais antigas e respeitáveis da Europa - foi incendiada
• Em 1953, o senador dos EUA Joseph McCarthy convenceu o Departamento de Estado de Eisenhower a retirar das suas bibliotecas estrangeiras "material escrito por qualquer pessoa controversa, comunistas, viajantes, etc".
• Cópias do livro “Satanic Verses”, de Salman Rushdie, foram queimadas na Inglaterra depois que o líder muçulmano iraniano Ayatollah Khomeini emitiu uma "fatwa" contra o autor.
• Após a invasão do Iraque em 2003, a Biblioteca Nacional do Iraque e a Biblioteca Islâmica no centro de Bagdá foram queimadas e destruídas.

Além dos que citei, há muitos outros casos de queima de livros. Muitos deles resultaram de guerras e perseguições políticas. A maioria resultou de decretos escritos por governadores opondo-se a determinados pontos de vista religiosos. Todos eles tentaram exterminar ideias e só conseguiram espalhá-las ainda mais. Quando a fogueira é acesa e os livros são queimados, os pedaçinhos de papel, em vez de desaparecer, se espalham pelo ar, criam asas e voam pelo mundo sussurrando a todos os segredos dos livros que foram destruídos. Os inúmeros livros espíritas, queimados em 1861 no famoso evento Auto-De-Fé, promovido pela igreja católica de Barcelona, na Espanha, definitivamente não desapareceram. O Novo Testamento, queimado em março de 1984 em Jerusalém pelos judeus ortodoxos, ainda está vivo. A capa e as páginas dos livros podem ter sido destruídas, mas as ideias permanecem.

Depois que muitos países protestaram contra a queima do Alcorão, o pastor mudou de ideia e decidiu não queimá-lo. Espero que este ano, quando 11 de setembro chegar e passar, nós nos lembremos dele como um dia em que muitas pessoas morreram, mas também como um dia em que o mundo se uniu para protestar contra a ignorância, contra a queima de livros. Das cinzas da tristeza e da escuridão, há sempre espaço para que uma nova vida desabroche.


Photo: Commons, public domain - St. Dominic de Guzman and the Albigensians. Panel by Berruguete, 15th century.

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