Sunday, May 30, 2010
The Body Of A Woman (O corpo de uma mulher)
My friend is on the bed by my side, trying to read his book and almost falling sleep. I say my friend, but the man by my side is, in fact, my significant other. I refuse to use this word because I dislike it very much (in English and in Portuguese) so I am glad that we are getting married pretty soon and I will be able to call him my husband. But, the fact that we are getting married, makes me realize that I have a problem: I need to lose weight.
Last week, my sister and I had a long discussion about this. She told me she had lost weight and I asked her to tell me exactly how she did it. This resulted in a lengthy conversation, with explanations about fruits, chocolates, drinks, what was allowed and what was not. Now, I have a plan to lose weight on my refrigerator. I hope I am able to stick to it.
I am concerned about the pictures. I am sure that anyone in my family who looks at the pictures for my wedding is going to remark about my weight. You see, I come from a family where weight seems to be of outmost importance. People in general don’t say “Oh, she was so happy.” They say “She was looking very good; she lost a lot of weight…”
I try to remember the times that I was skinner and I don’t think that I was happier then than I am now. In fact, I am sure that I was unhappier. However, like everyone else in my family, I obsess about weight. Even though I am aware that weight has nothing to do with happiness, it seems that the weight issue, in my mind, works in an opposite direction of wealth: more weight equals less contentment, while more wealth equals more contentment.
It is not only a prerogative of my family to worry about weight. In the US, the whole society, in fact, seems to be consumed by dieting. While the population, in general, becomes more obese (In 2008, only the state of Colorado had a prevalence of obesity less than 20%), the artists and models who illustrate the magazines appear to be sickly skinny.
The ideal female body changed a lot throughout ages. In the 1600, a “beautiful” woman was full of curves, like in the famous painting "The Three Graces", by the Flemish painter Rubens. In the 1800, they were still curvilinear, as shown by Renoir in his picture “The Bathers” a nude of a few curvy women close to a creek. In 1950, Marilyn Monroe became very famous. She wore a size 14 and was far from being skinny. From the 1950’s on, the “ideal” of women started to shrink. Nowadays, we would need two actresses the size of Angelina Jolie to fill one of Marilyn Monroe tight dresses….
And what happened with the men while the women were condemned to almost disappear? Well, Humphrey Bogart, who made many movies until his death in January 1957, has about the same body type as George Clooney or Brad Pitt. In 2010, a man still needs to have a lot of muscle and some meat on his bones to be considered sexy. As for the woman, the meat is gone: only the bones appear under the cleavage.
We know that it is unfair to ask for a woman to be so skinny and deprive herself of all the sweets in the world, while the men enjoy food as much as they want. But, which woman dares to feel good about herself if she doesn’t fit the model that the magazines and the movies force on her? It is hard not to feel self-conscious about our body when the entire world seems to be worried about it. That is why I am heading to my refrigerator to take a look at my diet list and see what (if anything) I can eat.
O CORPO DA MULHER
Meu amigo está na cama ao meu lado, tentando ler um livro e quase caindo de sono. Digo meu amigo, mas o homem ao meu lado é, na verdade, o meu namorido. Eu me recuso a usar essa palavra, porque não gosto dela (nem em inglês e nem em português). Por isso estou contente que vamos nos casar em breve e poderei chamá-lo de marido. Mas quando penso no casamento, me dou conta de um problema: Preciso emagrecer.
Na semana passada, eu e minha irmã tivemos uma longa conversa sobre isso. Ela me disse que tinha emagrecido e eu lhe pedi para me dizer exatamente como conseguiu perder peso. Isto resultou em uma detalhada explicação sobre frutas, chocolates, bebidas, o que era permitido e o que não era. Agora, grudei na geladeira um plano para emagrecer. Espero que seja capaz de segui-lo.
Estou preocupada com as fotos. Tenho certeza de que todos na minha família que verem as fotos do meu casamento farão algum comentário a respeito do meu peso. Acontece que venho de uma família onde gordura parece ser extremamente importante. As pessoas em geral não dizem "Oh, ela parecia tão feliz." Mas dizem: "Ela está tão bem; emagreceu bastante."
Tento me lembrar dos tempos em que eu estava mais magra e não acho que eu era mais feliz do que sou agora. Na verdade, tenho certeza que era mais infeliz. No entanto, como todo mundo na minha família, sou obcecada com peso. Mesmo que saiba em teoria que peso não tem nada a ver com felicidade, parece que a questão do peso, na minha cabeça, tem uma relação oposta à riqueza: mais peso significa menos felicidade, enquanto mais riqueza significa mais felicidade.
Mas se preocupar com peso não é só uma prerrogativa da minha família. Nos EUA, a sociedade inteira parece ser consumida pela ideia de fazer regime. Enquanto a população, em geral, torna-se mais obesa (Em 2008, somente o estado do Colorado teve uma taxa de obesidade abaixo de 20%), os artistas e modelos que ilustram as revistas parecem ser até doentes de tão magros.
O ideal feminino de corpo mudou muito através dos séculos. Em 1600, uma mulher bonita era cheia de curvas, como no famoso quadro "As Três Graças", do pintor flamengo Rubens. Em 1800, elas ainda estavam curvilíneas, como pode se ver no quadro de Renoir "As Banhistas", que mostra um grupo de mulheres nuas perto de um riacho. Em 1950, Marilyn Monroe se tornou muito famosa. Ela usava manequim 46 e estava longe de ser magra. A partir da década de 1950, o corpo "ideal" das mulheres começou a encolher. Hoje, precisaríamos de duas atrizes do tamanho de Angelina Jolie para preencher um dos vestidos (justos) de Marilyn Monroe ...
E o que aconteceu com os homens enquanto as mulheres eram condenadas a quase desaparecer? Bem, Humphrey Bogart, que fez muitos filmes até sua morte em janeiro de 1957, tem o mesmo tipo de corpo de George Clooney e Brad Pitt. Em 2010, um homem ainda precisa ter um monte de músculos e alguma carne tampando os ossos para ser considerado sexy. Quanto à mulher, a carne desapareceu: só os ossos aparecem sob o decote.
Sabemos que é injusto pedir a uma mulher que seja tão magra e prive-se de todos os doces do mundo, enquanto os homens comem o que bem entendem. Mas, que mulher se atreve a se sentir bem no próprio corpo, se ela não se encaixa no modelo que as revistas e filmes impoem a ela? É difícil não se sentir autoconsciente, quando o mundo inteiro parece preocupado com gordura. É por isso que estou indo lá na geladeira para dar uma olhada na minha lista de regime e ver o que posso (ou não) comer.
Photo: The Three Graces, Rubens, Web Gallery of Art.
Tuesday, May 25, 2010
Graduation time (A formatura)
Yesterday, very early in the morning, I started my drive to Bethlehem, PA. I had already driven to that town countless times, but yesterday the drive had a special meaning for me: I was going to attend the graduation ceremony of my son at Lehigh University. After four years, he was finally getting his degree in anthropology. My friend was taking his car and meeting me mid-way. I had a lot of time by myself to think.
The road to Bethlehem is very beautiful. It passes through fields full of corn, beautiful old farmhouses built of stone, meadows with cattle, horses and llamas. There is even a castle on the way that never fails to astonish me. But yesterday I was paying more attention to my thoughts than to the landscape.
I was thinking about the day I fought with a school principal because of my son. We had just moved back from France and my son’s English wasn’t very good. When he took a test to be admitted to the gifted program, even though he got excellent scores the principal wanted to keep him out because of his poor English. I told the principal that my son would catch up with the other kids and that, if he didn’t trust him, I did. Of course, my son joined the program and excelled in it. I never regretted standing up for him.
I was also thinking about the day that he won some contest on reading and went to a mall to receive the prize. He was still very young, in the elementary school, and was so proud of the shirt he received for his accomplishment.
During the drive, many scenes from my son’s childhood came back to my mind. I traveled in my imagination to the times we lived in New York, Ecully, Dardilly and Richboro. I remembered visiting castles in France, going to museums in New York, or just staying home and playing with Ninja Turtles. I remembered also a friend of mine who once told me that our children were like darts that we throw to the world and never know where they are going to land. Listening to him, I thought I didn’t agree with that concept. Yes, children are like darts. But we can, at least, try to give them a little sense of direction.
I am glad that my son seems to be moving in the right direction. While I drove for those 2 hours, I could just think about how proud I was of how far he has already gone with his life.
A FORMATURA
Ontem de manhã bem cedo, saí de carro em direção a Bethlehem, no estado da Pensilvânia. Eu já havia ido para aquela cidade inúmeras vezes, mas ontem a viagem tinha um significado especial: eu estava indo para a cerimônia de formatura do meu filho na Universidade de Lehigh. Depois de quatro anos de estudo, ele finalmente estava se formando em antropologia. Meu amigo ia me encontrar no meio do caminho. Eu tinha muito tempo sozinha para pensar.
A estrada para Bethlehem é muito bonita. Atravessa campos cheios de milho, casas antigas lindas, toda de pedras, fazendas com gado, cavalos e lhamas. Há até mesmo um castelo que nunca deixa de me surpreender. Mas ontem eu estava prestando mais atenção nos meus pensamentos do que na paisagem.
Estava pensando sobre o dia em que discuti com um diretor de escola por causa do meu filho. Tínhamos acabado de nos mudar de volta da França e o inglês do meu filho não era muito bom. Quando ele fez um teste para ser admitido no programa de crianças superdotadas, obteve resultados excelentes, mas o diretor queria exclu¬i-lo do programa por causa do inglês. Eu disse ao diretor que meu filho iria acompanhar as outras crianças e que, se ele não confiava no meu filho, eu confiava. É claro que meu filho entrou para o programa e se destacou nele. Nunca me arrependi de fazer pé firme e defendê-lo.
Também estava me lembrando do dia em que ele ganhou um concurso de leitura e fomos a um shopping para receber o prêmio. Ele ainda estava no primeiro grau e ficou super orgulhoso da camisa que ganhou.
Durante a viagem, muitas cenas da infância do meu filho voltaram à minha mente. Viajei na minha imaginação aos tempos em que moramos em Nova York, Ecully, Dardilly e Richboro. Lembrei-me dos castelos que visitamos na França, dos museus que vimos em Nova York, ou simplesmente do tempo que passamos em casa brincando com as Tartarugas Ninja. Lembrei-me também de um amigo que me disse uma vez que os nossos filhos eram como flechas. Nós os atiramos ao mundo sem nunca saber onde vão parar. Ouvindo-o, pensei que não concordava com aquele conceito. De fato as crianças são como flechas. Mas podemos, pelo menos, tentar dar-lhes um senso de direção.
Fico contente por saber que meu filho parece estar indo na direção certa. Enquanto eu dirigia aquelas duas horas, só conseguia pensar em como eu estava orgulhosa por tudo o que ele já tinha feito na vida.
Tuesday, May 18, 2010
Brazilian vs. American birthdays
There are seconds that seem to last longer than centuries. Twenty five years ago, as I lay exhausted in bed at a hospital in Sao Paulo, after delivering my baby daughter, my ex-husband came to me and said: “Dete, everything is fine but…” In the seconds that he took to explain that she was underweight and would need to be kept in an incubator for a while, my heart almost stopped. I imagined the most horrible things… Those few seconds stretched into forever.
But after those few interminably long seconds, time passed by so fast….Today my daughter is a healthy young woman. Since yesterday was her birthday, I am yanked down memory lane, thinking about her many birthdays celebrated either here, in the US, or in France, where we lived for awhile. My daughter left Brazil when she was just 3 months old and never had a typical Brazilian birthday party. She grew up used to inviting a small number of friends for her birthday celebrations. Her relatives were never there for the occasion of her birthday. My ex-husband and I were usually the only adults present.
If she were to celebrate her birthday in Brazil, the party would have been totally different. I remember the birthday party for my oldest daughter when she turned two. We lived in Brazil, in the outskirts of Sao Paulo. Even though it was winter, the party was in the garden. Adults and children were invited and there were a lot of relatives. In the middle of the place where the celebration was, we set a big table totally covered with small sweets: brigadeiros, olho de sogra, beijinhos, cajuzinhos – all typical Brazilian sweets for birthday parties. There were also hot dogs, with a ground beef sauce, and other typical Brazilian foods. For drink, there was warm wine for the grownups, and sodas for the children. The people who were at the party were our friends – not only my daughter’s, but also friends of my ex-husband and I. We didn’t print any invitations. The guests were told that the party would start at a certain time, but nobody was expected to leave at a specific hour. The party was over when the last guest decided to leave.
When we first moved to the US, I was surprised to see that the kids expected that games would be organized for them during their birthday parties. Growing up, whenever I went to a birthday party the children would be running wild, playing with balls and throwing things at each other (sometimes even the sweets!)… We didn’t have a clown to entertain us, a pony to give us rides, or a videogame that we could play with. But the parties were so much fun. Why do the children nowadays need someone else to entertain them?
I have many questions about birthday parties. Are they more fun in Brazil or in the US? Were they better when I was growing up or now? One thing I know for sure: the best thing to do on a birthday is to celebrate it with a few friends who like you, no matter what. For her 25th birthday, five of my daughter’s friends went to her house unexpectedly. They brought beer, cupcacakes, and one mango. I guess they knew that my daughter would not settle for anything common place: she is a unique person.
ANIVERSÁRIOS BRASILEIROS E AMERICANOS
Alguns segundos parecem que duram séculos. Vinte e cinco anos atrás, em um hospital de São Paulo, eu estava deitada na cama, exausta depois do nascimento da minha filha, quando meu ex-marido chegou e disse: "Dete, está tudo bem, mas..." Naquele segundo que ele levou para me explicar que o bebê pesava pouco e precisaria passar um tempo na incubadora, meu coração quase parou. Imaginei os cenários mais horríveis... Aqueles segundos foram os mais compridos da minha vida.
Mas depois daqueles segundos incomensuráveis, o tempo passou tão rápido... Minha filha hoje é uma mulher saudável. Já que ontem era seu aniversário, fiquei pensando em todos os aniversários que ela tinha celebrado aqui, nos EUA, e na França, onde moramos algum tempo. Minha filha saiu do Brasil com três meses de idade e nunca teve uma festa tipicamente brasileira. Cresceu acostumada a fazer uma lista de amigas para convidar para seu aniversário, e escolher um local onde iria celebrá-lo. Nenhum parente jamais veio para sua festa. Meu ex-marido e eu éramos normalmente os únicos adultos presentes.
Se estivesse comemorando seu aniversário no Brasil, a festa teria sido totalmente diferente. Lembro-me do segundo aniversário da minha filha mais velha. Naquela época, a gente morava no Brasil, na periferia de São Paulo. Embora estivéssemos no inverno, a festa foi no jardim. Adultos e crianças foram convidados. Havia um monte de parentes. No meio do balcão onde seria a festa, colocamos uma mesa grande, totalmente coberta com docinhos: brigadeiros, olhos de sogra, beijinhos, cajuzinhos - todos os doces brasileiros típicos de festas de aniversário. Havia também cachorros-quentes, com um molho de carne moída, e outras comidas típicas brasileiras. Para beber, havia vinho quente para os adultos, e refrigerantes para as crianças. As pessoas que vieram à festa eram nossos amigos - amigos não só da minha filha, mas do meu ex-marido e meus amigos também. Não mandamos convites. Os convidados foram informados de que a festa iria começar a um determinado momento, mas ninguém tinha de ir embora a uma hora específica. A festa acabou quando o último convidado decidiu ir embora.
Quando mudei para os EUA, fiquei surpresa quando vi que as crianças esperavam que alguém organizasse brincadeiras para suas festas de aniversários. Quando eu era criança, nas festas de aniversário a gente corria de um lado para o outro, jogava bola, jogava coisas nas outras crianças (às vezes até mesmo os doces!) ... Não tínhamos um palhaço para nos divertir, um pônei para nos puxar de um lado para o outro, ou videogames para a gente jogar. Mas as festas eram tão divertidas. Por que hoje em dia as crianças precisam de alguém para diverti-las?
Festas de aniversário me fazem pensar muito. Será que elas são mais divertidas no Brasil ou nos EUA? Será que eram melhores na minha infância ou agora? Uma coisa sei com certeza: não tem nada melhor do que um aniversário comemorado com alguns amigos que gostam de você, não importa o quê. No seu aniversário de 25 anos, cinco amigas da minha filha apareceram na casa dela inesperadamente. Levaram cerveja, cupcacakes, e uma manga. Acho que sabiam que minha filha não ficaria contente com alguma coisa comum: ela é uma pessoa muito diferente.
Tuesday, May 11, 2010
New York (Nova York)
I am waiting for my train to leave New York. Once it departs, it will take me only 82 minutes to get to the train station close to my house in Newtown, PA. I came here early in the morning, and by 3:30pm I should be back home. The trip doesn’t take long but it feels like Newtown and New York are an ocean apart.
I have mixed feelings regarding New York. I lived here for 5 years so the city feels very familiar to me. It was in New York that my son was born, my younger daughter took her first steps, my oldest daughter went to school for the first time. My ex-husband and I arrived here from Brazil with 5 suitcases and a lot of dreams. We left our house in Sao Paulo and most of our belongings. We were here to start a new life.
I guess the first lesson that I learned in New York was humility. In Brazil, I was a journalist, someone who knew how to behave in most situations. In NY I was just a woman who looked Spanish, almost didn’t speak English, didn’t know the rules of the place, and didn’t have money. I figured out very soon how the poor and illiterate in Brazil must have felt when they were mistreated by people who were better off than they…
I was walking in the city today, thinking about all these things. All the while, I was admiring the women dressed so fashionably, the yellow taxis and red buses with tourists, the million bulletin boards flashing their messages to passersby on the streets. So many things seemed to be happening at the same time… There were the street vendors selling the most unusual merchandises like sheets made with Egyptian cotton, teenagers giving out samples of orange juice, some sort of celebration for National Train Day (My God, who have ever heard about that?) and, of course, tourists from all over the world.
I passed Times Square and mused about the Pakistani who had left a bomb there last week. Why had he done that? One simple question with so many complicate answers… The people sitting at the square didn’t seem worried about what had happened and were just enjoying the sunny day. I also enjoyed it, not aware that, one hour earlier, the police had evacuated and shut down the place because of two suspicious packages. Later, it turned out that the packages contained only bottled water and books.
When I was crossing Times Square, I was trying to find some pigeons to photograph. I have this very interesting cousin who is an excellent photographer and takes pictures of pigeons from all over the world. But the pigeons from New York know better than to be in Times Square in the middle of all the noise and commotion…
All the excitement that I encounter in New York always ends up making me tired. I love being here for awhile, but love it even more when I am back home. I couldn’t live anymore in a city where there is so much happening in the streets, so many temptations, that it is difficult to pay attention to what happens inside ourselves.
My train is departing now. Soon, I will be home. If the mailman is done with his nap, which he takes everyday sitting in his truck, after delivering my mail and proceeding to his next stop, I will go get the mail. Birds will be singing, kids will be riding their bikes, and my house will be quiet as always. My cat will open one eye to welcome me and go back to do what he does best: sleep. Life in the suburbs can be very calming.
NOVA YORK
Estou esperando que meu trem saia de Nova York. Depois que ele sair, em apenas 82 minutos estarei na estação perto da minha casa em Newtown, no estado da Pensilvânia. Cheguei aqui hoje cedo. Lá pelas três e meia devo estar de volta em casa. A viagem não demora muito, mas às vezes acho que Newtown e Nova York estão separadas por um oceano...
Meus sentimentos a respeito de Nova York são contraditórios. Morei aqui cinco anos e sinto como se a cidade fosse uma velha conhecida. Foi em Nova York que meu filho nasceu, minha filha mais nova deu seus primeiros passos, minha filha mais velha foi à escola pela primeira vez. Meu ex-marido e eu chegamos do Brasil com cinco malas e um monte de sonhos. Deixamos nossa casa em São Paulo e a maioria dos nossos pertences. Estávamos dispostos a iniciar uma nova vida.
Acho que a primeira lição que aprendi em Nova York foi ser humilde. No Brasil, eu trabalhava como jornalista, era alguém que sabia como me comportar na maioria das situações. Em NY me tornei apenas uma mulher Latina, que quase não falava inglês, não sabia as regras do lugar, e não tinha dinheiro. Logo me dei conta de como os pobres e analfabetos no Brasil deviam se sentir quando eram maltratados por pessoas em melhor situação do que eles...
Estava andando pela cidade hoje, pensando em todas essas coisas. Ao mesmo tempo, admirava as mulheres chiquérrimas, os táxis amarelos e os ônibus vermelhos com turistas, os milhões de anúncios luminosos brilhando nas ruas. Tantas coisas pareciam estar acontecendo ao mesmo tempo... Havia vendedores ambulantes vendendo mercadorias suis generis como lençóis de algodão egípcio, adolescentes distribuindo amostras grátis de suco de laranja, uma espécie de comemoração pelo Dia Nacional do trem (quem já ouviu falar disso, meu Deus?) e, claro, turistas de todo o mundo.
Passei numa praça chamada Times Square e pensei sobre o paquistanês que tentou explodir uma bomba lá na semana passada. Por que ele teria feito aquilo? Uma pergunta simples, com tantas respostas complicadas... As pessoas sentadas na praça não pareciam preocupadas com o que tinha acontecido e estavam apenas curtindo o dia ensolarado. Eu também tentei curti-lo, sem saber que, uma hora mais cedo, a polícia havia evacuado e fechado o lugar por causa de dois pacotes suspeitos. Mais tarde, descobriu-se que os pacotes continham apenas garrafas de água e livros.
Quando atravessava o Times Square, tentei achar alguns pombos para fotografar. Tenho um primo muito interessante que é um excelente fotógrafo e tira fotos de pombos de todo o mundo. Mas os pombos de Nova York são malandros e evitam o Times Square, com toda aquela confusão e barulho...
A agitação de Nova York sempre acaba me deixando cansada. Adoro vir passear aqui, mas gosto ainda mais de voltar para casa. Não podia mais viver numa cidade onde há tanta coisa acontecendo nas ruas, tantas tentações, que é quase impossível prestar atenção ao nosso mundo interior.
Meu trem está partindo agora. Em breve, chegarei em casa. Se o carteiro já tiver dado sua dormidinha, o que ele geralmente faz sentado em seu caminhão, depois de deixar minhas cartas e seguir para a sua próxima parada, vou pegar minha correspondência. Os passarinhos estarão cantando, as crianças estarão andando de bicicleta, e minha casa estará tranquila como sempre. Meu gato abrirá apenas um olho para me receber e voltará a fazer o que ele faz de melhor: dormir. A vida nos subúrbios é muito calma.
Monday, May 3, 2010
Writer’s Block (O “bloqueio” do escritor)
Saturday I went to watch the play Writer’s Block, by Woody Allen. The play was at the Spring Garden Mill in Tyler State Park (Newtown, PA), a very interesting place. The Mill was built in 1819, when five acres were sold to a mason who saw the opportunity to power his mill from the waters of the Neshaminy Creek. In 1867, the Mill burned in a fire that left only the stonework of the building. Eleven years later, a new mill interior was built inside the old walls, a front porch was added, and a layer of stucco was applied. By the 1920's, the mill had another owner and was used as a gas station in addition to a grain mill.
In 1976, the Langhorne Players Theater Company, which was founded in 1947 and had already many homes, moved to the Mill. Although the building has since been converted into a theatre, the original architecture has not been altered. The building remains an important example of a grist mill from the early 1800's.
I love to go to the small theater because it always makes me feel like I am traveling back in time. Last year I watched a very good play in there. However, I wasn’t very impressed with the Woody Allen play. I like Woody Allen’s work a lot, but I just could not see any humor in the play. Besides, I thought it was going to be about a writer who lacked inspiration to write. The play did touch the subject a little, but it was mainly a dialogue between the writer and a schizophrenic (his alter-ego?) who sees himself as the writer’s partner, and some sex drama involving the characters created by the writer.
I was curious about the play because the subject “Writer’s Block” appeals to me as a writer. I have personally experienced this drama countless times. I can’t even remember the number of times I sit at the computer, intent on writing, and just stare at the screen not knowing how to start. If I could describe the process in very simple terms, I would say that it is like feeling that I have a word on the tip of my tongue, but not being able to remember it, or like being able to think about the word or even a full set of ideas, but, even before writing anything, already telling myself that the idea is no good at all.
Lately, I agonize a lot about what to write on my blog. Since I live and work in the US, I have to be politically correct. I can’t write about things that might look bad for me if someone is going to offer me a job and decide to Google my name. I am aware that every word I use can, eventually, be used against me. The Internet gives us a lot of freedom, but also gives everybody else as much freedom to spy on us. So, I sit to write and ponder: would this be considered politically correct? The problem of wanting to please everybody is that we usually end up censoring ourselves and not expressing what we really feel.
Today I am experiencing writer’s block. The muse of inspiration decided that she won’t visit me. She is probably outside, playing in the trees that swing wildly with the wind, enjoying the warm air of spring that finally arrived, smelling the flowers that bloom everywhere, refusing to be locked with me, in this office, staring at the computer screen. I can’t blame her….
O "BLOQUEIO" DO ESCRITOR
Sábado fui assistir a peça de Woody Allen, Writer’s Block, que estava passando no Spring Garden Mill, no Tyler State Park (Newtown, PA), um lugar muito interessante. O moinho (mill) foi construído em 1819, por um pedreiro que comprou cinco hectares de terra com o objetivo de aproveitar as águas do riacho Neshaminy para moer grãos. Depois de um incêndio em 1867, sobraram apenas as pedras da construção. Onze anos mais tarde, um novo moinho foi edificado dentro das velhas muralhas, uma varanda foi adicionada, e uma camada de reboco foi aplicada. Em 1920, o moinho já tinha outro dono e passou a ser usado como posto de gasolina, além de moinho de grãos.
Em 1976, a Companhia de Teatro Langhorne Players, fundada em 1947 e que já tinha se apresentado em muitos outros lugares, mudou-se para o Spring Garden Mill. Embora o moinho tenha sido convertido em um teatro, a arquitetura original foi mantida. O edifício continua a ser um exemplo expressivo de um moinho do início de 1800.
Gosto de ir àquele teatro, bem pequeno por sinal, porque sempre me faz sentir como se estivesse voltando atrás no tempo. No ano passado, vi uma peça lá que gostei muito. No entanto, desta vez não fiquei muito impressionada. Gosto muito dos trabalhos de Woody Allen, mas não achei graça nenhuma na peça. Além disso, pensei que seria sobre um escritor que perde a inspiração para escrever. A peça tinha um pouquinho disso, mas era basicamente um diálogo entre o escritor e um esquizofrênico (seu alter-ego?) que se considera parceiro do escritor, e um drama sexual envolvendo os personagens criados pelo escritor.
Estava curiosa a respeito da peça porque o assunto "Bloqueio de Escritor" me interessa como escritora. Pessoalmente, já vivi esse drama inúmeras vezes. Nem sei dizer quantas vezes me sento em frente ao computador, com a intenção de escrever, e só fico olhando para o teclado sem saber como começar. Se pudesse descrever o processo em termos bem simples, diria que é como a sensação de se ter uma palavra na ponta da língua, mas ser incapaz de lembrá-la, ou como pensar numa palavra, ou mesmo num conjunto completo de ideias, mas, mesmo antes de escrever qualquer coisa, se convencer de que a ideia não presta.
Ultimamente, agonizo muito sobre o que escrever no meu blog. Já que moro e trabalho nos EUA, preciso ser politicamente correta. Tenho receio de escrever sobre coisas que possam pegar mal para mim se alguém estiver pensando em me oferecer um emprego e decidir checar meu nome no Google. Sei que cada palavra que uso pode, eventualmente, ser usada contra mim. A internete nos dá muita liberdade, mas também dá a todo mundo o direito de nos espionar. Por isso, sento para escrever e me pergunto: será que este assunto seria considerado politicamente correto? O problema de querer agradar a todos é que geralmente acabamos nos censurando e não expressamos o que realmente sentimos.
Hoje estou com bloqueio de escritor. A musa da inspiração decidiu que não viria me visitar. Ela está provavelmente lá fora, brincando com as árvores que balançam violentamente com o vento, aproveitando o ar quente da primavera que finalmente chegou, cheirando as flores que apareceram por toda parte, e se recusando a ficar trancada comigo, neste escritório, olhando para o teclado do computador. Não posso culpá-la...
Photo: http://www.langhorneplayers.org/
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