Sunday, May 30, 2010

The Body Of A Woman (O corpo de uma mulher)


My friend is on the bed by my side, trying to read his book and almost falling sleep. I say my friend, but the man by my side is, in fact, my significant other. I refuse to use this word because I dislike it very much (in English and in Portuguese) so I am glad that we are getting married pretty soon and I will be able to call him my husband. But, the fact that we are getting married, makes me realize that I have a problem: I need to lose weight.

Last week, my sister and I had a long discussion about this. She told me she had lost weight and I asked her to tell me exactly how she did it. This resulted in a lengthy conversation, with explanations about fruits, chocolates, drinks, what was allowed and what was not. Now, I have a plan to lose weight on my refrigerator. I hope I am able to stick to it.

I am concerned about the pictures. I am sure that anyone in my family who looks at the pictures for my wedding is going to remark about my weight. You see, I come from a family where weight seems to be of outmost importance. People in general don’t say “Oh, she was so happy.” They say “She was looking very good; she lost a lot of weight…”

I try to remember the times that I was skinner and I don’t think that I was happier then than I am now. In fact, I am sure that I was unhappier. However, like everyone else in my family, I obsess about weight. Even though I am aware that weight has nothing to do with happiness, it seems that the weight issue, in my mind, works in an opposite direction of wealth: more weight equals less contentment, while more wealth equals more contentment.

It is not only a prerogative of my family to worry about weight. In the US, the whole society, in fact, seems to be consumed by dieting. While the population, in general, becomes more obese (In 2008, only the state of Colorado had a prevalence of obesity less than 20%), the artists and models who illustrate the magazines appear to be sickly skinny.

The ideal female body changed a lot throughout ages. In the 1600, a “beautiful” woman was full of curves, like in the famous painting "The Three Graces", by the Flemish painter Rubens. In the 1800, they were still curvilinear, as shown by Renoir in his picture “The Bathers” a nude of a few curvy women close to a creek. In 1950, Marilyn Monroe became very famous. She wore a size 14 and was far from being skinny. From the 1950’s on, the “ideal” of women started to shrink. Nowadays, we would need two actresses the size of Angelina Jolie to fill one of Marilyn Monroe tight dresses….

And what happened with the men while the women were condemned to almost disappear? Well, Humphrey Bogart, who made many movies until his death in January 1957, has about the same body type as George Clooney or Brad Pitt. In 2010, a man still needs to have a lot of muscle and some meat on his bones to be considered sexy. As for the woman, the meat is gone: only the bones appear under the cleavage.

We know that it is unfair to ask for a woman to be so skinny and deprive herself of all the sweets in the world, while the men enjoy food as much as they want. But, which woman dares to feel good about herself if she doesn’t fit the model that the magazines and the movies force on her? It is hard not to feel self-conscious about our body when the entire world seems to be worried about it. That is why I am heading to my refrigerator to take a look at my diet list and see what (if anything) I can eat.

O CORPO DA MULHER

Meu amigo está na cama ao meu lado, tentando ler um livro e quase caindo de sono. Digo meu amigo, mas o homem ao meu lado é, na verdade, o meu namorido. Eu me recuso a usar essa palavra, porque não gosto dela (nem em inglês e nem em português). Por isso estou contente que vamos nos casar em breve e poderei chamá-lo de marido. Mas quando penso no casamento, me dou conta de um problema: Preciso emagrecer.

Na semana passada, eu e minha irmã tivemos uma longa conversa sobre isso. Ela me disse que tinha emagrecido e eu lhe pedi para me dizer exatamente como conseguiu perder peso. Isto resultou em uma detalhada explicação sobre frutas, chocolates, bebidas, o que era permitido e o que não era. Agora, grudei na geladeira um plano para emagrecer. Espero que seja capaz de segui-lo.

Estou preocupada com as fotos. Tenho certeza de que todos na minha família que verem as fotos do meu casamento farão algum comentário a respeito do meu peso. Acontece que venho de uma família onde gordura parece ser extremamente importante. As pessoas em geral não dizem "Oh, ela parecia tão feliz." Mas dizem: "Ela está tão bem; emagreceu bastante."

Tento me lembrar dos tempos em que eu estava mais magra e não acho que eu era mais feliz do que sou agora. Na verdade, tenho certeza que era mais infeliz. No entanto, como todo mundo na minha família, sou obcecada com peso. Mesmo que saiba em teoria que peso não tem nada a ver com felicidade, parece que a questão do peso, na minha cabeça, tem uma relação oposta à riqueza: mais peso significa menos felicidade, enquanto mais riqueza significa mais felicidade.

Mas se preocupar com peso não é só uma prerrogativa da minha família. Nos EUA, a sociedade inteira parece ser consumida pela ideia de fazer regime. Enquanto a população, em geral, torna-se mais obesa (Em 2008, somente o estado do Colorado teve uma taxa de obesidade abaixo de 20%), os artistas e modelos que ilustram as revistas parecem ser até doentes de tão magros.

O ideal feminino de corpo mudou muito através dos séculos. Em 1600, uma mulher bonita era cheia de curvas, como no famoso quadro "As Três Graças", do pintor flamengo Rubens. Em 1800, elas ainda estavam curvilíneas, como pode se ver no quadro de Renoir "As Banhistas", que mostra um grupo de mulheres nuas perto de um riacho. Em 1950, Marilyn Monroe se tornou muito famosa. Ela usava manequim 46 e estava longe de ser magra. A partir da década de 1950, o corpo "ideal" das mulheres começou a encolher. Hoje, precisaríamos de duas atrizes do tamanho de Angelina Jolie para preencher um dos vestidos (justos) de Marilyn Monroe ...

E o que aconteceu com os homens enquanto as mulheres eram condenadas a quase desaparecer? Bem, Humphrey Bogart, que fez muitos filmes até sua morte em janeiro de 1957, tem o mesmo tipo de corpo de George Clooney e Brad Pitt. Em 2010, um homem ainda precisa ter um monte de músculos e alguma carne tampando os ossos para ser considerado sexy. Quanto à mulher, a carne desapareceu: só os ossos aparecem sob o decote.

Sabemos que é injusto pedir a uma mulher que seja tão magra e prive-se de todos os doces do mundo, enquanto os homens comem o que bem entendem. Mas, que mulher se atreve a se sentir bem no próprio corpo, se ela não se encaixa no modelo que as revistas e filmes impoem a ela? É difícil não se sentir autoconsciente, quando o mundo inteiro parece preocupado com gordura. É por isso que estou indo lá na geladeira para dar uma olhada na minha lista de regime e ver o que posso (ou não) comer.


Photo: The Three Graces, Rubens, Web Gallery of Art.

2 comments:

  1. Mais uma vez, adorei seu texto. Como uma das poucas representantes cheinhas da família, sinto na pele o que você relatou. Mesmo me sentindo feliz e bonita, "é difícil não se sentir autoconsciente, quando o mundo inteiro parece preocupado com gordura."
    Fiquei feliz por saber de seu casamento. Parabéns!
    Beijos

    ReplyDelete
  2. Vc tem mesmo certeza de que "todos" na sua família farão comentários sobre o seu peso? Estou fora! Será que não faço parte dessa família?
    Se quer perder uns quilinhos, vá em frente, mas não me coloque nesse "todos".
    Vc sabe que é bonita, interessante, enfim, uma mulher de peso. O que importa é que esteja feliz e continue fazendo feliz esse namorido que está ao seu lado ansioso para tornar-se o seu marido. Beijos.

    ReplyDelete