Many times I think I won’t write ever again. And then, out of nowhere, comes the inspiration. One smell, one sound, one thought, one desire… Like an old lover, who knows so easily how to lure us to his arms, one small thing is enough to bring me back to my old passion: writing.
For the last two weeks, I have this craving for bocaiuva ice cream. I keep thinking about how delicious the ice cream tastes and how wonderful it was when I used to have it as a kid. Growing up in Brazil in a small town on the border with Bolivia, in the early evenings when the weather was hot (which was about 99% of the time) we used to pile in my father’s car, usually an old pick up or a VW wagon, and go out to get the ice cream. The fat lady (Oh, we were so politically incorrect at that time!) had an ice cream store on Frei Mariano street, right in front the Praça da Independência, or The Garden as we knew the park. We drove there, got our ice cream, climbed in the car again and started our slow drive down the Frei Mariano street, making a left on the Avenida to drive until the end of it, and from there to where my father’s imagination would take him. In the days that he was more inspired to drive, we would go all the way to the Old train station or to Ladario. The windows of the car would be open. A warm breeze would threaten to melt our ice cream if we didn’t finish it fast, but we enjoyed it slowly as we enjoyed the drive through town, listening to my parents’ conversation and just admiring the landscape.
The Frei Mariano was filled with activity. In the coffee shops, men caught up on the news, some just standing outside, smoking and gossiping with friends. The Avenida, with its elegant palm trees on both sides, provided a beautiful view of the Paraguay River, on the right. The streets leading to it had many historic houses, painted in bright colors, that attracted our attention less than the kids running around, the dogs, and the chickens loose on the streets, which we always saw when we drove towards the old train station. We took in all of these sights slowly, enjoying them without hurry like we enjoyed our ice cream. My father drove slowly. We didn’t have a TV and there was no hurry to go back home to watch a soap opera. Internet was something that we couldn’t even imagine. We had time.
Last week, I had to buy something in a hurry and went to a Walmart store in a neighborhood where I usually don’t go. It turned out that it was a Super Walmart so big, that I was afraid I would get lost in there. One minute there and I asked my husband if we could leave. I just couldn’t bear to stay in the store that stretched forever, crowded with a multitude of people who were probably dazed by the number of choices they were forced to make. Why so many choices? Why have we always thought more was better?
I guess it was after that quick visit to WalMart that I started craving bocaiuva ice cream. Thinking back, there weren’t many flavors in the store where we got it. But we didn’t need many. We needed only one ice cream made with love, not a thousand products shipped all the way from China without love but, of course, inexpensive. We needed the comfort of the quiet conversation of our parents, the warm feeling of the wind on our faces, the sight of the people on the streets, always talking with each other, and the sensation of security. That was home. That was where our hearts belonged
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SORVETE DE BOCAIUVA
Muitas vezes acho que não vou mais escrever. De repente, como que do nada, vem a inspiração. Um cheiro, um som, um pensamento, um desejo ... Como um velho amante, que sabe tão facilmente nos atrair para seus braços, uma coisinha qualquer é suficiente para me levar de volta a minha antiga paixão: escrever.
Há duas semanas ando com vontade de tomar sorvete de bocaiuva. Fico lembrando do gosto delicioso dele e de como era maravilhoso quando eu era criança e a gente ia tomá-lo. Naquela cidadezinha do Brasil, na fronteira com a Bolívia, quando a noite caía e fazia calor (o que acontecia mais ou menos 99% do tempo) nós costumávamos nos empilhar no carro do meu pai, uma Pickup ou uma Kombi, e sair para tomar sorvete. A gorda (Ah, nós éramos tão politicamente incorretas naquela época!) tinha uma sorveteria na rua Frei Mariano, em frente da Praça da Independência, o Jardim, como chamávamos a praça. Íamos de carro até lá, comprávamos o sorvete, entrávamos novamente no carro e começávamos nosso passeio descendo a rua Frei Mariano, virando a esquerda na Avenida, indo até o final dela, e de lá para onde a imaginação de meu pai nos levasse . Nos dias que ele estava mais inspirado para dirigir, íamos até a antiga estação ferroviária ou para Ladário. Com as janelas do carro abertas, o ar quente ameaçava derreter nossos sorvetes se não o tomássemos rápido, mas mesmo assim nós o saboreávamos lentamente enquanto curtíamos o passeio pela cidade, ouvindo a conversa dos meus pais e admirando a paisagem.
A Frei Mariano tinha muito movimento. Nos cafés, os homens se inteiravam das últimas notícias, alguns deles parados na calçada, fumando e fofocando com os amigos. Da Avenida, com suas palmeiras elegantes nos dois lados, tínhamos uma bela vista do rio Paraguai, à direita. Nas transversais, havia muitas casas históricas, pintadas em cores fortes, mas elas não atraíam tanto nossa atenção quanto as crianças correndo, os cães e as galinhas soltas nas ruas, que sempre víamos quando passávamos pelos lados da antiga estação ferroviária. Olhávamos tudo isso sem pressa enquanto saboreávamos nosso sorvete. Meu pai dirigia lentamente. Nós não tínhamos TV e não havia necessidade de voltar para casa para assistir novelas. Internet era algo que não podíamos nem imaginar que existiria um dia. Tínhamos tempo.
Na semana passada, eu precisava comprar uma coisa e fui correndo a uma Walmart num bairro onde não costumo ir. Descobri que era uma “Super Walmart” tão grande, que fiquei com medo de me perder lá dentro. Depois de um minuto lá, perguntei ao meu marido se podíamos ir embora. Eu simplesmente não aguentava ficar naquela loja imensa, lotada de gente que provavelmente estava atordoada pelas escolhas que era forçada a fazer. Para que tantas opções? De onde tiramos essa noção de que mais é melhor?
Há duas semanas ando com vontade de tomar sorvete de bocaiuva. Fico lembrando do gosto delicioso dele e de como era maravilhoso quando eu era criança e a gente ia tomá-lo. Naquela cidadezinha do Brasil, na fronteira com a Bolívia, quando a noite caía e fazia calor (o que acontecia mais ou menos 99% do tempo) nós costumávamos nos empilhar no carro do meu pai, uma Pickup ou uma Kombi, e sair para tomar sorvete. A gorda (Ah, nós éramos tão politicamente incorretas naquela época!) tinha uma sorveteria na rua Frei Mariano, em frente da Praça da Independência, o Jardim, como chamávamos a praça. Íamos de carro até lá, comprávamos o sorvete, entrávamos novamente no carro e começávamos nosso passeio descendo a rua Frei Mariano, virando a esquerda na Avenida, indo até o final dela, e de lá para onde a imaginação de meu pai nos levasse . Nos dias que ele estava mais inspirado para dirigir, íamos até a antiga estação ferroviária ou para Ladário. Com as janelas do carro abertas, o ar quente ameaçava derreter nossos sorvetes se não o tomássemos rápido, mas mesmo assim nós o saboreávamos lentamente enquanto curtíamos o passeio pela cidade, ouvindo a conversa dos meus pais e admirando a paisagem.
A Frei Mariano tinha muito movimento. Nos cafés, os homens se inteiravam das últimas notícias, alguns deles parados na calçada, fumando e fofocando com os amigos. Da Avenida, com suas palmeiras elegantes nos dois lados, tínhamos uma bela vista do rio Paraguai, à direita. Nas transversais, havia muitas casas históricas, pintadas em cores fortes, mas elas não atraíam tanto nossa atenção quanto as crianças correndo, os cães e as galinhas soltas nas ruas, que sempre víamos quando passávamos pelos lados da antiga estação ferroviária. Olhávamos tudo isso sem pressa enquanto saboreávamos nosso sorvete. Meu pai dirigia lentamente. Nós não tínhamos TV e não havia necessidade de voltar para casa para assistir novelas. Internet era algo que não podíamos nem imaginar que existiria um dia. Tínhamos tempo.
Na semana passada, eu precisava comprar uma coisa e fui correndo a uma Walmart num bairro onde não costumo ir. Descobri que era uma “Super Walmart” tão grande, que fiquei com medo de me perder lá dentro. Depois de um minuto lá, perguntei ao meu marido se podíamos ir embora. Eu simplesmente não aguentava ficar naquela loja imensa, lotada de gente que provavelmente estava atordoada pelas escolhas que era forçada a fazer. Para que tantas opções? De onde tiramos essa noção de que mais é melhor?
Acho que foi depois dessa visita relâmpago ao Walmart que comecei a ficar com saudades do sorvete de bocaiuva. Não havia muitos sabores diferentes na sorveteria onde íamos. Mas não precisávamos de muitos. Precisávamos apenas de um sorvete feito com amor, não de mil produtos enviados lá de longe, da China, sem amor, é claro, mas muito baratos. Precisávamos do conforto da conversa calma de nossos pais, da carícia do vento quente nos nossos rostos, de ver as pessoas nas ruas, conversando à toa, e da sensação de segurança. Nós nos sentíamos como que em casa. No lugar onde nosso coração se encontrava.
Que delícia lembrar dessas coisas...
ReplyDeleteÉ disso que a vida é feita. Espero poder vê-la em breve.
Beijos