I park my car and walk quickly to the physical rehabilitation center. It is raining and I wish I could run. But the whole reason I am coming here is for physical therapy on my knee so I can recover from surgery to repair the meniscus. My physical therapist is there waiting for me and soon I found myself resting comfortably on a massage table, with hot towels wrapped around my knee. Since I will be in this position for 10 minutes, I have time to observe the room.
The rehabilitation center is filled with “toys”. There are balls, ropes, balance beams, and lots of other equipment usually seen in a normal gym. But the people here are very different. They are middle-aged men and women with injuries especially to their hands, knees, shoulders and ankles. They seem to enjoy talking with each other and the main topic of conversation is their injuries. The talks revolve around how many minutes someone exercised the day before, which doctor did the surgery, where was it done, and if the pain is still there...
The therapists are young and cheerful. If they are not helping someone, they are doing exercises or walking around and joking with the patients. In addition to them, there is just another young person in the rehabilitation center: a lonely woman in the small pool at the back of the room. She looks to be around twenty years old and reminds me of Marilyn Monroe with her platinum hair, bright lipstick and languid movements. She walks slowly from one side of the pool to the other, seeming bored and unaware that most of the old men in the room are watching her. For a minute I ask myself if she is for real or just some plastic doll with the face of Marilyn Monroe placed there so the old people would exercise with more enthusiasm. I laugh at the thought, look again at the other patients around me, and ask myself how come I got to be among them.
When we are young, we feel that we are invulnerable. Sure, we might break a leg or a hand playing sports, but we soon recover and are back to our normal activities without a second thought. We look at old people in the grocery stores or driving in front of us and we get impatient about their slowness. We have no time to waste. We want to experience as many things as possible in the least amount of time. These old people... ah, they are just bothering us, preventing us from moving faster. And why shouldn’t we be able to speed as much as we want? Nothing is going to happen to us. We are invincible, protected by the shield of youth.
Suddenly, we reach our thirties, our forties, and our fifties. One day we are injured and discover recovery is not so fast. We have time to stop and think. Time to wonder why time is so important. Time to reflect on old age and on where we are going in such a hurry.
Where would Marilyn Monroe be if she were still alive today? Would she end up like Elizabeth Taylor, dying in a hospital bed, her beauty gone, her body ravaged by one illness after another? What would have happened with her glamour, her sex appeal? Would she be abandoned by her fans in the end? Why do we need to create one sex symbol after another, forever elevating women to the status of stars only to knock them down from their pedestal when another appears and shines more brightly? We value ephemeral things like beauty, youth, money, forgetting that a resilient body is more useful than a sexy, anorexic body, that education can take us farther than vanity.
My 10 minutes of relaxing are up. It is time for exercising. I will join the crowd of middle-aged people who might move slowly but are wise enough to know that the important thing is to get where you want to go.
MARILYN MONROE FAZENDO FISIOTERAPIA
Estaciono meu carro e ando rapidamente até o centro de reabilitação física. Está chovendo e gostaria de poder correr. Mas a razão pela qual estou vindo ao centro é para fazer fisioterapia no joelho, para que eu possa me recuperar de uma cirurgia no menisco. Meu fisioterapeuta está me esperando e logo me instala confortavelmente numa mesa de massagem com toalhas quentes enroladas no meu joelho. Como preciso ficar nessa posição por 10 minutos, tenho tempo para observar o ambiente.
O centro de reabilitação é cheio de "brinquedos". Há bolas, cordas, balanços, vigas, e um monte de outros equipamentos que a gente geralmente vê numa academia de ginástica. Mas as pessoas aqui são muito diferentes. São homens e mulheres de meia-idade com lesões, especialmente nas mãos, joelhos, ombros e tornozelos. A maioria parece gostar de bater papo e o assunto preferido é doença. As conversas giram em torno de como alguém fez tantos minutos de exercícios no dia anterior, qual o médico que operou a lesão, onde a cirurgia foi feita, se a dor ainda continua e por aí vai ...
Os fisioterapeutas são moços e animados. Se não estão ajudando alguém, estão levantando pesos ou andando pela sala e fazendo piadinhas com os pacientes. Além deles, há apenas uma outra pessoa jovem no centro de reabilitação: uma mulher solitária, na piscina no fundo do salão. Ela dá a impressão de ter mais ou menos 20 anos e me faz lembrar de Marilyn Monroe com seu cabelo louro platinado, batom brilhante, e movimentos lânguidos. A moça caminha lentamente de um lado da piscina para o outro, parecendo entediada e sem perceber que a maioria dos homens idosos está olhando para ela. Por um minuto eu me pergunto se ela é de verdade ou apenas uma boneca de plástico com o rosto de Marilyn Monroe colocada lá para que as pessoas se exercitem com mais entusiasmo. Acho graça do pensamento e olho novamente para os outros pacientes na sala, me perguntando como fui parar entre eles.
Quando somos jovens, sentimos que somos invulneráveis. Claro, podemos quebrar uma perna ou uma mão praticando esportes, mas logo nos recuperamos e voltamos às atividades normais, sem pensar duas vezes. Olhamos para as pessoas idosas nos supermercados ou dirigindo e ficamos impacientes com sua lentidão. Não temos tempo a perder. Queremos experimentar tantas coisas quanto possível no menor espaço de tempo. As pessoas de idade ... ah, elas estão apenas nos incomodando, nos impedindo de andar mais rápido. E por que não teríamos o direito de correr tanto quanto queremos? Nada acontecerá conosco. Somos invencíveis, protegidos pelo escudo da juventude.
De repente, chegamos aos nossos trinta, quarenta, cinquenta anos. Um dia, nos machucamos e descobrimos que a recuperação não é tão rápida. Então temos tempo para parar e pensar. Tempo para tentar descobrir por que o tempo é tão importante. Tempo para refletir sobre a velhice e sobre para onde estamos indo com tanta pressa.
Onde será que Marilyn Monroe estaria, se ainda estivesse viva hoje? Será que acabaria como Elizabeth Taylor, morrendo numa cama de hospital, sem sinais da beleza do passado, seu corpo devastado por uma doença atrás da outra? O que teria acontecido com o seu glamour, seu sex appeal? Teria sido abandonada por seus fãs no final da vida? Por que precisamos de criar um símbolo sexual após o outro, sempre elevando uma mulher ao status de estrela só para derrubá-la de seu pedestal quando outra aparece e brilha mais intensamente? Valorizamos coisas efêmeras como a beleza, a juventude, o dinheiro, esquecendo que um corpo resistente é mais útil do que um corpo sexy e anoréxico, que a educação pode nos levar mais longe do que a vaidade.
Meus 10 minutos de relaxamento acabaram. É hora de me exercitar. Vou me juntar às pessoas de meia-idade que se mexem lentamente, mas são sábias o suficiente para saber que o importante é chegar onde queremos ir.
Adorei! Para mim, foi um de seus melhores posts.
ReplyDeleteObrigada! Fico contente com o "feedback"
ReplyDeleteOlá, Bernadete.
ReplyDeleteAcabei de ler seu lindo texto "O testemunho das Águas", qiue me foi enviado por nossa amiga Wady Baltar.
Meu nome é Gil Ferreira, sou Oficial de Marinha, servi em Ladário 4 vezes,voltei uma quinta vez, já na reserva, para trabalhar lá; casei-me lá com Rosa Therezinha Burjato, tenho uma filha corumbaense - Flávia.
Tivemos casas alugadas na imobiliária de nosso grande amigo Piassa - seria seu pai?
Por favor, mantenha contato, gosto muito de escrever, tenho textos sobre o pantanal, queria enviá-los a você: gil.ferreira@globo.com
Saudações Pantaneiras !
Oi Gil,
ReplyDeleteMuito obrigada pelo elogio ao texto. Fico feliz de ver que as pessoas gostam do que escrevo. Escrevi sobre Corumba com o coracao nas maos porque creio que, na verdade, viajei viajei e nunca sai de la. Vou contacta-lo por email.
Abracos,
Bernadete
Gostei muito de ler este seu texto. É bem verdade, que a gente tem muita pressa quando ainda tem muito tempo pela frente. A medida que o tempo vai encolhendo, a gente vai desacelerando, como que para saborear mais e melhor o percurso.
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