People say that if you see a spider you have to pay attention: spiders travel in pairs and if one is there another will soon appear. Other animals, like deer, usually live in herds and very seldom are seen alone. I am convinced that this is also true about confusion. When something out of the ordinary happens , we can be sure that other extraordinary things are going to happen as well.
Since last Thursday my life has been turned upside down. Everything started with my knee surgery, a very simple arthroscopic procedure from which I was hoping to recover the same day. Well, it turned out that it wasn’t so simple …
I had the surgery at Penn Presbyterian, a huge teaching hospital in Philadelphia, where medical students learn from the best professors and doctors offer their patients state-of- the- art services. The first thing I learned when I got there was that I was expected to know how to spell. “Can you please spell your name to me?” The first nurse who took care of me asked. I spelled it for her. Then another nurse came to take me somewhere else and asked me again to spell my name. A third came and repeated the request. By the time I met the doctor, I had spelled my name 6 times, and after every time the nurses checked on the bracelet that I had with my name to make sure I was correct. What if I had made a mistake? Then, the doctor, who had already treated me before and had recommended the surgery, came and asked what kind of procedure I was having and where? What???? Well, he explained, looking at my bewildered face, he had to ask this question for the patient’s safety, to make sure that nobody got operated on the wrong part of the body… Okay, sounded good…
After the spelling and memory games were over, it turned out that the anesthesiologist wanted to discuss literature. Once, when I had a surgical procedure done in France, the doctor talked with me about Brazilian literature. This time, the American doctor asked me about some Portuguese authors. I wondered how come I never met people interesting like that in my daily life but always meet them in hospitals…
When it came time for the surgery itself, it was pretty neat. I asked the doctor if I could watch it, which astonished him. He finally agreed and I watched through the TV him moving his instruments inside my knee and performing the procedure on the meniscus. I never knew that my bones were so white. That was a surprise!
Later in the afternoon, supported by the crutches provided by the hospital, I left. In my innocence, I had thought that after the surgery I would go home, rest a bit and start working. Well, I was in for another surprise. The anesthesia given by the doctor – morphine – knocked me out for the rest of the day. On Friday, I was still not in my sane mind. Finally, on Saturday, when I was ready to work, something very unusual happened: the power was off for the entire day on my street and since I need the Internet to work, I couldn’t. With my knee still hurting, it was out of the question for me to go find a coffee shop with Internet. The source of the problem with the power took awhile to be diagnosed and fixed. Apparently, the problem originated from some wires located close to our block’s mail box.
Yesterday, a crew from the telephone company came and worked all day in the same spot where the workers from the power company had been on Saturday. I was afraid that they would knock the Internet out again. It seems that when one company fixes something, another comes and breaks it. Miraculously, this didn’t happen.
Today, I woke up, looked out of the window and saw two police cars. Since they never appear in my neighborhood, I got curious. I dressed and limped outside to discover there was a house on fire on the next block. Luckily the elderly couple who lived there had been rescued by the firefighters and the fire was already under control. But there was still a lot of smoke, many police cars, firefighters, water company workers, insurance workers, and so on.
On my way back to the house, I realized that the mail boxes were gone. I asked one lady about it and she told me that the cable company had spotted some fire on the wires underneath the mail boxes and that from now on we would need to get our mail at the post office. What???? How come nobody informed us of that? Who had come and taken the mail boxes: the power company, the cable company, or the post office? Hospitals can be very different from one part of the world to another, but when it comes to a mess regarding construction work, every country is the same…
Well, I just came back from the post office. There, I was informed that I could not get my mail: it was in the truck with the mailman. Until I filled out a form, asking for the post office to hold my mail, the postman would be carrying my mail around in his truck, even though he could see with his own eyes that there wasn’t a mail box for our neighborhood anymore. I imagined writing a short story where the mail accumulates inside the truck until eventually the mailman can’t leave his truck anymore…
Now, I am back at my house trying to update my blog and wondering what will happen next. It has been hard to concentrate on my work. My knee swells if I sit at the desk and keep my leg down. I have to work sitting on my bed, with my legs stretched. But my cat, who loves proximity, is convinced that there is no better place for him to sit than over my mouse. If I shoo him, he goes and sits on my papers. I shoo him again, he pretends that he is going to leave me alone, then sneaks and sits on the mouse pad. When I am losing my patience, he curls up like a ball and takes a nap. Cats’ naps take priority over any problems of the world.
TUMULTO
As pessoas dizem que se você vê uma aranha deve ficar atenta: aranhas andam em pares e outra deverá aparecer logo logo. Muitos animais, como os veados, vivem em bandos e raramente são vistos sozinhos. Estou convencida de que o mesmo acontece na nossa vida. Quando algo fora do comum acontece, podemos ter certeza de que outras coisas extraordinárias acontecerão também.
Desde quinta-feira passada a minha vida anda de cabeça para baixo. Tudo começou com minha cirurgia no joelho, um procedimento artroscópico muito rápido do qual eu esperava me recuperar no mesmo dia. Bem, descobri que as coisas não eram tão simples assim ...
Fiz a cirurgia na Penn Presbyterian, um hospital-escola da Filadélfia onde estudantes de medicina aprendem com os melhores professores e os médicos tratam os pacients com tudo o que há de mais moderno. A primeira coisa que aprendi quando cheguei lá foi que eu devia saber soletrar. "Pode soletrar seu nome para mim?" A primeira enfermeira me perguntou. Fiz o que ela me pedia. Em seguida, outra enfermeira chegou para me levar para outro lugar e me pediu novamente para soletrar meu nome. Uma terceira repetiu o pedido. Quando finalmente encontrei com o médico, tinha soletrado meu nome seis vezes, e depois de cada vez a enfermeira olhava para a pulseira de plástico com o meu nome para se certificar de que estava correto. E se eu tivesse cometido um erro? Em seguida, o médico, que já havia me tratado antes e recomendado a cirurgia, se aproximou e perguntou que tipo de cirurgia eu estava ali para fazer e onde. O que??? Bem, ele explicou, olhando para minha cara confusa, ele tinha que perguntar isso para se certificar de que ninguém era operado na parte errada do corpo ... Ok, já que era assim ...
Após os testes de soletrar e de memória, fiquei sabendo que o anestesiologista estava interessado em conversar sobre literatura. Há alguns anos, quando fiz uma pequena operação na França, a médica queria discutir a respeito de literatura brasileira. Desta vez, o médico americano me perguntou sobre alguns autores portugueses. Fiquei pensando por que eu nunca conhecia pessoas interessantes no meu dia-a-dia, mas sempre as encontrava nos hospitais ...
Quando chegou o momento da cirurgia, foi bem legal. Surpreendi o médico perguntando se eu podia assistir e ele concordou. Então, vi pela TV os instrumentos cirúrgicos dentro do meu joelho, raspando o menisco. Nunca pensei que meus ossos pudessem ser tão brancos. Isso foi uma surpresa e tanto para mim!
No final da tarde, tive alta e saí, apoiada nas muletas fornecidas pelo hospital. Na minha inocência, eu tinha imaginado que depois da cirurgia iria para casa, descansaria um pouco e começaria a trabalhar. Bem, evidentemente tive outra surpresa. A anestesia dada pelo médico - morfina – me pôs para dormir o resto do dia. Na sexta-feira, eu ainda estava meio bodeada. No sábado, quando finalmente me senti pronta para trabalhar, algo inusitado aconteceu: acabou a luz na minha rua o dia inteiro e como preciso da internet para trabalhar, não pude fazer nada. Com o meu joelho ainda doendo, não tinha condições de ir a um café com internet. O problema com a falta de luz levou algum tempo para ser descoberto e corrigido. Aparentemente, tudo aconteceu por causa de alguns fios elétricos localizados perto das caixas de correio do nosso quarteirão.
Ontem, uma equipe da empresa telefônica apareceu e trabalhou o dia todo no mesmo local onde os funcionários da empresa de energia tinham trabalhado no sábado. Fiquei com medo de que eles estragassem a internet novamente. Parece que quando uma empresa corrige uma coisa, outra vem e quebra. Milagrosamente, isso não aconteceu.
Hoje, quando acordei, olhei pela janela e vi dois carros da polícia. Como eles nunca aparecem no meu bairro, fiquei curiosa. Vesti-me e foi mancando lá fora onde acabei descobrindo que havia uma casa pegando fogo no outro quarteirão. Por sorte o casal de idosos que vivia ali tinha sido tirado a tempo pelos bombeiros e o fogo já estava sob controle. Mas ainda havia muita fumaça, muitos carros de polícia, bombeiros, trabalhadores da companhia de água, funcionários da empresa de seguros, e assim por diante.
Quando eu me preparava para voltar para casa, percebi que as caixas de correio tinham desaparecido. Perguntei a uma senhora sobre isso e ela me disse que a empresa telefônica havia visto fogo nos fios elétricos embaixo das caixas de correio e que por isso teríamos de ir pegar nossa correspondência no correio até que o problema se solucionasse. O que?? Como ninguém nos informou sobre isso? Quem tinha vindo e levado as caixas de correio: a empresa de energia, a empresa telefônica, ou o pessoal do correio? Hospitais podem ser muito diferentes de uma parte do mundo para outro, mas quando se trata de confusão a respeito de trabalho de construção, todo país é a mesma bagunça ...
Bem, acabei de voltar do correio. Lá, fui informada de que não podia pegar minha correspondência: ela estava no carro com o carteiro. Até que eu preenchesse um formulário, pedindo para que minha correspondência fosse guardada nos correios, o carteiro continuaria trazendo-a todo dia na sua van, mesmo que ele pudesse ver com seus próprios olhos que não havia mais uma caixa de correio no nosso quarteirão. Fiquei pensando em escrever um conto no qual a correspondência se acumula dentro do carro do carteiro, até que finalmente ele não pode sair mais ...
Agora, estou em casa tentando atualizar meu blog e me perguntando o que acontecerá a seguir. Tem sido difícil me concentrar no meu trabalho. Meu joelho incha se eu me sento e ponho as pernas para baixo. Tenho que trabalhar sentada na cama, com as pernas esticadas. Mas meu gato, que adora proximidade, está convencido de que não há melhor lugar para ele sentar do que em cima da minha mouse. Se eu o mando embora, ele vai e senta-se sobre meus papéis. Eu o mando embora novamente, ele finge que me obedece, mas volta devagarinho e senta sobre o mouse pad. Quando já estou perdendo a paciência, ele se enrola como uma bola e tira uma soneca. As sonecas dos gatos são mais importantes do que todos os problemas do mundo.
Photo: Bernadete Piassa
Dete, tem um ditado que diz "pimenta nos olhos dos outros é refresco".
ReplyDeleteDesculpe-me, mas suas histórias me proporcionaram alguns momentos de riso, principalmente, a descrição dos momentos que antecederam a cirurgia (parece coisa de "Mad", lembra?) e a imagem de sua correspondência se acumulando no caminhão.
Bjs e boa sorte!
Martha,
ReplyDeleteSera que no Brasil voce tambem tem de saber soletrar pra ser operada?
Dete
Ah, tia já ouvi casos de gente que entrou no hospital para operar um estômago e saiu com a perna ingessada.
ReplyDeleteNao custa nada confirmar e reconfirmar....
Beijos e boa recuperacao.