Monday, January 17, 2011

The Space Between Us (A distância entre nós)

At the end of the year, I usually like to go over the list of books that I read the year before and decide which ones I liked the most. I was fortunate to read some very good books last year, but one that really caught my imagination was The Space Between Us, by Thrity Umrigar, an Indian journalist. The book, already translated in many languages, including Portuguese, describes the relationship between Bhima, a domestic servant who lives in the slums of Bombay, and Sera, the woman for whom she works. In Sera’s apartment, Bhima cleans the sofas on which she is not permitted to sit. She washes glasses from which she is not allowed to drink. Yet, Bhima and Sera consider themselves friends.

Sera is an upper-middle-class housewife. Bhima is an illiterate woman hardened by a life of despair and loss. Both have known each other for many years, but when a tragedy overtakes Sera’s houselhold their friendship is put to test against all the prejudices of the modern-day Indian society. The novel shows how the lives of the rich and the poor are intertwined yet vastly removed from each other.

Reading the novel set in a place so distant from me, I am reminded of a blog I posted - The Girls (6/1/2009) - about the young ladies who used to work for our family in Brazil. The story also made me think of another story that I read - I don’t remember where - about this guy who worked as a street sweeper for months and wrote an article showing how these people were invisible: nobody said hi to them, nobody even looked at them. There was such a huge space between someone passing by on the street and the guy sweeping the street that it was as if the former could not see the latter.

The space between the rich and poor is larger than an ocean and frequently one is right in front of the other. Poor garbage collectors take out the trash in front of mansions and are noticed only when they don’t do a good job. Poor children lurk around tourist spots in many countries “inconveniencing” the rich tourists with their insistence to provide help. Homeless men park themselves in front of fancy department stores and offend the eyes of the rich people who are shopping preferring not to be reminded of poverty.

Whenever I see news of natural disasters, like the floods in Sri Lanka or in Brazil, the earthquake in Haiti, or hurricane Katrina in New Orleans, I realize that the poor are the victims while most of the middle and upper class are spared. From our comfortable homes we watch the predicaments of the displaced on TV. For a few minutes we feel sorry for those who lost everything, we wonder what is going to happen to them, but then we forget and go on with our busy lives.

Sometimes, in the same country, there is the space of a century dividing the rich and poor, especially the children. The middle class and wealthy children chat on Facebook, listen to their iPods, use their smart phones and watch their high definition TV, while the poor children are illiterate, work from morning to dusk on farms and go home only to sleep, sharing a bed with another sibling. They learn to dream small and even these small dreams are often shattered by life.  

The book from Thrity Umrigar made me think about all these inconsistencies that we usually prefer not to see. It is easier to pretend that there is no poverty or that the bad luck of the poor has nothing to do with us. But, if we are conscientious people, living in denial might result in many sleepless nights.


A DISTÂNCIA ENTRE NÓS
No final do ano, normalmente gosto de rever a lista de livros que li no ano anterior e decidir de quais gostei mais. Tive a sorte de ler alguns livros muito bons no ano passado, mas um que realmente me fez pensar foi “A Distância Entre Nós”, da jornalista indiana Thrity Umrigar. O livro, já traduzido em várias línguas, inclusive Português, descreve o relacionamento entre Bhima, uma empregada doméstica que vive nas favelas de Bombaim, e Sera, a mulher para quem ela trabalha. No apartamento de Sera, Bhima limpa os sofás nos quais ela não tem permissão para sentar-se. Lava copos nos quais não pode beber. No entanto, Bhima e Sera se consideram amigas.

Sera é uma dona de casa de classe média-alta.
Bhima é uma mulher analfabeta, endurecida por uma vida de desespero e perdas. As duas se conhecem há muitos anos, mas quando uma tragédia se abate sobre a casa de Sera, essa amizade é posta à prova e todos os preconceitos da sociedade moderna indiana vêm à tona. O romance mostra como a vida dos ricos e dos pobres estão interligadas mas continuam imensamente separadas uma da outra.
 
Lendo a história ambientada em um lugar tão distante de mim, lembrei-me de um blog que escrevi - As meninas (06/01/2009) - sobre as moças que trabalhavam para a nossa família no Brasil. O livro também me fez pensar sobre outra história que li não me lembro onde, a respeito de um pesquisador que trabalhou como gari durante meses e escreveu um artigo mostrando como essas pessoas eram invisíveis: ninguém dizia oi para elas, ninguém sequer olhava para elas. Havia uma distância tão grande entre uma pessoa passando pela rua e o cara varrendo a rua, que era como se um não pudesse ver o outro.
 
A distância entre ricos e pobres é maior do que um oceano e, frequentemente, um está bem na frente do outro. Os coletores recolhem o lixo em frente das mansões e são notados somente quando não fazem um bom trabalho. As crianças pobres ficam por volta dos locais turísticas em muitos países e "incomodam" os turistas ricos com sua insistência em ajudá-los. Mendigos param na frente de lojas de departamento “ofendendo” os olhos das pessoas ricas que estão comprando e preferem não se lembrar da pobreza.
 
Sempre que vejo notícias de catástrofes naturais, como inundações em Sri Lanka ou no Brasil, o terremoto no Haiti, o furacão Katrina em Nova Orleans, percebo que os pobres são as vítimas, enquanto a maioria da classe média e os ricos são poupados de qualquer dano. Sentadas nas nossas casas confortáveis, acompanhamos pela TV as tragédias dos que ficaram sem casa, por alguns minutos sentimos pena daqueles que perderam tudo, nos perguntamos o que vai acontecer com eles, mas depois esquecemos e continuamos envolvidas na correria da nossa vida.
 
Às vezes, no mesmo país, a distância de um século separa ricos e pobres, especialmente as crianças. Enquanto s crianças das classes média e alta chat no Facebook, ouvem seus iPods, usam seus smart phones e assistem TV em alta definição, as crianças pobres são analfabetas, trabalham de manhã à noite nas fazendas e vão para casa só para dormir, dividindo a cama com outro irmão. Aprendem a sonhar com coisas insignificantes e mesmo estes pequenos sonhos são frequentemente destruídos pela vida.
 
O livro de Thrity Umrigar me fez pensar sobre todas essas inconsistências que geralmente preferimos não ver. É mais fácil fingir que não existe pobreza ou que a má sorte dos pobres não tem nada a ver conosco. Mas, se somos pessoas conscientes, viver fazendo de conta que isso não existe pode resultar em muitas noites de insônia.

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