The end of the year is marked by countless celebrations. Some people go from party to party and have a blast in all of them. As for me, every time I am invited to a party I think: Oh my God! There we go again! I am shy, and the idea of going to a party just terrifies me.
The other day, I was telling my daughter about this fear and she advised me: just keep going to the parties and eventually you will get used to it. Well, I have been waiting to feel comfortable at parties for more than 50 years and this lucky day has not arrived yet. But how can I explain this to someone who has no idea of how it feels to get nervous just by thinking about going to a party?
If someone invites me to a dinner in which there will be a few other guests, I am fine. If the invitation is for a party among my relatives, I am fine. But if the invitation involves co-workers, friends of my husband who are not my friends, other people who I don’t know, or a group who I do know but is comprised of a lot of people, then I start to get apprehensive. In the weeks before the party, I try to block it from my mind. As the day of the celebration approaches, my fears increase. Strangely, the clothes that I am going to wear are the least of my concerns. I am terrified of the other guests: what are we going to talk about, what will they think about me.
The feelings that overcome me are so overwhelming that it is hard to describe them. First, my mind takes charge and I try to come up with excuses to avoid the situation. I am tempted to pretend that I am sick, that I have another commitment preventing me from attending, there was a death in the family… The list of excuses that I have prepared for these moments are endless and I almost always discard all of them. A few times I surrender to my fears, give an excuse and stay home. But, instead of feeling relieved, I feel even worse because while I am deathly afraid of parties, I am just as afraid of being considered a coward. I accuse myself of being unable to cope with my fears, of being a failure, of being incompetent… And it is with these “cheerful” feelings that I watch the day of the party approach.
With my mind lost in this whirlpool of fear and panic, my body reacts accordingly: my heart races, I can’t breathe, my hands get cold, and my stomach gets so tight that I feel nauseous. I try to ignore all these feelings and get ready. When I arrive at the party and see a lot of people who appear to be having a wonderful time, it makes me feel even worse. Once more I realize that I am different from them, that there is something strange about me that sets me apart from everyone else.
I have been shy or suffering from Social Anxiety Disorder like the doctors now say, since I was a child. I remember countless moments of my life when I was sitting at a corner by myself, trying to pretend that I didn’t exist while everybody else was having fun. I never felt that I was a participant. I was always an observer, an outsider. My sisters are not shy and my mother is a very social person so I can’t say that shyness runs in the family. When my older daughter was in elementary school, she was very shy and I used to feel sorry for her while blaming myself for giving her this horrible gene. I was very glad she overcame her shyness. But, for me, there was no such relief. The shyness continues with me to this very day.
I read on the Internet about many people who were shy but were able to become famous actors, scientists, or politicians. I am sure if I weren’t shy, my professional life would have been more successful because I would be networking more. Since I am shy, I compensate by being more competent.
My office used to be close to the secretary’s desk at one of the companies I worked for in the US. As I worked, many times I heard her discussing the weather, shows on the TV, store specials, or details of her personal life with anyone who approached her desk. I envied her ability of making small talk. How come there are people capable of talking all day long about nothing in particular, of making friends with perfect strangers in airports, restaurants, any place at all, while others struggle to find the right words?
The other day, at a party, I saw a guy sitting by himself at a table playing with his cellular. From time to time, he looked around himself and looked back at his cellular very quickly. His body was tense and I recognized him immediately as someone as shy as me. For a minute, I felt like approaching him and talking with him: two shy people, lost in that world of outgoing individuals laughing and making jokes. But, I just couldn’t approach him and he was left to pretend that he was busy with his cellular. The shyness, which was a link between us, also prevented me from making a connection.
ÉPOCA DE FESTAS
O fim do ano é marcado por inúmeras comemorações. Algumas pessoas vão de festa em festa e divirtem-se muito em todas elas. Quanto a mim, toda vez que sou convidada para uma festa, penso: Oh meu Deus! Vai começar tudo de novo! Sou tímida, e a perspectiva de ir a uma festa me apavora.
Outro dia, estava discutindo esse medo com minha filha e ela me aconselhou: continue indo e no fim você vai se acostumar. Bem, estou tentando me acostumar com festas há mais de 50 anos e esse dia de sorte ainda não chegou. Mas como posso explicar isso para alguém que não tem ideia do nervosismo que passo só de pensar em ir a uma festa?
Se alguém me convida para um jantar em que haverá alguns convidados apenas, não tem problema. Se o convite for para uma festa na minha família, não tem problema. Mas se o convite tem a ver com gente com a qual eu trabalho, amigos do meu marido que não sejam necessariamente meus amigos, outras pessoas que não conheço, ou um grupo que conheço mas que é grande, então começo a ficar apreensiva . Nas semanas que antecedem a festa, tento deletá-la da minha mente. Com a aproximação do dia, o meu receio aumenta. Estranhamente, a roupa que vou usar não me preocupa de maneira alguma. O que me aterroriza são os outros convidados: o que vou conversar com eles, o que eles pensarão de mim.
Meus sentimentos são tão fortes que é difícil descrevê-los. Em primeiro lugar, minha mente toma o comando da situação e tento inventar desculpas para evitar a festa. Penso em fingir que estou doente, que tenho outro compromisso, que houve uma morte na família ... A lista de desculpas que já preparei para esses momentos é infinita e quase sempre descarto todas elas. Algumas vezes sucumbo ao medo, dou uma desculpa e fico em casa. Mas, em vez de me sentir aliviada, me sinto ainda pior, porque tenho medo mortal de festas, mas tenho um medo ainda maior de ser considerada covarde. Enquanto minha mente inventa desculpas, eu me acuso de ser incapaz de lidar com meus medos, de ser um fracasso, de ser incompetente ... E é com esses sentimentos "alegres" que vejo o dia da festa se aproximar.
Com a minha mente perdida nesse turbilhão de medo e pânico, meu corpo também reage da mesma maneira: meu coração acelera, quase não consigo respirar, minhas mãos ficam frias, e meu estômago fica tão apertado que sinto náuseas. Tento ignorar esses sentimentos e vou à festa. Chego lá e encontro um monte de gente que parece estar se divertindo muito o que me faz sentir ainda pior. Uma vez mais percebo que sou diferente, que há algo estranho em mim que me separa de todos os outros.
Sou tímida, ou sofro de Transtorno de Ansidade Social como os médicos dizem hoje, desde pequena. Lembro-me de muitas ocasiões quando eu me sentava em algum canto sozinha, tentando fingir que não existia enquanto todo mundo se divertia. Nunca sentia que era parte de um grupo. Sempre fui uma observadora, uma pessoa de fora.Minhas irmãs não são tímidas e minha mãe é uma pessoa muito sociável, então não posso dizer que a timidez é coisa de família. Quando minha filha mais velha era pequena, ela era muito tímida e eu tinha pena dela, ao mesmo tempo me culpava por ter lhe dado aquele gene horrível. Fiquei muito contente quando ela superou sua timidez. Mas, para mim, esse momento de alívio nunca chegou. A timidez continua comigo até hoje.
Li na internet sobre muitas pessoas que eram tímidas mas tornaram-se atores famosos, cientistas ou políticos. Tenho certeza de que se eu não fosse tímida, minha vida profissional teria sido mais bem-sucedida, porque eu iria conversar mais com meus colegas de trabalho. Por causa da timidez, tive de compensar sendo mais competente.
Numa das empresas em que trabalhei nos EUA, o meu escritório ficava perto da mesa da secretária. Enquanto trabalhava, muitas vezes eu a escutava falando sobre o tempo, os programas de TV, as promoções das lojas, ou discutindo detalhes de sua vida pessoal com qualquer um que se aproximasse. Invejava sua capacidade de ficar de conversa fiada. Sempre me perguntei como algumas pessoas são capazes de falar o dia inteiro sobre nada em particular, de fazer amizade com desconhecidos em aeroportos, restaurantes, em qualquer lugar, enquanto outras lutam para encontrar as palavras certas.
Outro dia, numa festa, vi um moço sentado sozinho numa mesa mexendo no seu celular. De vez em quando, ele olhava em volta e olhava novamente para o celular. Seu corpo estava tenso e eu percebi imediatamente que ele era tão tímido quanto eu. Por um minuto, tive vontade de ir conversar com ele: dois tímidos, perdidos naquele mundo de pessoas extrovertidas rindo e fazendo piadas. Mas simplesmente não consegui me aproximar e ele continuou fingindo que estava ocupado com o celular. A timidez, que seria um elo entre nós, nos impediu de nos conectar.
Photo: Cesar Areal
Outro dia, estava discutindo esse medo com minha filha e ela me aconselhou: continue indo e no fim você vai se acostumar. Bem, estou tentando me acostumar com festas há mais de 50 anos e esse dia de sorte ainda não chegou. Mas como posso explicar isso para alguém que não tem ideia do nervosismo que passo só de pensar em ir a uma festa?
Se alguém me convida para um jantar em que haverá alguns convidados apenas, não tem problema. Se o convite for para uma festa na minha família, não tem problema. Mas se o convite tem a ver com gente com a qual eu trabalho, amigos do meu marido que não sejam necessariamente meus amigos, outras pessoas que não conheço, ou um grupo que conheço mas que é grande, então começo a ficar apreensiva . Nas semanas que antecedem a festa, tento deletá-la da minha mente. Com a aproximação do dia, o meu receio aumenta. Estranhamente, a roupa que vou usar não me preocupa de maneira alguma. O que me aterroriza são os outros convidados: o que vou conversar com eles, o que eles pensarão de mim.
Meus sentimentos são tão fortes que é difícil descrevê-los. Em primeiro lugar, minha mente toma o comando da situação e tento inventar desculpas para evitar a festa. Penso em fingir que estou doente, que tenho outro compromisso, que houve uma morte na família ... A lista de desculpas que já preparei para esses momentos é infinita e quase sempre descarto todas elas. Algumas vezes sucumbo ao medo, dou uma desculpa e fico em casa. Mas, em vez de me sentir aliviada, me sinto ainda pior, porque tenho medo mortal de festas, mas tenho um medo ainda maior de ser considerada covarde. Enquanto minha mente inventa desculpas, eu me acuso de ser incapaz de lidar com meus medos, de ser um fracasso, de ser incompetente ... E é com esses sentimentos "alegres" que vejo o dia da festa se aproximar.
Com a minha mente perdida nesse turbilhão de medo e pânico, meu corpo também reage da mesma maneira: meu coração acelera, quase não consigo respirar, minhas mãos ficam frias, e meu estômago fica tão apertado que sinto náuseas. Tento ignorar esses sentimentos e vou à festa. Chego lá e encontro um monte de gente que parece estar se divertindo muito o que me faz sentir ainda pior. Uma vez mais percebo que sou diferente, que há algo estranho em mim que me separa de todos os outros.
Sou tímida, ou sofro de Transtorno de Ansidade Social como os médicos dizem hoje, desde pequena. Lembro-me de muitas ocasiões quando eu me sentava em algum canto sozinha, tentando fingir que não existia enquanto todo mundo se divertia. Nunca sentia que era parte de um grupo. Sempre fui uma observadora, uma pessoa de fora.Minhas irmãs não são tímidas e minha mãe é uma pessoa muito sociável, então não posso dizer que a timidez é coisa de família. Quando minha filha mais velha era pequena, ela era muito tímida e eu tinha pena dela, ao mesmo tempo me culpava por ter lhe dado aquele gene horrível. Fiquei muito contente quando ela superou sua timidez. Mas, para mim, esse momento de alívio nunca chegou. A timidez continua comigo até hoje.
Li na internet sobre muitas pessoas que eram tímidas mas tornaram-se atores famosos, cientistas ou políticos. Tenho certeza de que se eu não fosse tímida, minha vida profissional teria sido mais bem-sucedida, porque eu iria conversar mais com meus colegas de trabalho. Por causa da timidez, tive de compensar sendo mais competente.
Numa das empresas em que trabalhei nos EUA, o meu escritório ficava perto da mesa da secretária. Enquanto trabalhava, muitas vezes eu a escutava falando sobre o tempo, os programas de TV, as promoções das lojas, ou discutindo detalhes de sua vida pessoal com qualquer um que se aproximasse. Invejava sua capacidade de ficar de conversa fiada. Sempre me perguntei como algumas pessoas são capazes de falar o dia inteiro sobre nada em particular, de fazer amizade com desconhecidos em aeroportos, restaurantes, em qualquer lugar, enquanto outras lutam para encontrar as palavras certas.
Outro dia, numa festa, vi um moço sentado sozinho numa mesa mexendo no seu celular. De vez em quando, ele olhava em volta e olhava novamente para o celular. Seu corpo estava tenso e eu percebi imediatamente que ele era tão tímido quanto eu. Por um minuto, tive vontade de ir conversar com ele: dois tímidos, perdidos naquele mundo de pessoas extrovertidas rindo e fazendo piadas. Mas simplesmente não consegui me aproximar e ele continuou fingindo que estava ocupado com o celular. A timidez, que seria um elo entre nós, nos impediu de nos conectar.
Photo: Cesar Areal
Mais uma, vez, me identifiquei muito com seu texto. Sofro do mesmo problema, tenho poucos amigos e dificulade em fazer (e manter) novos. No meu trabalho, as pessoas vivem conversando sobre nada em particular e eu não consigo me misturar, me sinto uma estranha no ninho. A verdade é que sou meio eremita e lidar com as outras pessoas é extremamente difícil. Até mesmo quando se trata de família...
ReplyDeleteBjs
Oi Simone,
ReplyDeleteTimidez não é fácil mesmo. O pior é que a gente ainda é condenada por ela, como se fosse alguma coisa que tivéssemos que “vencer” e como não vencemos, nos sentimos muito mal. Já li muito sobre timidez e cheguei a conclusão de que a maioria dos artigos com sugestão foi escrito por alguém que nunca foi tímido na vida. Obrigada por ler meu blog e pelo seu comentário. Feliz Natal e Ano Novo!
Para mim, que estive tão próxima durante algum tempo, esse texto foi uma revelação.
ReplyDeleteNão tinha ideia de quão grande era sua timidez e quanto ela te incomodava.
Ler esse texto provavelmente ajudaria muita gente a se sentir um pouco menos infeliz e sozinha.
Bjs e ótimo Natal!
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ReplyDeleteOi, tia,
ReplyDeletemostrei sua foto de menina para o Markus e perguntei se ele sabia quem era.
"É uma Piassa ou Polizzi, bonita e com expressao de bicho do mato. Parece com voce e até com a Helena. Olha só, é a cara da pequenininha quando está braba."
Enfim, tia, tímidas ou nao, compartilhamos os mesmos genes, somos todas bichos do mato...