Thursday, December 16, 2010

Dear Reader (Caro leitor)

Dear Reader,

I hope you don’t mind if I write you a letter. If you are like me, probably you did not get a letter for awhile and maybe you will enjoy getting one, even if it arrives electronically. Nowadays, the postman brings us bills, advertisements, and many other things that we don’t want. But letters, ah, these are things of the past…

A few years ago when I went to Brazil, my home-country, I brought back some school work that I had done as a child. Among these were some notebooks with calligraphy. I remember that I used to spend hours practicing my handwriting, making sure that my “fs” and “ts” had the proper lines on the right places. Nowadays, I almost don’t write by hand anymore. The computer is here for everything and I wonder why I wasted my time practicing to write that way. On the other hand, I do remember feeling relaxed and serene as my hand went over the paper drawing the “os” and “as” with precision, as if performing a work of love. Do you remember, my dear reader, these times when time wasn’t so important, when we could spend it with a piece of paper just drawing alphabetical letters one by one instead of trying to write five emails at once while we simultaneously read the news on the Internet, IM someone and check our cellular for missing messages?

During my teenage years, when I lived at a boarding school, I received and sent many letters. My mother and my sisters wrote me often. I knew that my mother made my sisters write the letters, but I was still glad to hear from them even though the format of the letters was always the same: we are well, how are you, well I have to go now… The days that I received these letters were special because I knew that somewhere, far from where I was, someone was thinking about me.

Many years later, after I got married and moved to New York, I also received many letters. In the beginning, my friends and my family wrote. As time went by, the friends stopped writing and only my relatives continued. I was living a busy life and I didn’t reply as fast or often as I should, but I did reply sometimes. The letters that I received were a reminder that there was a place where people cared about me, spoke my language, shared my feelings and could be, even in the letters, as dramatic as I was. They meant a lot.

Nowadays, only my mother writes to me. Why write if you can talk on the phone, by skype, or email someone knowing that you will get an answer almost instantaneously? Because if we don’t get an answer to an email the same day or the next, we start to wonder if the person is sick, traveling, having computer problems, doesn’t like us anymore, and so on…. We want results, we want immediate satisfaction.

A few weeks ago, I bought an address book to give to my aunt in Brazil. It was difficult to find it. I had to look on the Internet because the bookstores seemed to have just a few left for sale. I realized then that addresses books will disappear soon. Nowadays, people store everything in their cell phones. Why do we need addresses books anymore? It is the same with planners, which became electronic thanks to Microsoft. Like them, so many things are bound to vanish. I wonder what the stamp collectors will do, when people stop writing letters. And how about all the beautiful stationary with golden drawings, cute animals, pretty landscapes… These will be gone pretty soon too.

When I was fifteen years old, my boyfriend gave me a set of beautiful stationary that came in a folder, tied with a pink ribbon and with flowers painted all over it. I used the stationary and kept the folder for many years because it was so delicate and feminine. What a boyfriend would give nowadays for his girlfriend, I wonder. Just a gift certificate for no specific store?

As you can see, my dear reader, I am feeling nostalgic today. Maybe the fault of this is all these Christmas songs that keep playing in the stores where I go shopping reminding me that it is time to buy gifts, even if I am not inspired to do so this year. Maybe it is because I keep receiving electronic Christmas cards from friends who don’t have time or motivation to send me a paper card anymore. And believe me; I will be like them too, soon sending some electronic Christmas cards. Forgive me if you get one… Times changed. I realize that some trees will be saved since less people will be using paper to write letters and Christmas cards. But, being old-fashioned, I have to confess that I do miss the elegancy and beauty of a letter, written in a nice stationary, and the Christmas cards hand picked in a store, specially for me.

Fondly,
Bernadete

CARO LEITOR


Caro leitor,

Espero que não se importe se eu lhe escrever uma carta. Se você é como eu, provavelmente não recebe cartas há algum tempo e talvez goste de receber uma, mesmo que seja por via eletrônica. Hoje em dia, o carteiro nos entrega contas, anúncios, e muitas outras coisas que não queremos. Mas cartas, ah, essas são coisas do passado ...

Há alguns anos, quando fui ao Brasil, trouxe comigo alguns trabalhos escolares que tinha feito quando era jovem. Entre esses estavam alguns cadernos de caligrafia. Eu me lembro que costumava passar horas praticando minha caligrafia, para ter certeza de que meus "fs" e "ts" eram escritos com os traços nos lugares certos. Hoje em dia, quase não escrevo mais à mão. Uso o computador para tudo e me pergunto por que perdi meu tempo praticando caligrafia daquela maneira. Por outro lado, me lembro de me sentir tranquila e calma enquanto minha mão desenhava no papel os "os" e "as" com precisão, como se aquele fosse um trabalho de amor. Você se lembra, meu caro leitor, dos tempos em que o tempo não era tão importante, quando nós podíamos gastá-lo com um pedaço de papel desenhando as letras do alfabeto, uma por uma, ao invés de passá-lo tentando escrever cinco e-mails de uma só vez, enquanto lemos as notícias na internet, mandamos uma IM e checamos nossos celulares para ver se perdemos alguma chamada?

Nos meus tempo de adolescente, quando eu morava num colégio interno, recebi e mandei muitas cartas. Minha mãe e minhas irmãs escreviam constantemente. Eu sabia que minha mãe mandava minhas irmãs me escrever, mas ainda ficava feliz de receber as cartas que tinham sempre o mesmo formato: estamos bem, espero que você esteja bem, vou ficando por aqui ... Os dias em que recebia essas cartas eram especiais porque eu sabia que em algum lugar, longe de onde eu estava, alguém pensava em mim.

Muitos anos mais tarde, depois que me casei e me mudei para New York, também recebi muitas cartas. No começo, meus amigos e minha família escreviam. Com o tempo, os amigos pararam de escrever e só minha família continuou. Minha vida era muito corrida eu eu não respondia tão rápido ou frequentemente como deveria, mas geralmente respondia. As cartas eram para mim um sinal de que havia pessoas que não tinham me esquecido, que falavam a minha língua, entendiam meus sentimentos e podiam ser, mesmo nas cartas, tão dramáticas como eu. Elas significavam muito para mim.

Atualmente, apenas a minha mãe me escreve. Por que escrever se podemos falar pelo telefone, pelo skype, ou email,  sabendo que receberemos uma resposta quase instantaneamente? Porque se não recebemos uma resposta para um e-mail no mesmo dia ou no dia seguinte, começamos a nos perguntar se a pessoa está doente, viajou, teve problemas com o computador, não gosta mais de nós, e assim por diante .... Queremos resultados, queremos satisfação imediata.

Algumas semanas atrás, comprei uma caderneta de endereços para dar a minha tia no Brasil. Foi difícil encontrá-la. Tive que procurar na Internet, porque as livrarias tinham poucas disponíveis. Percebi então que as cadernetas de endereços desaparecerão em breve. Hoje em dia, as pessoas guardam tudo nos seus celulares. Por que precisamos de cadernetas de endereços? O mesmo acontece com as agendas, que se tornaram eletrônicas graças a Microsoft. Como elas, muitas coisas estão fadadas a desaparecer. Eu me pergunto o que os colecionadores de selos farão quando as pessoas pararem de escrever cartas. E os lindos papéis de carta com desenhos dourados, animais engraçadinhos, paisagens bonitas ... Esses desaparecerão brevemente também.

Quando eu tinha quinze anos, meu namorado me deu um papel de carta lindo, que veio numa pasta, amarrado com uma fita cor de rosa e flores pintadas na capa. Usei o papel mas guardei a pasta por muitos anos, porque era muito delicada e feminina. O que um namorado daria hoje para sua namorada: apenas um certificado de presente para qualquer loja?

Como você pode ver, meu caro leitor, estou me sentindo nostálgica hoje. Talvez a culpa disso seja de todas essas músicas de Natal que ficam tocando nas lojas onde vou fazer compras me lembrando que é hora de comprar presentes, mesmo que não esteja inspirada para fazer isso este ano. Talvez seja porque continuo recebendo cartões eletrônicos de Natal de amigos que não têm tempo ou motivação para me enviar um cartão pelo correio. Mas olhe, sou como eles também: em breve comecarei a enviar cartões eletrônicos de Natal. Perdoe-me se você receber um... Os tempos mudaram. Sei que algumas árvores serão salvas pois as pessoas usarão menos papel para escrever cartas e cartões de Natal. Mas, sendo antiquada, confesso que sinto falta da elegância e da beleza de uma carta, escrita num papel delicado, e dos cartões de Natal escolhidos numa loja especialmente para mim.

Carinhosamente,
Bernadete

Photographer: nuttakit

1 comment:

  1. How can I resist a comment to this?

    There is a certain elegance to a letter. A beauty to engraved stationary. A feel to handmade paper stock. There is flair to the hand written word. Where will all of these fixtures of our memory end up? Hopefully, not in the museum or landfill. Hopefully, some of us will have the courage to be nostalgic and remember, but even more importantly; to remind the rest of us that all this instant gratification may leave more than a little to be desired.

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