Wednesday, October 20, 2010
Upside Down (De cabeça para baixo)
When my youngest daughter was just a child and we played in our pool at home, sometimes I would suggest that we look at the world upside down. Holding hands, we would throw our heads backwards and stare at the sky, pretending that it was the water in the pool while the water was the sky. I never forgot those magic moments. I always hoped that they taught my daughter to see life in a different perspective.
Lately, I have been coming to the conclusion that the world is, in fact, upside down. There are so many things that don’t make sense or look like they should be the other way around that I don’t know what to think anymore. Reading the newspaper, the Internet, or just talking with people, many times I find myself at a loss to understand what is going on.
The other day, for example, I read on the Internet about this 7 year old boy who had been expelled from a school in Florida, US, because he had taken a plastic gun to the class. He didn’t threaten anyone with the toy; in fact he never took it out of his schoolbag. He just told a friend that it was there, the friend told the teacher who told the principal and, presto, the boy was expelled. The day I read about him, he had been out of school for one entire year while the school district and the parents fought about the decision and the lawyers probably got richer. What? Could this really have happened?
Then, I received an email from my aunt who lives in Brazil saying that she was going to retire pretty soon because in Brazil a woman can retire with full benefits after paying social security for 30 years. Because of that, when she is about 55 years old she will be able to retire. As for me, I will be entitled for full social security benefits in the US only when I am 66 years old. But wait: isn’t Brazil considered a third world country and US one of the top countries in the world? Shouldn’t things be the other way around?
I also read this week in the New York Times that nowadays, in the US, the most popular toy for children years 1 to 3 is the iPhone. Parents are so proud of their children’s ability to play with the iPhone that they let them enjoy, for as long as they want, all the “educational” apps such as Toddler Teasers: Shapes, which asks the child to tap a circle or square or triangle; and Pocket Zoo, which streams live video of animals at zoos around the world. Then there’s the new iGo Potty app, with automated phone calls reminding toddlers that it’s time to “go.” Believe me: this is for real.
I am glad my daughter got used to the idea of the world been upside down from time to time. Maybe she will have an easier time understanding it than I do. Although I believe that we do need to broaden our horizons and not shy away from new ideas, I still struggle to find some coherence in the middle of so many contradictions. A small boy is left out of school for one year because he took a plastic gun there. But a mother who let her 2 year old child spend six hours straight staring at the iPhone isn't penalized. In a not-so-developed country, the retirement age is lower than that in a more developed country. Excuse me: isn’t the world upside down or is it just my impression?
DE CABEÇA PARA BAIXO
Quando minha filha mais nova era criança e nós brincávamos na piscina da nossa casa, às vezes eu sugeria que olhássemos o mundo de cabeça para baixo. De mãos dadas, virávamos a cabeça para cima e para trás, fingindo que o céu era a água da piscina enquanto a água era o céu. Nunca me esqueci daqueles momentos mágicos. Sempre desejei que, por causa deles, minha filha tivesse aprendido a ver a vida sob uma perspectiva diferente.
Ultimamente, tenho chegado à conclusão de que o mundo está, na verdade, de cabeça para baixo. Há tantas coisas que não fazem sentido ou que parecem que deveriam ser ao contrário, que nem sei mais o que pensar. Lendo jornal, na internet, ou apenas conversando com pessoas, muitas vezes fico confusa, sem entender o que está realmente acontecendo.
Outro dia, por exemplo, li na internet sobre um menino de 7 anos que havia sido expulso de uma escola na Flórida, EUA, porque tinha levado um revólver de plástico para a classe. Ele não ameaçou ninguém com o brinquedo, na verdade nem chegou a tirá-lo da mochila. Apenas disse a um amiguinho que tinha levado o revólver, o amiguinho contou para a professora, que contou para o diretor da escola e pronto, o menino foi expulso. No dia que li a notícia, o garoto já estava sem estudar há um ano, enquanto o distrito escolar e os pais discutiam a respeito da decisão e, provavelmente, os advogados ficavam mais ricos. O quê? Isso tinha realmente acontecido?
Mais tarde, recebi um email de minha tia que mora no Brasil dizendo que ia se aposentar em breve, pois no Brasil a mulher pode se aposentar com benefícios completos depois de pagar aposentadoria durante 30 anos. Por isso, quando ela tiver mais ou menos 55 anos poderá se aposentar. Quanto a mim, terei direito a aposentadoria com todos benefícios nos EUA só quando tiver 66 anos. Mas espere um pouco: o Brasil não é considerado um país de terceiro mundo e os EUA um dos países mais desenvolvidos do mundo? As coisas não deveriam ser ao contrário?
Também li esta semana no New York Times que hoje em dia, nos EUA, o brinquedo mais popular entre as crianças de 1 a 3 anos é o iPhone. Os pais estão tão orgulhosos das crianças saberem manusear o iPhone que permitem que elas brinquem o quanto quiserem com os aplicativos "educativos", como Toddler Teasers: Shapes, que sugere que a criança ponha o dedo num círculo, quadrado ou triângulo, e Pocket Zoo, que stream vídeo ao vivo de animais em zoológicos em vários lugares do mundo. Além disso, há o aplicativo iGo Potty, com chamadas de telefone automatizadas lembrando a criança quando está na hora de ir ao banheiro. Acredite-me: não estou brincando...
Fico feliz que minha filha tenha se acostumado com a ideia de que o mundo pode estar de cabeça para baixo, pelo menos de vez em quando. Pelo menos para ela será mais fácil entender o que acontece atualmente. Embora eu acredite que precisamos ampliar nossos horizontes e estar sempre abertos para novas ideias, ainda me esforço por encontrar alguma coerência no meio de tantas contradições. Um menino é proibido de ter aulas por um ano porque levou uma arma de brinquedo para a escola. Mas uma mãe que deixa a filha de 2 anos passar seis horas seguidas brincando com um iPhone não é penalizada. Num país não muito desenvolvido, a pessoa pode se aposentar com menos idade do que num país mais desenvolvido. Pera aí: o mundo está de cabeça para baixo ou é apenas impressão minha?
Photo: Bernadete Piassa
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