Sunday, February 21, 2010
LIFE IN THE STREETS (A alma das ruas)
People usually tell me that I think too much. They say this as if it were an accusation, something that I shouldn’t be doing. Of course, nobody tells me what I should be doing and, from the way they say it, thinking too much is definitely a sin which I should avoid at all costs.
But how can I do that? Now, for example, it is 5pm on a Sunday, and I should be working on some research about pancreatic and colorectal cancer. Instead, I find myself staring at the picture of the guy that you can see here, selling flowers in Rio de Janeiro, Brazil. I look at him and I think: this guy probably spends his entire day sitting at that wood crate selling flowers. Most likely he is very poor and comes from far away to sell his flowers in Ipanema, a well-off neighborhood in Rio. He certainly doesn’t have an easy life. However, he seems to be the king of the world. Why is he happy sitting there, selling his flowers, shirtless and sweaty, while I am not particularly happy sitting comfortably in my house in the US, in front of my computer, peeking outside and seeing that it is already dark, concerned about the snow and rain that are supposed to hit this region tomorrow? Don’t I have more material possessions than that man? Is happiness unrelated to wealth?
When I travel, I don’t look for fancy restaurants to visit or expensive malls where I can go to buy clothes. I enjoy walking through the streets and seeing the people who are doing business outside: men selling bananas in Corumbá, Brazil, young Long Neck girls selling scarves in Thailand, a “colla” selling hats in Bolivia, an old woman selling pocketbooks in Hungary, a man selling herring sandwiches on a boat in Amsterdam… I enjoy going to the street markets where there are always a confusion of people, vegetables, clothes, animals, drinks, foods, and many, oh so many colors. That is what attracts me in life: these people and places bursting with life that make my life pale in comparison to them.
My camera goes with me whenever I go. It has been my companion since I was 15 years old. That year, for my birthday, I asked my aunt to ask my father if he would give me an Asahi Pentax SP2 as a present. I didn’t dare to make the request directly to my father. He was that distant figure who presided over the house and loomed above my sisters and me as unattainable as God. My aunt, who probably doesn’t even remember this, had to be the intermediary and I got my wish. At that time, the bigger the camera the better so mine turned out to be a big one that was quite heavy and barely fit in my pocketbook. Once, when I lived in São Paulo, a thief tried to steal it. He went to my house and convinced the maid that I had given him permission to get my camera so he could photograph his son’s baptism. The maid let him go inside and look everywhere. Happily for me, he couldn’t find the camera and took only my tripod, leaving me a thank you note. I guess the camera already knew that its destiny was to follow me to many places of the world.
My Asahi Pentax did get some mold after many years of usage in Brazil and in the US. I had to say goodbye to it. I sold it in France and bought a smaller camera. Now, I have an even smaller one, and we have not formed any emotional attachment yet. Still, the camera is very reliable.
But do you see why people say that I think too much? I was supposed to be working. Instead, I started looking at photos, wondered about happiness and unhappiness, thought about the trips that I had taken in the past, made some considerations about cameras, and now I am writing my blog. Talk about being dispersive…
A ALMA DAS RUAS
As pessoas costumam me dizer que eu penso demais. Dizem isso como se estivessem me acusando. Claro, ninguém diz o que eu deveria estar fazendo em vez de pensar. Mas, pela maneira como fazem o comentário, parece que pensar demais é definitivamente um pecado que eu deveria evitar a todo custo.
Como posso fazer isso? Agora, por exemplo, são 5 horas da tarde de um domingo e eu deveria estar trabalhando em uma pesquisa sobre câncer de pâncreas e colo-retal. Em vez disso, estou olhando a foto do moço que aparece ao lado, vendendo flores no Rio de Janeiro. Olho para ele e penso: esse cara deve passar o dia inteiro sentado nesse engradado de madeira vendendo flores. Provavelmente é pobre e vem de longe para vender suas flores em Ipanema, um bairro rico do Rio de Janeiro. Na certa sua vida não é fácil. No entanto, parece se sentir o dono do mundo, feliz sentado lá, vendendo suas flores, sem camisa e suado. Por que eu não me sinto feliz sentada confortavelmente na minha casa nos EUA, em frente ao meu computador, observando pela janela que já está escuro, preocupando-me com a neve e a chuva que devem cair nesta região amanhã? Não possuo mais bens materiais do que esse homem? Será que a felicidade e a riqueza não estão relacionadas?
Quando viajo, não quero comer em restaurantes de luxo ou procurar shoppings caros para comprar roupas. Gosto de caminhar pelas ruas e ver as pessoas que estão vendendo coisas: um homem vendendo bananas em Corumbá, Brasil, as meninas-girafa vendendo lenços na Tailândia, uma “colla” vendendo chapéus na Bolívia, uma velha vendendo echarpes na Hungria, um homem vendendo sanduíches de arenque num barco em Amsterdã ... Gosto de ir às feiras onde sempre há uma confusão de pessoas, legumes, roupas, animais, bebidas, alimentos, e muitas, mas muitas cores. Isso é o que me atrai: pessoas e lugares cheios de vida que fazem a minha vida parecer pálida em comparação à deles.
Minha máquina fotográfica me acompanha onde quer que eu vá. É minha companheira desde meus 15 anos. No dia do meu aniversário, pedi para minha tia pedir ao meu pai que me desse uma máquina Asahi Pentax SP2 como presente. Não ousei fazer o pedido diretamente. Meu pai era aquela figura distante, que presidia a casa e como que flutuava acima de mim e minhas irmãs, tão inatingível quanto Deus. Minha tia, que provavelmente nem se lembra disso, teve que ser a intermediária. Ganhei a máquina. Naquele tempo, quanto maior a máquina fotográfica, melhor, por isso a minha era tão grande que mal cabia na minha bolsa. Uma vez, quando eu morava em São Paulo, um ladrão tentou roubá-la. Ele foi à minha casa e convenceu a empregada de que eu havia deixado ele pegar a máquina para fotografar o batizado de seu filho. A empregada deixou que ele entrasse e procurasse pela casa toda. Felizmente, ele não conseguiu encontrar a máquina e levou apenas o tripé, deixando-me uma nota de agradecimento. Acho que a máquina já sabia que seu destino era seguir-me para muitos lugares do mundo.
Minha Asahi Pentax ficou mofada depois de muitos anos de uso no Brasil e nos EUA. Então, tive que dizer adeus a ela. Vendi a máquina na França e comprei uma pequena. Agora, tenho uma menor, mas ainda não nos apegamos emocionalmente. Mesmo assim, ela é bastante confiável.
Você vê por que as pessoas dizem que penso demais? Eu deveria estar trabalhando. Em vez disso, comecei a olhar fotos, pensar sobre felicidade e infelicidade, sobre as viagens que fiz, sobre máquinas, e agora estou escrevendo meu blog. Isso sim é que é ser dispersiva ...
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Uma delícia, Dete! A gente viaja junto com você - pelo menos no pensamento.
ReplyDeleteOi Dete
ReplyDeleteMandei revelar 2 cópias da foto q vc colocou neste post e fui ao local onde vc a tirou. È claro, lá encontrei o mesmo homem suado e sem camisa. Qdo me aproximei, ele pensou que eu quisesse comprar algumas flores, mas quando eu lhe mostrei a foto, o seu sorriso se iluminou e ele não só se lembrava de você como também me disse o dia em que a foto tinha sido tirada. Ficou super feliz quando eu lhe disse que as fotos eram para ele e para o rapaz de óculos. Ele se chama Expedito, vai colocar a foto numa moldura, o rapaz de óculos é seu filho e eu ganhei 2 lindas rosas amarelas. Um beijo.
Puxa, fiquei emocionada! Que lindo saber que ele se lembrava de mim e que valorizou a foto. Sao nessas horas que a gente fica contente de ser escritora! Muito obrigada por ter levado a foto para ele.
ReplyDeleteBjs.