Friday, November 9, 2012

Toothbrushes and the Human Being (Escovas de dentes e o ser humano)




Former Rep. Gabrielle Giffords and husband Mark Kelly. Photo ABC News

I am trying to decide what to do with all the toothbrushes and toothpastes I got at the hotel. Should I take them home, or just leave them here? Since I arrived at this hotel in California, almost 2 weeks ago, the employees decided to give me toothbrushes and toothpastes every single day. The first time someone knocked on the room’s door and gave me the items, saying that I had made a special request for them, I explained that I had not requested anything. The employee apologized but left the toothbrush and toothpaste with me anyway. The second day, I insisted there was a mistake. The employee apologized, and gave me again the items. The third day, I got curious and decided to try one of the toothbrush and toothpaste. I decided that the ones I had brought with me were better. After the third day, I simply gave up trying to explain anything and left the items accumulating in the bathroom. Now, I am ready to go back home and have no idea what to do with them.

The hotel seems to have its special set of rules. There is a paper left over the bed daily where you can specify the time that you would like the room cleaned and make any other requests (toothpastes and toothbrushes, maybe?) Since I am working from the hotel, I specified a time slot to have my room cleaned so I could go and work in the lobby while they did the cleaning. It turned out that the housekeeper come to clean the room at the requested hour only twice. I complained at the front desk, they apologized deeply and said that they would correct the problem immediately. After that, the housekeeper continued to come at the time she felt like cleaning my room.

The hotel I am staying is beautiful, but these small details bother me. They remind me of couples who get divorced because one person cannot stand the way the other brushes his teeth, or one gets annoyed because the other talks with his mouth full, or one can’t stand the fact that the other is always interrupting a conversation. Just details, one might think. But it is the details that drive us nuts, making us forget about everything else.

I was reading on CNN a story about the trial of Jared Loughner, the 24-year-old Arizona man who tried to assassinate then-congresswoman Gabrielle "Gabby" Giffords in a January 2011 shooting. A federal judge, a congressional aide and four others were killed and 12 other people were wounded that day, outside a Tucson grocery store. Yesterday, Loughner was sentenced to life in prison without the possibility of parole. The punishment includes seven consecutive life terms plus 140 years. What surprised me reading the story wasn’t the sentence that the assassin received, but the reactions of his victims.

Some of them spoke of their losses and how their lives would be changed forever. While some vowed to forgive Loughner, others said that it would be impossible for them to let go, that the physical and mental wounds would be with them until the rest of their days.

Mrs. Giffords, who was left with speech and walking problems, a paralyzed arm and partial blindness, did not speak during the sentencing hearing. But her husband, former astronaut Mark Kelly, spoke for her as she watched. He said:  “Mr. Loughner, you may have put a bullet through her head, but you haven't put a dent in her spirit and her commitment to make the world a better place…By making death and producing tragedy, you sought to extinguish the beauty of life, to diminish potential, to strain love and to cancel ideas. You tried to create for all of us a world as dark and evil as your own. But know this, and remember it always: You failed."

Kelly didn’t stop there. He had something else to say to the defendant. "Mr. Loughner, pay close attention to this: Though you are mentally ill, you are responsible for the death and hurt you inflicted upon all of us on January 8th of last year," he said. You know this. Gabby and I know this. Everyone in this courtroom knows this. You have decades upon decades to contemplate what you did. But after today, after this moment, here and now, Gabby and I are done thinking about you."

I was really moved by the words of the former astronaut who conveyed the thoughts of his wife. The couple had their lives deeply altered because of an insane act performed by a crazy man. However, after having sought justice for him, they made the difficult decision to stop thinking about him. They are not going to live the rest of their lives stuck on the day that the tragedy happened. They are moving forward, not allowing the tragedy to ruin their lives.

In the face of the greatness of their actions, I am ashamed of my petty complaints about toothbrushes, toothpastes, and the time that the housekeeper comes to clean my room. I guess small people concern themselves with small details and get lost on them. As for the people who have a great heart, they are capable of looking at the big picture and doing something better with their lives.

ESCOVAS DE DENTES E O SER HUMANO
 
Estou tentando decidir o que fazer com todas as escovas e pastas de dente que ganhei no hotel. Devo levá-las para casa, ou simplesmente deixá-las aqui? Desde que cheguei neste hotal na Califórnia, há quase duas semanas, os funcionários decidiram me dar diariamente escovas e pastas de dente. A primeira vez que alguém bateu na porta do quarto e me deu uma dessas coisas, dizendo que haviam sido requisitadas, expliquei que não tinha pedido nada. O funcionário se desculpou, mas mesmo assim deixou a escova e a pasta de dentes comigo. No segundo dia, eu insisti que era um engano. O funcionário pediu desculpas, e me deu novamente as coisas. No terceiro dia, fiquei curiosa e decidi experimentar uma das escovas de dentes e a pasta de dentes. Conclui que o que eu havia trazido comigo era melhor. Após o terceiro dia, simplesmente desisti de tentar explicar qualquer coisa e deixei as escovas e pastas de dentes se acumulando no banheiro. Agora, está quase no dia de eu voltar para casa e não sei o que fazer com elas.

O hotel parece ter um sistema de regras todo especial. Diariamente, os funcionários deixam um papel sobre a cama onde você pode especificar a hora em que gostaria que seu quarto fosse limpo e fazer quaisquer outras solicitações (escovas e pastas de dentes, talvez?) Já que estou trabalhando do hotel, especifiquei uma hora para limparem meu quarto, assim eu iria trabalhar na recepção enquanto fizessem a limpeza. Acontece que só duas vezes a camareira limpou o quarto na hora solicitada. Reclamei na recepção, eles se desculparam profundamente e prometeram solucionar o problema imediatamente. Depois disso, a camareira continuou a vir limpar o quarto na hora em que ela bem entendesse.

O hotel onde estou hospedada é bem bonito, mas esses pequenos detalhes me incomodam. Eles me lembram dos casais que se divorciam porque uma pessoa não suporta a maneira como a outra escova os dentes, ou um dos parceiros fica irritado porque o outro fala com a boca cheia, ou um se irrita com o fato de o outro estar sempre interrompendo uma conversa . Apenas detalhes, pode-se pensar. Mas são os detalhes que nos deixam malucos, fazendo-nos esquecer do resto.

Eu estava lendo na CNN uma história sobre o julgamento de Jared Loughner, um homem de 24 anos, do estado de Arizona,  que em janeiro de 2011 tentou assassinar a ex-deputada Gabrielle "Gabby" Giffords com um revólver. Um juiz federal, um assessor parlamentar e quatro outras pessoas foram mortas. Mais 12 outras pessoas ficaram feridas naquele dia, do lado de fora de um supermercado na cidade de Tucson. Ontem, Loughner foi condenado a prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional. A sentença inclui sete prisões perpétuas consecutivas, que somam mais de 140 anos de cadeia. O que me surpreendeu lendo a história não foi a sentença que o assassino recebeu, mas as reações de suas vítimas.

Algumas delas falaram das suas perdas e de como suas vidas seriam transformadas para sempre. Enquanto algumas disseram que perdoavam Loughner, outras afirmaram que será impossível para elas esquecer o que aconteceu, que as feridas físicas e mentais estarão com elas até o fim de seus dias.
A ex-deputada Giffords, que ficou com problemas para falar e andar, um braço paralisado e parcialmente cega, não discursou durante a audiência. Mas seu marido, o ex-astronauta Mark Kelly, falou enquanto ela assistia. Ele disse: " Loughner, você pode ter atingido a cabeça da minha mulher com uma bala, mas não atingiu seu espírito e não abalou o compromisso dela de tornar o mundo um lugar melhor ... Com seu ato mortal e a tragédia que provocou, você tentou extinguir a beleza da vida, diminuir o seu potencial, a semente do amor e destruir ideias positivas. Você tentou criar para todos nós um mundo tão escuro e ruim quanto o seu. Mas escute-me e lembre-se sempre: Você falhou ".

Kelly não parou por aí. Ele disse algo mais ao réu. "Loughner, preste muita atenção no que vou dizer: Embora seja mentalmente doente, você é responsável pela morte e pelos ferimentos que infligiu a todos nós no dia 8 de janeiro do ano passado. Você sabe disso. Gabby e eu sabemos disso. Todo mundo neste tribunal sabe disso. Você terá décadas e décadas para pensar no que fez. Mas depois de hoje, depois deste momento, aqui e agora, Gabby e não vamos mais pensar em você. "

Fiquei muito comovida com as palavras do ex-astronauta, que transmitiu os pensamentos de sua esposa. O casal teve sua vida profundamente alterada por causa de um ato insano realizado por um homem louco. No entanto, depois de tê-lo levado à justiça, os dois tomaram a difícil decisão de parar de pensar naquele sujeito. Os dois não vão passar o resto da vida acorrentados à lembrança daquele dia em que a tragédia aconteceu. Eles vão seguir em frente, em direção a um futuro melhor, sem permitir que a tragédia arruine suas vidas.

Diante da grandeza de suas ações, sinto-me envergonhada pelas minhas reclamações mesquinhas sobre escovas de dentes, pasta de dentes, e a hora em que a camareira do hotel vem limpar meu quarto. Acho que as pessoas insignificantes se preocupam com pequenos detalhes e se perdem neles. Quanto às pessoas que têm um coração grande, essas são capazes de colocar as coisas em perspectiva e fazer algo melhor com suas vidas.




1 comment:

  1. Gostei muito desta sua narrativa.
    Um gesto grandioso as palavras do astronauta e sua atitude de não mais, ele e a esposa pensarem no ocorrido...
    Inúmeras vezes, por quase nada, reclamamos...
    Voltarei outras vezes.
    Élys.

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