Wednesday, August 4, 2010

The Latino Way (O jeitinho latino)


When my VW Beetle was new, I used to take it to be fixed at a VW dealer. There, I read a newspaper or drank soda (courtesy of the dealer), sat on a nice sofa to watch TV, or went to a conference room with an Internet connection to work while I waited for my car. The bathroom was spotless; all the waiting rooms were clean. The only problem was the bill to fix the car which was usually extremely high. As my car got older, I decided to find another place with more reasonable prices. And that is how I ended up in the car repair shop I go to now, owned by a Portuguese man, with a Puerto Rican service writer, and Brazilian, Spanish, and a few American mechanics. The whole place operates in a Latino way: with lots of confusion and drama!

The car shop is very far from my house. I have to drive through some not so safe neighborhoods of Philadelphia in order to reach it. Usually, there are so many cars in front of the entrance that it is difficult to park inside. Last week, when I took my daughter’s car to be fixed, I was lucky: there were only a few cars. However, the shop was still as messy as always.

I arrived there in the middle of an altercation between the Puerto Rican lady and an American mechanic. She inevitably won the argument and turned her attention to me. I was complimented on my haircut, asked about my health, and finally told that I could wait in the room with the TV. I went there and immediately regretted the fact that I was wearing a white skirt since the sofa had seen better days and looked like it had not been cleaned for a long time. I sat, nevertheless, opened my book (no Internet connection) and got ready to read and wait.

A few minutes later, a Spanish guy entered the room and returned my keys to me. What? Was the car already done? The Puerto Rican girl jumped to tell him that he was only supposed to move my car behind the others, not hand my keys back. He complained about never getting correct instructions and she had her say about him never listening…

I went back to read my book and soon heard two Brazilian mechanics discussing loudly about two good for nothing Brazilian women whom they had met. They used some adjectives to describe them that can be heard only in a car repair place, and I made an effort to concentrate on my book.

Some minutes later, I was again interrupted: someone was crying. Could this be really true? First I thought I was imagining it. Then I realized that I was hearing the Puerto Rican lady sobbing while she was arguing with the Portuguese owner. Her crying and the soothing voice of the Portuguese owner, trying to placate her, continued for quite awhile – I think he had moved her car for some reason and was even offering to lend her his to make her happy. Whatever the problem was, they finally resolved it and everything was quiet for awhile.

My book was very interesting and I was really trying hard to concentrate on it, but then it looked like another fight was starting. Two men shouted at each other in Spanish. Fortunately, when I concentrated on their words, I realized they were only discussing soccer.

When the car was finally ready, I left the place smiling. For about one hour I had totally forgotten that I was in the US. I had not missed the clean and silent place where I used to take my car. The Latino drama had done wonders for my spirit…

O JEITINHO LATINO

Quando meu fusquinha era novo, costumava levá-lo para ser consertado numa concessionária da Volks. Lá, eu lia jornal ou tomava refrigerante (cortesia da concessionária), sentava num sofá bonito para assistir TV, ou ficava trabalhando numa sala de conferências com acesso à internete, enquanto esperava pelo carro. O banheiro era impecável, todas as salas de espera estavam sempre limpas. O único problema era o preço do conserto, que normalmente era extremamente alto. Assim que meu carro ficou mais velho, decidi procurar outro lugar com preços mais razoáveis. E foi assim que acabei descobrindo essa oficina onde vou agora, com um dono português, uma secretária portorriquenha, mecânicos brasileiros, de outros países Sul-americanos, do México, e também americanos. O lugar inteiro funciona à maneira latina: com muita confusão e drama!

A oficina fica bem longe da minha casa. Para chegar lá, preciso passar por alguns bairros não muito seguros da Filadélfia. Normalmente, há tantos carros na frente da entrada que é difícil estacionar dentro. Na semana passada, quando levei o carro da minha filha para ser consertado, tive sorte: quase não havia ninguém. No entanto, a oficina continuava bagunçada como sempre.

Cheguei lá no meio de uma discussão entre a secretária portorriquenha e um mecânico americano. Ela, como sempre, ganhou a discussão e só depois prestou atenção em mim. Elogiou meu corte de cabelo, perguntou sobre a minha saúde e, finalmente, me disse para esperar numa sala com TV. Entrei lá e imediatamente lamentei o fato de estar usando uma saia branca uma vez que o sofá tinha visto dias melhores e parecia que não havia sido limpo por muito tempo. No entanto, me sentei, abri meu livro (não havia internete, é claro) e me preparei para ler e esperar.

Alguns minutos depois, um rapaz latino entrou na sala e me devolveu minhas chaves. O quê? O carro já estava pronto? A moça portorriquenha foi logo lhe dizendo que ele não tinha nada que me devolver a chave, o que ele estava pensando, só era para ele ter posto meu carro atrás do outro, e por aí vai... Ele queixou-se de nunca receber instruções corretas. E ela evidentemente respondeu que ele nunca ouvia o que lhe diziam ...

Voltei a ler e logo ouvi dois mecânicos brasileiros discutindo em voz alta sobre duas mulheres brasileiras que tinham conhecido e não eram, pelo jeito, lá essas coisas. Usaram alguns adjetivos para descrevê-las que são ouvidos geralmente apenas numa oficina mecânica, e eu fiz um esforço para me concentrar de novo no meu livro.

Um pouqinho depois, fui novamente interrompida: alguém estava chorando. Será mesmo? Primeiro achei que estava imaginando, mas depois percebi que era a moça portorriquenha que soluçava enquanto discutia com o português dono da oficina. O choro da moça e a voz suave do português, tentando acalmá-la, continuaram por algum tempo - acho que ele tinha colocado o carro dela em algum outro lugar por algum motivo, e estava se oferecendo até para lhe emprestar o seu, só para aplacá-la. Seja qual fosse o problema, finalmente resolveram tudo e o lugar ficou calmo por algum tempo.

Meu livro era muito interessante e eu estava querendo lê-lo, mas logo tive a impressão de que outra briga começava. Dois homens discutiam em espanhol em vozes muito altas. Felizmente, quando me concentrei no que diziam, percebi que estavam apenas discutindo sobre futebol.

Quando o carro ficou pronto finalmente, saí da oficina sorrindo. Durante uma hora mais ou menos eu me esquecera totalmente de que estava nos EUA. Não tinha sentido saudades do lugar limpo e silencioso onde costumava levar meu carro antes. Todo aquele drama latino havia sido maravilhoso para o meu espírito...

Photo: William Eshbach

1 comment:

  1. Que delícia, Dete!
    Qualquer hora vou escrever sobre a "minha" oficina. Ela não é tão animada como a sua, mas também renderia uma boa crônica.
    Na verdade, a minha história mais interessante - no que diz respeito à oficina - só posso contar como se fosse ficção.

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