Tuesday, January 5, 2010

The Heartless Man (Um homem sem coração)


Seventeen years ago, when I moved to the state of Pennsylvania, I met a man. He was tall, blond, probably 5 years older than me, and had a serious expression on his face that made me trust him. Many things happened since the day I first saw him: my three young kids grew up and became adults; I started to work in one company, switched to another and eventually lost my job; I got divorced; I moved from one small town to another; I found another companion. Throughout these changes, I continued visiting that man at least three times a year. But he never called me by my name, and I am sure he doesn’t know it. He never asked where I am from, even though I speak English with a heavy accent. He never asked about my kids, even though he met them a few times. He never asked me to tell him what was going on with my life, even when I mentioned being depressed and tense. You see, that man is my family doctor, and for the last 17 years I have been just his nameless patient. Someone who he tries to stay with for the least amount of time possible and about whom he couldn’t care less on a personal level.

Yesterday, I went to see him again. I complained about knee pain and, since I was wearing jeans, he gave me a gown and left the room while I changed clothes. When he came back, he asked the nurse to stay by his side while he examined me. She didn’t need to do anything. Her job was just to stay there so I couldn’t blame the doctor for touching me in an inappropriate way and sue him afterwards.

At the beginning, I didn’t understand what was going on. When I realized why the nurse was there, I was flabbergasted. Was it possible that the doctor, who had known me for 17 years, was really afraid that I was going to sue him? What kind of person did he think I was?

I drove back to my house still confused. I thought about my gynecologist, who has treated me for the last 17 years and has never asked me a personal question. Suddenly, I was thrown back 30 years ago, thinking about another gynecologist who I used to consult when I lived in Brazil. He knew my name. In each office visit, he would greet me with two kisses, then spend a long time asking about my family and discussing his personal love life. On weekends, he would go to my house to visit taking a bottle of German wine. Over dinner, he would tell my ex-husband and me the most fascinating stories about his practice. He delivered my two daughters and never charged for that.

I started thinking also about the family doctor my mother would take me to see when I was a child and became sick. My mother would have long conversations with him, asking about his family and relatives. I remember going to the birthday parties of his children. And I remember feeling like a person whenever I was sick and had to be examined by the doctor. I had a name. I wasn’t just a number on a chart.

I wonder what happened, why things changed so much. In the US, there are now many debates about health care: should everybody have access to it? Who should pay the bills? How expensive should the insurance premiums be? Should abortion be paid for by the government? The discussions are endless… However, I don’t see anyone suggesting that the doctors call their patient by name and spend just 5 minutes of their time making a patient feel like a human being. Is this asking too much?

UM HOMEM SEM CORAÇÃO

Há 17 anos, quando me mudei para o estado da Pensilvânia, conheci um homem. Ele era alto, loiro, parecia ter uns 5 anos a mais do que eu, e tinha uma expressão séria que me inspirou confiança. Muitas coisas aconteceram desde o dia em que o vi pela primeira vez: meus três filhos, que eram pequenos naquela época, cresceram e se tornaram adultos; comecei a trabalhar numa empresa, passei para outra e, eventualmente, perdi meu emprego; divorciei-me; mudei-me de uma cidadezinha para outra; encontrei um outro companheiro. Enquanto essas mudanças aconteciam, continuei me encontrando com aquele homem pelo menos três vezes por ano. Mas ele nunca me chamou pelo nome e tenho certeza de que nem sabe como me chamo. Nunca perguntou de onde sou, apesar de eu falar inglês com o maior sotaque. Nunca perguntou sobre meus filhos, embora os tenha visto algumas vezes. Nunca se interessou em saber o que acontecia na minha vida, mesmo quando eu disse que estava deprimida e tensa. Pois é, esse homem é o meu médico e, nos últimos 17 anos, tenho sido apenas uma paciente sem nome para ele. Alguém com quem ele tenta passar o mínimo de tempo possível e com quem não se importa nem um pouco num nível pessoal.

Ontem fui vê-lo novamente. Queixei-me de dor nos joelhos. Já que eu estava com uma calça jeans, ele me deu um robe e saiu da sala enquanto eu me trocava. Quando voltou, pediu à enfermeira para ficar ao seu lado enquanto me examinava. Ela não precisava fazer nada. Seu trabalho era apenas ficar lá para evitar que eu acusasse o médico de me tocar de uma forma imprópria e processá-lo mais tarde.

No início, não entendi o que acontecia. Quando me dei conta da razão pela qual a enfermeira tinha de permanecer lá, fiquei perplexa. Seria possível que o médico, que me conhecia há 17 anos, estava realmente com medo de que eu fosse processá-lo? Que tipo de pessoa ele pensava que eu era?

Voltei para casa ainda meio confusa. Pensei no ginecologista, com o qual também me trato nos últimos 17 anos, e que também nunca me fez qualquer pergunta pessoal. De repente, voltei no passado há 30 anos atrás, lembrando de um outro ginecologista que me atendia quando eu morava no Brasil. Ele sabia meu nome. Cada vez que eu ia ao seu consultório, ele me recebia com dois beijos, passava um tempão perguntando sobre minha família e discutindo comigo a respeito da sua vida amorosa. Nos fins de semana, ele ia me visitar em casa e chegava sempre com uma garrafa de vinho alemão. Durante o jantar, conversando comigo e meu ex-marido, contava as histórias mais fascinantes sobre suas pacientes. Ele fez o parto das minhas duas filhas e não cobrou por nenhum deles.

Comecei a pensar também sobre minha infância e o clínico geral que me tratava quando eu ficava doente. Minha mãe tinha longas conversas com ele, perguntando sobre sua família e seus parentes mais distantes. Lembro-me de ir às festas de aniversário dos seus filhos. E lembro-me de me sentir como uma pessoa de verdade quando estava doente e tinha de ser examinada pelo médico. Eu tinha um nome. Não era apenas um número num gráfico.

Gostaria de saber o que aconteceu, porque as coisas mudaram tanto. Nos EUA, debate-se muito atualmente a respeito de saúde: Será que todo mundo deve ter acesso a tratamento médico? Quem deve pagar as contas? Quanto deveriam custar os planos de saúde? O aborto deve ser pago pelo governo? As discussões são intermináveis ... No entanto, não vejo ninguém sugerindo que os médicos chamem o paciente pelo nome e que passem pelo menos 5 minutos fazendo com que o paciente se sinta como um ser humano. Será que estou pedindo demais?

No comments:

Post a Comment