Tuesday, October 20, 2009

The Playful Gods (Os Deuses brincalhões)


One day, when my oldest daughter was 5 years old, a friend of ours came to visit with her son, who was a little bit older than my daughter. We went up to the rooftop of our building in Manhattan, New York, from where we could see a beautiful view of the Hudson River. Soon, the doorman appeared to tell us that our children had thrown a stone from the roof, which had fallen very close to a car. We apologized profusely, and that was it. But my friend and I got really nervous: the building had more than 15 floors. What if that small stone, thrown by a child, had landed on someone’s head? The person could die. Our children – and ourselves, as parents – would be considered criminals. All of this because of a pebble.

Last night I was reading the last book of my favorite American writer, Anita Shreve, entitled “Testimony.” The story is about three eighteen-year-old boys who, after drinking a lot, have sex with a fourteen-year old girl in a college’s dorm. The book describes the dreams that the boys had for their lives and how all of them came tumbling down after the rape. One moment of craziness and the three lives were compromised forever. Who was guilty didn’t matter. Destiny punished all involved in the act.

There are moments that change our lives forever and take us in one direction, when we thought we were going to another. Before we moved to the US, my ex-husband had been invited to work in a laboratory in Honolulu, Hawaii. A few months before we went to Honolulu, we received a letter from the person with whom my ex-husband was going to work, saying that he was moving his laboratory to New York. We moved from Sao Paulo to New York and spent five years living in an apartment with two bedrooms, on a busy street. How would our lives be if we were living in Hawaii instead, close to the beach, in a place with a much slower pace? And how would my life be today if I hadn’t moved to the US but continued living in Brazil, working as a journalist? I won’t ever know the answers to these questions. In the moment we made the decision to move to one place instead of the other, the other possibility ceased to exist.

We go through life thinking that we are in charge of our own destiny. Sometimes we need to lose a job, or get sick, or lose someone who is dear to us, to see how fragile life is and that, in fact, we are not in charge of anything. We can make plans; write down all steps that we are going to follow to achieve a goal. Suddenly, one small piece of the puzzle falls out of place and what we were so carefully building collapses.

The fragility and flightiness of life never fails to fascinate me. It seems that the gods like to play jokes on us. When we think that we have everything under control, they come and change the course of our lives. After having been thrown in different directions so many times, I learned that the best I can do is to be open to the possibilities of life. We can plan our destiny as much as we want. In the end, everything will turn out to be different. Could you imagine yesterday, my readers, that today you would be sitting at that chair, reading a blog about the unpredictability of life? What did you have planned for today?


OS DEUSES BRINCALHÕES


Um dia, quando minha filha mais velha tinha 5 anos, minha amiga e seu filho, um pouco maior do que minha filha, vieram nos visitar. Subimos até o último andar do prédio onde eu morava de onde podíamos ter uma vista linda do rio Hudson, em Manhattan, Nova York. Logo depois, o porteiro apareceu para nos dizer que as crianças tinham jogado lá de cima uma pedra que caiu perto de um carro. Pedimos muitas desculpas, e ficou por isso mesmo. Mas eu e minha amiga ficamos super nervosas: o edifício tinha mais de 15 andares. E se essa pedra, atirada por uma criança, tivesse caído na cabeça de alguém? A pessoa poderia morrer. Nossos filhos - e nós, como mães - seríamos considerados criminosos. E tudo isso por causa de uma pedrinha.

Ontem à noite estava lendo o último livro de Anita Shreve, minha escritora americana favorita. O livro, "Testemunho", conta a história de três moços de dezoito anos que tomam um porre e depois têm relações sexuais com uma garota de catorze anos, no dormitório da faculdade. O livro descreve os sonhos e esperanças dos garotos e como todos vieram por água abaixo depois do estupro. Um momento de loucura e as três vidas mudaram para sempre. Não importa de quem era a culpa. O destino puniu todos os envolvidos no ato.

Há momentos que mudam nossas vidas irremediavelmente e nos levam para uma direção, quando pensávamos que estávamos indo para outra. Antes de nos mudarmos para os EUA, meu ex-marido tinha sido convidado para trabalhar num laboratório em Honolulu, Havaí. Poucos meses antes de irmos para lá, recebemos uma carta da pessoa com quem meu ex-marido ia trabalhar, dizendo que estava mudando seu laboratório para Nova York. Nos mudamos de São Paulo para Nova York e passamos cinco anos morando num apartamento com dois quartos em uma rua movimentada. Como nossas vidas teriam sido se estivéssemos morando no Havaí, perto da praia, num lugar com um ritmo muito mais lento? E como seria minha vida hoje se eu não tivesse me mudado para os EUA mas continuado no Brasil, trabalhando como jornalista? Nunca vou saber as respostas para essas perguntas. No momento em que tomamos a decisão de ir para um lugar em vez do outro, a outra possibilidade deixa de existir.

Passamos a vida pensando que estamos no comando do nosso próprio destino. Às vezes temos de perder o emprego, ou ficar doente, ou perder alguém de quem gostamos muito, para ver como a vida é frágil e que, na verdade, não estamos no comando de coisa nenhuma. Podemos fazer planos; escrever todos os passos que vamos tomar para alcançar um objetivo. De repente, um pequeno pedaço do quebra-cabeça sai fora do lugar e o prédio que tínhamos construído com tanto cuidado desmorona.

A fragilidade e a leviandade da vida nunca deixam de me fascinar. Parece que os deuses gostam de brincar com a gente. Quando pensamos que temos tudo sob controle, eles vêm e mudam nosso rumo. Depois de ter sido atirada em direções diferentes inúmeras vezes, aprendi que o melhor que posso fazer é estar aberta às possibilidades da vida. Podemos planejar nosso destino tanto quanto quisermos. No final, tudo será diferente. Vocês teriam imaginado ontem, meu leitores, que hoje estariam sentados nessa cadeira, lendo um blog sobre a imprevisibilidade da vida? O que tinham planejado para hoje?

1 comment:

  1. Concordo plenamente com vc quanto à imprevisibilidade da vida, mas, desde que vc iniciou o seu blog, sei que em algum momento do dia vou me sentar nesta cadeira para ver se há um novo post. Ao menos neste caso, posso dizer que estou no comando do meu destino. Nem todos os dias vc nos brinda com novos textos, mas sempre os aguardo ansiosamente. Fã é isso aí! Bj.

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