CRAZY LOVER (AMANTE DESVAIRADA)
My fingers, my hands, sometimes
speak. They write melancholic stories that I can't always explain. They speak
of suffering, of struggles. They cry for help, they scream. They express fear,
anguish. They try to describe strange smells and journeys to places that I dare
not mention. Gloomy places, where the day hides behind the endless night, where
sobs try to escape before being repressed, afraid of what others might think.
Ah, the others. Sometimes I sigh,
wishing I had been born as light as the breeze, capable of seeing only the
superfluous and laugh, laugh all the time at this crazy life. However, I was
born pensive, introspective, in a world where sadness is a thing of incompetent
people, incapable of dealing with their own emotions.
My soul cries. Forgive me for being
inconvenient, for saying what you don't want to hear. I know very well you'd
rather I pretend that what I feel doesn't exist and never existed. That I never
existed?
My soul cries, immersed in deep
depression, knowing that only depressed people like me would understand this
endless unexplained sadness, without a time to arrive or leave. I wake up
thinking: will she come visit me today? If she comes, how many days will she
stay? And I pray, I pray fervently to get rid of her, without wanting to admit
that she is part of me, that cutting off that piece of myself would be like
mutilating myself. I pray anyway, I pray ardently. And I clean the house, cook,
walk around aimlessly or read inconsequential books. I pray, I scream, I slam
doors, I shut up, I sleep. All in a futile attempt to escape this self that I
abhor, that scares me, that makes me think about death, even though I know that
depression wants me alive to continue in this torment.
The others? Ah, the others... They
would advise me to look for something to entertain myself, to stop thinking
about the mistakes I made or were committed against me in the past. They would
probably tell me to go out dancing and twirling around the world, drinking and
singing, grateful for all my privileges. They don't understand that the dark lady
of depression is an illness and, like any illness, selfish and jealous. She
wants me just for herself. She consumes my days and nights. When she arrives soundlessly
or suddenly, I think only of her while she embraces me like a close friend who
has known me for a long time. She waits quietly for my moments of weakness, the
thoughts that will invariably lead me to her. She knows my deepest secrets more
profoundly than any lover.
When she visits me, the outside
world stops existing. The sunny day loses its brightness, food loses its taste,
loved ones become inconvenient. How can I pay attention to what is happening
around me when I am in perfect symbiosis with this delusional and seductive
lover who grabs me, possesses me, closes my eyes and shouts, in a voice more
powerful than the wind, that we will be together forever, that she will never
leave me?
Well-intentioned people advise me
to take medication, try innovative treatments, home remedies, to calm my heart
and meditate. Have I tried thinking positive thoughts? Run, swim, lift
weights... Have I tried doing physical exercise? I pretend to listen, knowing
that all of this is just a palliative, that the illness will return after a few
days, weeks, months. Hasn't it always been like this? I listen, politely, aware
that melancholy awaits me hidden behind a phrase that was said to me without
the intention of hurting, but that hurts, a relationship that was cursed from
the start, someone ignoring me at a moment that it was important for me to be
heard.
And so we go on, she and I, moving
through the world arm in arm, excluding everything and everyone in our crazy
moments of love. I know her so well, but I'm embarrassed when I want to talk
about her. How to describe this part of me that no one wants to see?
AMANTE
DESVAIRADA
Meus dedos, minhas mãos, às vezes falam. Escrevem
histórias melancólicas, que nem sempre posso explicar. Falam de sofrimentos, de
lutas. Pedem socorro, gritam. Exprimem medo, angústia. Tentam descrever cheiros
e viagens inexplicáveis para lugares que nem ouso mencionar. Lugares sombrios,
onde o dia se esconde atrás da eterna noite, onde soluços tentam escapar antes
que sejam reprimidos, com medo do que os outros poderiam pensar.
Ah, os outros. Às vezes suspiro querendo ter
nascido leve como a brisa, capaz de enxergar apenas o supérfluo e rir, rir o
tempo todo desta vida desvairada. Porém,
nasci cabisbaixa, introspectiva, num mundo onde a tristeza é coisa de gente incompetente,
incapaz de lidar com suas próprias emoções.
Minha alma chora. Me desculpem por ser
inconveniente, por falar o que vocês não querem ouvir. Sei muito bem que achariam
melhor se eu fizesse de conta que o que sinto não existe e jamais existiu. Que
eu nunca existi?
Minha alma chora, imersa numa depressão
profunda, sabendo que só os deprimidos como eu entenderiam essa tristeza sem
fim, sem explicação, sem hora para chegar ou para partir. Acordo pensando: será
que ela virá me visitar hoje? Se vier, quantos dias ficará? E rezo, rezo
ardentemente para me livrar dela, sem querer admitir que ela é parte de mim,
que cortar esse pedaço de mim mesma seria como me mutilar. Assim mesmo rezo, rezo
ardentemente. E limpo a casa, cozinho, ando sem rumo ou leio livros
inconsequentes. Rezo, esbravejo, bato portas, me calo, durmo. Tudo numa
tentativa inútil de escapar esse meu eu que abomino, que me assusta, que me faz
pensar em morte, mesmo sabendo que a depressão me quer viva para continuar neste
tormento.
Os outros? Ah, os outros... Esses me
aconselhariam a procurar alguma coisa para me distrair, para parar de pensar
nos erros que cometi ou foram cometidos contra mim no passado. Na certa me
diriam para sair dançando e rodopiando pelo mundo, bebendo e cantando, grata
por todos os meus privilégios. Não entendem que a depressão é uma sombra
ameaçadora, uma doença e, como toda doença, egoísta e ciumenta. Me quer só para
ela. Consome os meus dias e noites. Quando ela chega de mansinho, ou
bruscamente, penso só nela, enquanto ela me abraça como uma amiga íntima que me
conhece há muito tempo. Espera quietinha pelos meus momentos de fraqueza, os
pensamentos que invariavelmente me levarão a ela. Conhece meus segredos mais a
fundo do que qualquer amante.
Quando ela me visita, o mundo exterior para de
existir. O dia de sol perde seu brilho, a comida perde seu gosto, os entes
queridos tornam-se inconvenientes. Como posso prestar atenção ao que se passa
ao meu redor quando estou em perfeita simbiose com essa amante alucinada e
sedutora que me agarra, me possui, me fecha os olhos e grita, numa voz mais
poderosa do que o vento, que estaremos juntas para sempre, que ela jamais me
abandonará?
As pessoas bem intencionadas me aconselham
remédios, tratamentos inovadores, truques caseiros, que eu acalme meu coração e
medite. Já tentei pensar em coisas positivas? Correr, nadar, levantar peso...
Já experimentei fazer exercícios físicos? Eu finjo ouvir, sabendo que tudo isso é apenas
um paliativo, que a doença voltará depois de uns dias, umas semanas, uns meses.
Não foi sempre assim? Ouço, educadamente, consciente de que a melancolia me
espera escondida atrás de uma frase que me dizem sem intenção de magoar, mas
que magoa, um relacionamento que já começou amaldiçoado, um ignorar de alguém
que, para mim, naquele momento, tinha muita importância.
E assim continuamos, eu e ela, seguindo pelo
mundo de braços dados, excluindo tudo e todos nos nossos momentos loucos de
amor. Conheço-a tão bem, mas me envergonho quando quero falar dela. Como
descrever essa parte de mim que ninguém quer ver?