Tem uma
história do Chico Xavier em que ele estava num avião com muita turbulência e
começou a gritar com medo do avião cair e ele morrer. Gritava e pedia ajuda
divina. Até que Emmanuel, o espírito que o acompanhava sempre, apareceu e lhe
disse, “Chico, se é para morrer, pelo menos morra com dignidade.” Minha mãe recebeu esse presente divino.
Morreu com dignidade. Assim como viveu, saiu deste mundo com elegância, pronta para
ir visitar uma amiga. Morreu com planos, com sonhos. No mês de dezembro viria
para os EUA me ver. Hoje, meu marido comentou comigo. “Puxa, que pena que ela
não vem mais nos visitar. Eu queria poder retribuir a acolhida tão calorosa que
ela me deu, na minha única ida ao Brasil”.
E a quantas
pessoas ela acolheu... Sua casa estava sempre de portas abertas para os amigos,
amigos dos amigos, parentes e até perfeitos estranhos. Quantos netos, bisnetos,
sobrinhos, filhos, primos, foram lá passar as férias, sempre sabendo, sem a menor
dúvida, que seriam recebidos muito bem na casa de Dona Anna Maria.
Um dia
minha irmã comentou que, quando minha mãe morresse, seu enterro teria muita
gente porque ela era amiga de quase toda a cidade. Ela era assim, discreta mas
popular, chic mas simples. Sua generosidade não tinha tamanho. Com ela,
aprendemos a arte da caridade. Desde pequenas a víamos dando um pão para um
mendigo, costurando para os pobres, doando tudo que não precisava mais.
Foi uma mãe
severa, exigindo muito dos filhos. Mas o que exigia, era que fizéssemos o
melhor possível. Que tivéssemos ambição, que fôssemos viajar, que não nos
conformássemos em viver num mundo pequeno, quando havia tanto para se ver por
aí afora. Ela nos passou o amor pelas viagens, pela cultura, pela música. Será
impossível ouvir uma ópera sem lembrar dela. Ensinou piano para as filhas,
netas e bisnetas. Ensinou muito sobre a vida para os netos que praticamente
criou.
Hoje ela se
foi e, pra gente, fica o vazio. Sabemos que logo a veremos novamente e estamos
felizes pela maneira pela qual ela partiu. Mas a saudade dói e a tristeza nos
assalta nos momentos que menos esperamos. De manhã, ela havia me dito que temos sempre
de nos concentrar nas coisas boas. Eu não imaginava que essa seria sua última
lição.
Até breve
mamãe querida. Descanse em paz.
SEE YOU SOON MOM
There is a story about Chico Xavier on a plane with a lot of
turbulence. He was scared that the plane was going to crash and started screaming
and begging God for help. Then, Emmanuel, the spirit who always accompanied him,
appeared and told him, "Chico, if you are going to die, at least die with
dignity." My mother received this divine gift. She died with dignity. She
left this world with elegance, like she lived, being ready to go visit a
friend. She died with plans and dreams. In December she was coming to the US to
see me. Today, my husband said to me. "What a pity that she won’t come to
visit us. I wish I could return the warm welcome she gave me in my single visit
to Brazil. "
And how many people she welcomed ... Her house was always
open to friends, friends of friends, relatives and even perfect strangers. How
many grandchildren, great-grandchildren, nephews, daughters, cousins, were
there to spend the holidays, always knowing, without a single doubt, that they would
be received very well in Dona Anna Maria’s house.
One day my sister said that when my mother died, her funeral
would be attended by many people because she was friends with most of the city.
She was quiet but popular, chic but simple. Her generosity was enormous. With her,
we learned the art of charity. Since we were young we would see her giving
bread to beggars, sewing for the poor, donating all that she no longer needed.
She was a severe mother, demanding a lot from her children.
But what she demanded above all was that we did our best. She wanted us to have
ambition. She wanted us to go traveling; she didn’t want us to accept to live
in a small world, when there was so much to see somewhere else. She gave us her
love for travel, culture, music. It will be impossible to hear an opera without
remembering her. She taught piano to her daughters, granddaughters and
great-granddaughters. She taught a lot about life for the grandsons whom she practically
raised.
Today she is gone and, for us, there is this big void. We
know that soon we will see her again and we are happy for the way she left. But
the longing hurts and sadness comes to us in the moments we least expect. In
the morning, she had told me that we must always focus on the good things. I
did not know that this would be her last lesson.
See you soon my darling mother. Rest in peace.