Two months ago, I went to a Hopi village in
Northeast Arizona to watch a ceremonial dance, and I was told that no pictures
were allowed. For someone like me, used to photograph everything everywhere I
go, that sounded like a very difficult rule to follow. However, I soon realized
that I could see ten times more without my camera than with it. By leaving the
camera behind me, I had been forced to open the eyes of my soul.
In the village’s small square, the Hopis had placed
plastic chairs around a circle and were sitting there, waiting for the dance to
start. Others were sitting on the roofs of the houses, also waiting patiently. Short
women dressed in colorful clothes, with shawls wrapped around their waist,
teenagers in skirts, their long hair loose and shining over their shoulders,
older men in brown pants and shirts, children in bright dresses or jeans –
everybody seemed to have taken good care of their appearance before joining the
crowds for the celebration.
Suddenly, about seventy male Hopis took their
position inside the square. All had yellow flowers on their head, with red and
yellow feathers. Their chests were naked and painted with different colors.
They had skirts and wore moccasins on their feet. Before starting the dance,
some of them went to the spectators with baskets, and distributed fruits,
vegetables, cakes, and small bags with popcorn or cookies. Everybody got
something and then the dancers went back to the circle so the dance could
start.
A Hopi in the middle of the square shouted some
command and the others banged their feet on the ground, shaking their rattles
and moving around in a circle. The dance went on for some time, following a
steady drumbeat that was monotonous and yet powerful. Then, everybody stopped.
Nobody clapped. The dancers got their baskets and went to the audience again,
giving out more food.
I was in awe
watching the simplicity of the dance, the offerings being bestowed on the
public, the lack of any “star” in the show, where everyone seemed to be as
important as the next person. Above all, I was amazed by the capacity of the
concentration of the audience: the
children didn’t talk or run around; nobody was checking emails, making comments
or drinking anything. The dancers and the audience were in harmony, enjoying
and honoring that moment.
If I had my camera with me, I probably would be more
concerned with finding the right angle to take a picture than admiring the
dancers’ costumes, observing the people, listening to the few conversations
during the intervals, or trying to understand the meaning of the dances. I
would be more focused on sharing the moment with others than enjoying the
moment myself. In other words, I would be there, but thinking about how others
would react to my perception of the experience.
Sometimes we are so determined to record a scene or
an idea for posterity that we don’t observe the whole picture and don’t enjoy
it as much as we could. After smartphones became so popular, nowadays everybody
takes pictures of everything. Our eyes jump from one sight to the next, without
concentrating on any particular spot. We want to make sure that we don’t miss
anything. In the end, we lose touch with our emotions because we are not
feeling the moment, just watching it.
I am not saying that I will stop taking my camera
with me when I travel. But not having it for a change was really an amazing
experience. With the eyes of my soul, I could experience the village and its
inhabitants, the smells in the air, the rhythm of the music, the timid smiles
of the children, the generous act of sharing a harvest, the simplicity of the
houses, the respect with which the elders were treated… I could see so much more.
É PROIBIDO FOTOGRAFAR
Há dois meses,
fui a uma aldeia dos índios Hopi no Nordeste do Arizona para assistir a uma
dança cerimonial, e me disseram que era proibido tirar fotos. Para alguém como
eu, acostumada a fotografar tudo em todos os lugares onde vou, aquela regra
pareceu um martírio. No entanto, logo percebi que eu podia ver dez vezes mais
sem minha máquina fotográfica do que com ela. Ao deixar a máquina de lado, fui
forçada a abrir os olhos da minha alma.
Na pequena praça
da aldeia, os Hopis colocaram cadeiras de plástico em torno de um círculo e sentaram-se,
esperando a dança começar. Outros se instalaram sobre os telhados das casas,
também esperando pacientemente. As mulheres, bem baixas, vestiam roupas
coloridas, com xales enrolados em torno da cintura; as adolescentes usavam
saias, seus longos cabelos soltos e brilhando sobre os ombros; os homens mais
velhos tinham calças e camisas marrons; as crianças estavam com vestidos coloridos
ou calças jeans - todo mundo parecia ter tomado um cuidado especial com a aparência antes de se juntar à multidão para a
celebração.
De repente,
cerca de setenta índios Hopis se posicionaram no meio da praça. Todos tinham
flores amarelas sobre a cabeça, com penas vermelhas e amarelas. Seus peitos
estavam nus e eram pintados com cores diferentes. Eles usavam saias e calçavam
mocassins. Antes de iniciar a dança, alguns deles foram até os espectadores,
carregando cestos, e distribuíram frutas, legumes, bolos e pequenos sacos com pipoca
ou biscoitos. Todo mundo ganhou alguma coisa. Em seguida, os dançarinos
voltaram para o círculo para que a dança pudesse começar.
No meio da praça,
um índio Hopi gritou um comando e os outros começaram a bater os pés no chão, sacudindo
seus chocalhos e movendo-se em círculo. A dança continuou por algum tempo, sempre
seguindo uma batida constante, monótona mas poderosa. Então, todo mundo parou.
Ninguém aplaudiu. Os dançarinos pegaram suas cestas e foram para onde os
espectadores se sentavam, mais uma vez oferecendo-lhes comida.
Eu fiquei maravilhada vendo a simplicidade da
dança, as comidas que eram oferecidas ao público, a falta de uma
"estrela" no show, onde cada um parecia ser tão importante quanto a
próxima pessoa. Acima de tudo, fiquei surpresa com a capacidade de concentração
do público: as crianças não falavam nem corriam ao redor, ninguém checava seus
e-mails, fazia comentários ou bebia alguma coisa. Os dançarinos e o público
estavam em harmonia, aproveitando e honrando aquele momento.
Se eu estivesse
com a minha máquina fotográfica, provavelmente estaria mais preocupada em achar
o ângulo certo para tirar uma foto do que em admirar as fantasias dos
dançarinos, observar o público, ouvir as poucas conversas durante os
intervalos, ou tentar entender o significado das danças. Estaria mais interessada
em compartilhar o momento com os outros, no futuro, do que em aproveitar o
momento eu mesma. Em outras palavras, eu estaria lá, mas pensando em como os
outros iriam reagir à minha percepção da experiência.
Às vezes ficamos
tão decididos a gravar uma cena ou uma ideia para a posteridade, que não
observamos o quadro inteiro e não o apreciamos tanto quanto poderíamos ter
feito. Depois que os smartphones se tornaram populares, hoje em dia todo
mundo tira fotos de tudo. Nossos olhos saltam de uma paisagem para a outra, sem
se concentrar em nenhum ponto em particular. Queremos ter certeza de que não
perdemos nada. No final, perdemos o contato com nossas emoções porque não
estamos sentindo o momento, apenas assistindo-o.
Não estou
dizendo que vou parar de levar minha máquina fotográfica comigo quando viajo.
Mas não tê-la, para variar, foi realmente uma experiência incrível. Com os
olhos da minha alma, pude vivenciar a aldeia e seus habitantes, os cheiros do
ar, o ritmo da música, os sorrisos tímidos das crianças, o ato generoso da
partilha de uma colheita, a simplicidade das casas, o respeito com que os
idosos eram tratados ... Eu vi muito, mas muito mais.