Thursday, August 1, 2013

No Pictures Allowed (É proibido fotografar)




Two months ago, I went to a Hopi village in Northeast Arizona to watch a ceremonial dance, and I was told that no pictures were allowed. For someone like me, used to photograph everything everywhere I go, that sounded like a very difficult rule to follow. However, I soon realized that I could see ten times more without my camera than with it. By leaving the camera behind me, I had been forced to open the eyes of my soul.
In the village’s small square, the Hopis had placed plastic chairs around a circle and were sitting there, waiting for the dance to start. Others were sitting on the roofs of the houses, also waiting patiently. Short women dressed in colorful clothes, with shawls wrapped around their waist, teenagers in skirts, their long hair loose and shining over their shoulders, older men in brown pants and shirts, children in bright dresses or jeans – everybody seemed to have taken good care of their appearance before joining the crowds for the celebration.
Suddenly, about seventy male Hopis took their position inside the square. All had yellow flowers on their head, with red and yellow feathers. Their chests were naked and painted with different colors. They had skirts and wore moccasins on their feet. Before starting the dance, some of them went to the spectators with baskets, and distributed fruits, vegetables, cakes, and small bags with popcorn or cookies. Everybody got something and then the dancers went back to the circle so the dance could start.
A Hopi in the middle of the square shouted some command and the others banged their feet on the ground, shaking their rattles and moving around in a circle. The dance went on for some time, following a steady drumbeat that was monotonous and yet powerful. Then, everybody stopped. Nobody clapped. The dancers got their baskets and went to the audience again, giving out more food.
 I was in awe watching the simplicity of the dance, the offerings being bestowed on the public, the lack of any “star” in the show, where everyone seemed to be as important as the next person. Above all, I was amazed by the capacity of the concentration of the audience:  the children didn’t talk or run around; nobody was checking emails, making comments or drinking anything. The dancers and the audience were in harmony, enjoying and honoring that moment.
If I had my camera with me, I probably would be more concerned with finding the right angle to take a picture than admiring the dancers’ costumes, observing the people, listening to the few conversations during the intervals, or trying to understand the meaning of the dances. I would be more focused on sharing the moment with others than enjoying the moment myself. In other words, I would be there, but thinking about how others would react to my perception of the experience.
Sometimes we are so determined to record a scene or an idea for posterity that we don’t observe the whole picture and don’t enjoy it as much as we could. After smartphones became so popular, nowadays everybody takes pictures of everything. Our eyes jump from one sight to the next, without concentrating on any particular spot. We want to make sure that we don’t miss anything. In the end, we lose touch with our emotions because we are not feeling the moment, just watching it.
I am not saying that I will stop taking my camera with me when I travel. But not having it for a change was really an amazing experience. With the eyes of my soul, I could experience the village and its inhabitants, the smells in the air, the rhythm of the music, the timid smiles of the children, the generous act of sharing a harvest, the simplicity of the houses, the respect with which the elders were treated… I could see so much more.

É PROIBIDO FOTOGRAFAR

Há dois meses, fui a uma aldeia dos índios Hopi no Nordeste do Arizona para assistir a uma dança cerimonial, e me disseram que era proibido tirar fotos. Para alguém como eu, acostumada a fotografar tudo em todos os lugares onde vou, aquela regra pareceu um martírio. No entanto, logo percebi que eu podia ver dez vezes mais sem minha máquina fotográfica do que com ela. Ao deixar a máquina de lado, fui forçada a abrir os olhos da minha alma.
Na pequena praça da aldeia, os Hopis colocaram cadeiras de plástico em torno de um círculo e sentaram-se, esperando a dança começar. Outros se instalaram sobre os telhados das casas, também esperando pacientemente. As mulheres, bem baixas, vestiam roupas coloridas, com xales enrolados em torno da cintura; as adolescentes usavam saias, seus longos cabelos soltos e brilhando sobre os ombros; os homens mais velhos tinham calças e camisas marrons; as crianças estavam com vestidos coloridos ou calças jeans - todo mundo parecia ter tomado um cuidado especial com a  aparência antes de se juntar à multidão para a celebração.
De repente, cerca de setenta índios Hopis se posicionaram no meio da praça. Todos tinham flores amarelas sobre a cabeça, com penas vermelhas e amarelas. Seus peitos estavam nus e eram pintados com cores diferentes. Eles usavam saias e calçavam mocassins. Antes de iniciar a dança, alguns deles foram até os espectadores, carregando cestos, e distribuíram frutas, legumes, bolos e pequenos sacos com pipoca ou biscoitos. Todo mundo ganhou alguma coisa. Em seguida, os dançarinos voltaram para o círculo para que a dança pudesse começar.
No meio da praça, um índio Hopi gritou um comando e os outros começaram a bater os pés no chão, sacudindo seus chocalhos e movendo-se em círculo. A dança continuou por algum tempo, sempre seguindo uma batida constante, monótona mas poderosa. Então, todo mundo parou. Ninguém aplaudiu. Os dançarinos pegaram suas cestas e foram para onde os espectadores se sentavam, mais uma vez oferecendo-lhes comida.
 Eu fiquei maravilhada vendo a simplicidade da dança, as comidas que eram oferecidas ao público, a falta de uma "estrela" no show, onde cada um parecia ser tão importante quanto a próxima pessoa. Acima de tudo, fiquei surpresa com a capacidade de concentração do público: as crianças não falavam nem corriam ao redor, ninguém checava seus e-mails, fazia comentários ou bebia alguma coisa. Os dançarinos e o público estavam em harmonia, aproveitando e honrando aquele momento.
Se eu estivesse com a minha máquina fotográfica, provavelmente estaria mais preocupada em achar o ângulo certo para tirar uma foto do que em admirar as fantasias dos dançarinos, observar o público, ouvir as poucas conversas durante os intervalos, ou tentar entender o significado das danças. Estaria mais interessada em compartilhar o momento com os outros, no futuro, do que em aproveitar o momento eu mesma. Em outras palavras, eu estaria lá, mas pensando em como os outros iriam reagir à minha percepção da experiência.
Às vezes ficamos tão decididos a gravar uma cena ou uma ideia para a posteridade, que não observamos o quadro inteiro e não o apreciamos tanto quanto poderíamos ter feito. Depois que os smartphones se tornaram populares, hoje em dia todo mundo tira fotos de tudo. Nossos olhos saltam de uma paisagem para a outra, sem se concentrar em nenhum ponto em particular. Queremos ter certeza de que não perdemos nada. No final, perdemos o contato com nossas emoções porque não estamos sentindo o momento, apenas assistindo-o.
Não estou dizendo que vou parar de levar minha máquina fotográfica comigo quando viajo. Mas não tê-la, para variar, foi realmente uma experiência incrível. Com os olhos da minha alma, pude vivenciar a aldeia e seus habitantes, os cheiros do ar, o ritmo da música, os sorrisos tímidos das crianças, o ato generoso da partilha de uma colheita, a simplicidade das casas, o respeito com que os idosos eram tratados ... Eu vi muito, mas muito mais.