Monday, February 20, 2012

In the rhythm of Brazil (No ritmo do Brasil)

Photo: Bernadete Piassa

Since I arrived in my hometown, in Brazil, I have been trying, unsuccessfully, to accomplish a few tasks. However, things that normally would take me a few hours to do in the US, in Brazil take such a long time, that I am wondering  if they will be done in the 5 weeks that I will spend here. The day before yesterday, I woke up with three not very ambitious goals: to open a bank account, to buy a scale, and to renew my Brazilian driver license. Two days later, only one of these tasks is completed. What happened?  How could everything turn out to be so complicated?
I didn’t arrive here thinking about buying a scale. But although the women in Brazil dress fantastically well in very tight clothes, talk a lot about exercise, and love to discuss diets, the truth is that all activities are interrupted, from time to time, for coffee with some small and delicious cakes. How the women manage to always be in such a good shape is a mystery for me. But I soon found out that I needed a scale to keep track of all the damage that these coffee breaks were doing to my body…
The day before yesterday, I woke up ready to go out and deal with my business. My sister suggested that I give the information concerning my driver license to a friend of hers, who specializes in expediting processes related to documents. My mother got out her phone book and started calling some stores trying to find one that sold scales. The second call to a store reached a friend of hers with whom she had to spend some time talking about a funeral. A few calls later, she had discussed many subjects with people whom she knew and who she didn’t, and I wasn’t any closer to get the information I needed about the scale. Impatient, I decided to walk around town looking for it, but when I was on my way out, an old friend from my childhood stopped by to chat.
When I managed to leave, it was almost lunchtime but I did find a store that sold scales. Actually, the sales person informed me that they had it, but it was in another store and she would order it for me. In the afternoon, she would call me and I could go and get it.
Since I didn’t want to waste my time, I continued to the bank to open an account. Three hours later, I had completed my first task: the ladies working in the bank had compared their nails, talked about dresses, complained about the heat, asked me about my life in the US, discussed the Carnival, but finally opened a bank account for me.
I went to my mother’s house and waited for the phone call from the store regarding the scale. Later on the day, the sales person called and said that the scale would be available only the next day. The next day, she called again and said that there was a robbery in the warehouse so I would need to wait one additional day for the scale. Meanwhile, the friend of my sister who was supposed to see about my driver license stopped me on the street and asked me for my date of birth. Apparently, he had done nothing so far about the license…
The following day, I woke up and got ready to go to the store and find out what was going on with the scale. When I was almost leaving, a lady stopped by to deliver me some Brazilian reais, which I had exchanged by dollars, and since she was the daughter of a friend of my mother, she decided to stay and talk for awhile. Time passed and only after lunch I was able to go to the store, where the sales person mentioned that the scale was still in the warehouse and that I could pay and go get it.  My sister and I drove to the warehouse, in the next town. When we got there, we were informed that the scale had been stolen…
I did try to get another scale, in another town in the border with Bolivia, in the Bolivian side. Did I have more luck? The store that usually closes at 4pm, had closed at 3pm that day. “Why did they close earlier?” I asked a Brazilian woman, who owns a store in Bolivia. “These Bolivians are crazy,” she told me. “And how about the Brazilians, who sold me a scale which was already stolen and sent me to another town to get it? Aren’t they nuts?” I felt like asking. But I didn’t say anything. Tomorrow, first thing in the morning, I need to reach the guy who is seeing about my driver license. Unless someone stops by to deliver or sell something and decides to stay hours just chatting…

NO RITMO DO BRASIL

Desde que cheguei à minha cidade natal, no Brasil, estou tentando, sem muito sucesso, resolver alguns negócios. Mas coisas que normalmente demorariam apenas algumas horas para serem feitas, nos EUA, no Brasil demoram tanto, que já começo a me perguntar se vou conseguir resolvê-las nas cinco semanas em que estarei aqui. Anteontem, acordei com três objetivos, não muito ambiciosos: abrir uma conta bancária, comprar uma balança, e renovar minha carteira de motorista. Dois dias depois, só uma dessas  metas foi cumprida. O que aconteceu? Por que tudo se complicou tanto?
Não cheguei aqui pensando em comprar uma balança. Mas apesar de as brasileiras se vestirem fantasticamente bem, em roupas muito justas, discutirem muito sobre academias de ginástica, e adorarem conversar sobre dietas, a verdade é que todas as atividades são interrompidas, de tempos em tempos, para se tomar café com algum docinho ou salgadinho delicioso. Como as mulheres conseguem ficar sempre em forma é um mistério para mim. Logo descobri que precisava de uma balança para medir o estrago que essas paradas para um “lanchinho” estavam causando no meu corpo.   
Anteontem acordei decidida a tratar dos meus negócios. Minha irmã sugeriu que eu passasse as informações sobre a carteira de motorista para um despachante conhecido dela. Minha mãe pegou a lista telefônica e começou a ligar para algumas lojas, para ver se vendiam balanças. No segundo telefonema, a pessoa que atendeu era amiga dela e ela teve que passar algum tempo falando sobre um funeral recente. Alguns telefonemas mais tarde, ela tinha batido longos papos a respeito dos assuntos mais variados com pessoas que conhecia e mesmo outras, que não conhecia, e eu estava longe de saber onde comprar uma balança. Impaciente, resolvi sair pela cidade procurando algum lugar que vendesse balanças. Mas, quando estava de saída, uma amiga de infância deu uma passadinha para conversar…
Já era quase hora do almoço quando consegui  sair e acabei achando uma loja que vendia balanças. Na verdade, a vendedora me disse que eles tinham, mas não tinham o que eu queria. A balança estava numa outra loja e ela precisava pegá-la. Ficou de me ligar de tarde, quando a balança já estivesse lá.
Como eu não queria perder tempo, fui ao banco abrir a conta. Três horas mais tarde, minha primeira tarefa estava cumprida: as funcionárias do banco tinham comparado a aparência das suas unhas, conversado sobre roupas, reclamado do calor, me perguntado sobre minha vida nos Estados Unidos, falado sobre o carnaval, mas finalmente haviam aberto uma conta bancária para mim.
Fui para a casa da minha mãe  aguardar o telefonema da moça da loja a respeito da balança. Mais tarde, a vendedora me ligou e avisou que a mercadoria estaria disponível apenas no outro dia. No dia seguinte, ela ligou de novo e disse que o depósito havia sido assaltado e que eu teria de esperar mais um dia para receber a balança. Enquanto isso, o conhecido da minha irmã que era para estar resolvendo o negócio com a carteira de motorista, me parou na rua e me perguntou minha data de nascimento. Aparentemente, ele não tinha feito nada ainda para resolver meu problema…
No dia seguinte, acordei pronta para ir até a loja ver o que acontecia com a balança. Quando estava de saída, uma moça chegou para entregar uns reais, que eu tinha trocado por dólares, e como ela era filha de um amigo de minha mãe, decidiu entrar e conversar um pouco. As horas passaram e só depois do almoço pude ir à loja, onde a vendedora me disse que a balança ainda estava no depósito e eu poderia pagar por ela e ir buscá-la. Fui com minha irmã até o depósito, numa  cidade próxima. Mas, quando chegamos lá, fomos informadas de que a balança havia sido roubada…
Tentei comprar outra balança, na cidade na fronteira com a Bolívia, no lado boliviano. Você acha que tive mais sorte? A loja, que normalmente fecha às 4 da tarde, tinha fechado às 3 horas. “Por que eles fecharam mais cedo?” Perguntei para uma senhora brasileira que tem uma loja na Bolívia. “Esses bolivianos são malucos”, ela me disse. “E esses brasileiros, que me vendem  uma balança que já foi roubada e me mandam para uma outra cidade para pegá-la? Eles não são doidos?” Fiquei com vontade de perguntar. Mas não disse nada. Amanhã de manhã, preciso achar o cara que está lidando com minha carteira de motorista.  A menos que alguém pare para entregar ou vender alguma coisa e decida ficar horas conversando...

Tuesday, February 7, 2012

Past and present (Passado e presente)


I was looking at some Brazilian banknotes and once more pondering that I had no idea of what they were really worth. What could a R$50 buy? How much it would cost me to get a cappuccino in Brazil? When I am getting ready to fly to Brazil, as I am now, I have to adjust myself to a new reality: start thinking in Brazilian terms, consider the Brazilian money, prepare myself for warm weather, dress the way Brazilian women dress. It is interesting how leaving in another country changes a person. I have been in the US for almost half of my life. Sometimes I feel extremely American. Sometimes I am convinced that I won’t ever stop being Brazilian. Most of the time, I feel just confused by these two very different nationalities.

I get ready to leave to the airport in my house in a tranquil town about one hour from Philadelphia where there practically aren’t any sounds in the street. I could count on my fingers how many cars pass by in an hour. There are no sounds coming from outside. If I look out of my window, the street is empty. The only sound in this house is of my keyboard while I type on the computer, and of the heat that sometimes starts, since today it is cold. In Brazil, once I reach my hometown, which is my final destination, I will be greeted by many sounds on the streets. There will be dogs barking, maybe even the clip-clop of a horse passing by, motorcycle-taxis making a lot of noise, cars honking, people walking on the sidewalks and talking. Here, days pass by without anyone ringing the doorbell. Over there, there will be a next door’s maid bringing a dessert, a man selling lemons, someone offering to fix something, and so on. The bell will ring many times.
What makes two countries so different? On Friday, when I was saying goodbye to a Brazilian friend who also lives here, she asked me to bring her some energy from Brazil. It is true that when I go back to my home country I feel more energized. I can’t explain if it is the sun or the laughter of the people around me. It has a huge impact on me. But I certainly enjoy it.
It is almost time to go. I am happy but nervous. I think about my children and my husband who will be staying here and how much I am going to miss them. It seems that my family is growing in this part of the world and that I am sinking my roots here deeper and deeper. Brazil, the country of my past, attracts me inexorably. The US, my present, represents new beginnings and opportunities. Why doesn’t life ever present us with easy choices?

PASSADO E PRESENTE

Eu estava examinando algumas notas de dinheiro brasileiro e mais uma vez constatando que não tinha ideia do que elas realmente valiam. O que eu poderia comprar com R$ 50? Quanto custaria um cappuccino no Brasil? Quando estou me preparando para voltar ao Brasil, como agora, tenho que me ajustar a uma nova realidade: começar a pensar como brasileira, tentar entender o valor do dinheiro brasileiro, me preparar para o clima quente, vestir da maneira como as brasileiras vestem. É interessante como mudar de país muda uma pessoa. Estou aqui nos EUA quase que metade da minha vida. Às vezes me sinto extremamente americana. Às vezes me convenço de que nunca vou deixar de ser brasileira. Na maioria das vezes, sinto-me confusa com essas duas nacionalidades tão diferentes.

      Estou me aprontando para ir ao aeroporto na minha casa, numa cidadezinha tranquila, cerca de uma hora da Filadélfia, onde não há praticamente nenhum som na rua. Poderia contar nos dedos quantos carros passam em uma hora. Não há nenhum barulho externo. Se eu olhar para fora da minha janela, a rua está vazia. O único barulho na casa é do meu teclado enquanto digito no computador, e do aquecedor que às vezes liga, já que hoje está frio. No Brasil, quando chegar na minha cidade natal, para onde estou indo, ouvirei muitos sons nas ruas. Haverá cães latindo, quem sabe um cavalo passando, moto-táxis fazendo muito barulho, carros buzinando, pessoas caminhando nas calçadas e conversando. Aqui, os dias passam sem que ninguém toque a campainha da minha casa. Lá, uma empregada aparecerá trazendo um doce mandado pela vizinha, um homem estará vendendo limões, alguém vai se oferecer para  consertar alguma coisa, e assim por diante. A campainha tocará muitas vezes.
      O que faz dois países serem tão diferentes? Na sexta-feira, quando eu me despedia de uma amiga brasileira que também mora aqui, ela me pediu para lhe trazer um pouco da energia do Brasil. É verdade que quando volto ao meu país me sinto mais cheia de vida. Não sei se é o sol, a alegria das pessoas ao meu redor, o que causa um impacto tão grande em mim. Mas com certeza gosto muito disso.
      Está quase na hora de ir. Estou feliz, mas nervosa. Penso nos meus filhos e meu marido que ficarão aqui e em quanto vou sentir falta deles. Parece que minha família está crescendo neste lado do mundo e que estou fincando minhas raízes aqui cada vez mais. Brasil, o país do meu passado, me atrai inexoravelmente. Os EUA, meu presente, representam novos começos e oportunidades. Por que a vida nunca nos oferece escolhas fáceis?