Friday, September 25, 2009
Simple Pleasures (Prazeres simples)
Last week the lottery prize was very high so my girlfriend and I decided to buy a ticket. After we got it, we talked about what we would do if we won the lottery. My friend would like to help people who live in poverty while I would use the money to help my family and relatives. I also would spend a few days in a spa not worrying about anything in the world, just letting people take care of me. I would like to travel a lot...
Ours likes and dislikes define who we are. One person might buy a fancy sports car with the lottery money, while other (like me) would not buy that car for anything in the world. In our heart, we know who we are and what pleases us. But many times we spend our lives denying our needs because we are intent on pleasing others and afraid to show who we really are.
The Swiss psychiatrist Carl Jung, founder of the analytical psychology, said: “Who looks outside, dreams; who looks inside, awakes.” How many of us look in our heart for guidance, instead of asking others for suggestion? If someone points us in a direction, usually we don’t hesitate to follow it. But if our intuition tells us to do something, we are immediately filled with doubts and start having second thoughts. Why is it so difficult to accept that we, and not anyone else, are the person most capable of making decisions?
Many people love cruises. I always knew that I would hate them but, since everybody else seemed to think that cruises were so much fun, I went on a cruise to Jamaica and Grand Cayman. I hated it. To spend one week surrounded by strangers in a confined space, especially when these strangers seem to spend their entire time only eating, wasn’t my idea of fun. But there I was, just following other people's dreams instead of mine.
I came to realize that what brings me happiness is not necessarily what brings happiness to someone else. I am not happy at a party, surrounded by people. I am not happy buying compulsively at a mall. I am happy by myself, reading, on my bed. I am happy talking with my family in Brazil. I am happy walking in the woods, trying to spot deer, foxes or any other animal. I am happy bike riding with my friend. What brings me happiness is not what is for sale, but what gives me peace of mind. It took me awhile to find this out. I guess I am just a late bloomer…
PRAZERES SIMPLES
Na semana passada, o prêmio da loteria estava bem alto então eu e minha amiga decidimos comprar um bilhete. Depois, ficamos conversando sobre o que faríamos se ganhássemos. Minha amiga gostaria de ajudar as pessoas pobres, enquanto eu gostaria de usar o dinheiro para ajudar minha família. Eu também gostaria de passar alguns dias numa spa, sem me preocupar com qualquer coisa no mundo, deixando as pessoas tomarem conta de mim. Gostaria de viajar muito...
O que gostamos e o que não gostamos define a nossa personalidade. Uma pessoa pode ficar feliz comprando um carro esporte bem bacana com o dinheiro da loteria, enquanto outra (como eu) não compraria esse carro por nada no mundo. No nosso íntimo, sabemos quem somos e o que nos agrada. Mas muitas vezes passamos a vida negando as nossas necessidades, tentando agradar os outros e com medo de mostrar quem somos de verdade.
O psiquiatra suíço Carl Jung, fundador da psicologia analítica, disse: "Quem olha para fora, sonha, quem olha para dentro, desperta." Quantos de nós olhamos dentro de nós mesmos em busca de orientação, em vez de pedir sugestões aos outros? Se alguém nos diz para seguir um determinado caminho, normalmente não hesitamos em segui-lo. Mas se a nossa intuição nos diz para fazer uma coisa, ficamos imediatamente cheias de dúvidas e nos perguntando se realmente devemos fazer aquilo. Por que é tão difícil aceitar que nós, e não qualquer outro, somos a pessoa mais capaz de tomar decisões por nós mesmos?
Muitas pessoas adoram cruzeiros. Eu sempre soube que iria odiá-los mas, como todo mundo dizia que cruzeiros eram tão divertidos, fui fazer um pela Jamaica e as Ilhas do Caimã. Detestei! Não achei a menor graça em passar uma semana cercada por desconhecidos num espaço pequeno, especialmente quando esses desconhecidos passavem o tempo todo comendo. Mas lá estava eu, apenas seguindo os sonhos de outras pessoas em vez dos meus.
Descobri que o que me traz felicidade não é necessariamente o que traz felicidade aos outros. Não me sinto feliz em festas, cercada por pessoas. Não fico feliz comprando coisas compulsivamente num shopping. Sou feliz quando estou sozinha, em casa, lendo na minha cama. Sou feliz quando falo com minha família no Brasil. Sou feliz andando pela floresta, tentando ver veados, raposas ou qualquer outro bicho. Sou feliz andando de bibicleta com meu amigo. O que me traz felicidade não é o que está à venda, mas o que me dá paz de espírito. Levei algum tempo para descobrir isso. Acho que sou uma dessas pessoas que demora pra perceber as coisas…
Friday, September 18, 2009
Emotions (Emoções)
Today is a beautiful day, sunny but cold. I got my shawl and I am wrapped in it while I write. The fall will be here in a few days. Another season will start. And the cycle of life will continue.
I have been writing a lot lately, but nothing ended up in this blog. The stories that pop into my mind are very emotional, sometimes very dark. Somehow, I have a difficult time writing happy endings. Two days ago I led a 10 year old girl to commit suicide in one of my stories. Before, I had written stories in which people were raped, stabbed with a knife, mugged, wished that their next-door neighbor experienced a very slow death, and so on. For me, the act of creating these dark characters is very therapeutic. While I write, I am letting go of any violent thought that is bothering me. I am in contact with my emotions and I express them. The problem, I think, is with people that keep these emotions hidden inside themselves and can’t express them. Suffocated, they end up committing violent acts in real life.
The other day, I was talking with my friend about craziness. She was pointing out that people who have a physical disease are aware of it while people who have mental disease usually deny that they are crazy. it is always the others who are insane, not ourselves. We can suffer (and it is politically correct to complain about it) of headaches, stomachaches, asthma, pancreatic disease or any other disease. But insanity? That is not something to be discussed.
Last week a bright student from Yale University was killed by someone who, apparently, worked in the same research building that she did. It was a mix of violence and craziness. Or maybe both are one and the same… Anyway, would this have happened if the killer had expressed his hate through some form of art? It is not very common to see painters, sculptors, writers or any other artists being accused of crimes. They have an outlet for their emotions.
The people who commit violent crimes are not the ones labeled “crazy” by the society like the artists who think or act in an original way, but the ones that seem in control of their emotions while hiding a turbulent soul. Art is liberating, the same way that dancing, singing, or going for a walk in the woods are also wonderful medicines for the soul. Humm… Maybe instead of being inside a room in a beautiful day like today, I should be outside, in communion with nature.
EMOÇÕES
Hoje está um dia lindo, ensolarado mas frio. Peguei um xale e estou enrolada nele enquanto escrevo. Os dias de outono estão se aproximando. Outra estação vai começar. E o ciclo de vida continuará.
Tenho escrito muito ultimamente, mas nada do que escrevi veio parar neste blog. As histórias que surgem na minha cabeça são muito emocionais, às vezes muito escuras. De alguma forma, tenho dificuldade de escrever coisas com finais felizes. Há dois dias, levei uma menina de 10 anos ao suicídio em uma das minhas histórias. Antes, tinha escrito histórias em que as pessoas apanhavam, eram esfaqueadas, assaltadas, desejavam que a vizinha tivesse uma morte bem lenta, e assim por diante. Para mim, o ato de criar esses personagens sombrios tem um efeito terapêutico. Enquanto escrevo, me livro de qualquer pensamento ruim que me incomoda. Entro em contato com minhas emoções e as expresso. O problema, acho, é com as pessoas que têm essas emoções escondidas no peito e não podem expressá-las. Sufocadas, acabam cometendo crimes violentos na vida real.
Outro dia, estava conversando com uma amiga sobre a loucura. Ela disse que as pessoas que sofrem de uma doença física têm consciência disso, enquanto as que têm alguma doença mental costumam negar que são loucas. Malucos são sempre os outros, nunca nós mesmos. Podemos sofrer (e é politicamente correto reclamar disso) de dores de cabeça, dores de estômago, asma, doenças do pâncreas ou qualquer outra. Mas loucura? Isso não é um assunto para ser discutido.
Na semana passada, uma aluna muito estudiosa da Universidade de Yale foi morta por um rapaz que, aparentemente, trabalhava com ela no mesmo laboratório de pesquisa. Um caso típico de violência e loucura. Ou talvez ambos sejam a mesma coisa ... De qualquer maneira, será que isso teria acontecido se o assassino tivesse manifestado seu ódio através de alguma forma de arte? Não é muito comum ver pintores, escultores, escritores ou qualquer outro tipo de artista acusados de crimes. Eles têm uma válvula de escape para as emoções.
As pessoas que cometem crimes violentos não são as rotuladas como "loucas" pela sociedade, como os artistas que pensam ou agem de uma forma original; mas aquelas que parecem em controle de suas emoções enquanto escondem uma alma tempestuosa. A arte é liberadora, da mesma forma que dançar, cantar, ou dar um passeio na floresta são remédios maravilhosos para a alma. Humm ... Talvez em vez de estar aqui neste quarto num dia lindo como hoje, eu devesse estar lá fora, em comunhão com a natureza.
Wednesday, September 9, 2009
Women Of Strength (Mulheres fortes)
I like to tell stories about the past even though sometimes I am not sure if they are real or not. The other day, I was reading an essay from a well-known Brazilian journalist, and she said that for a woman not to be considered old, she should stop saying things like “In my time…" or "In the past…” After I read her words, I started wondering: should I write only about the present and my dreams for the future? Should I forget all the wonderful things that happened when I was growing up, or before that, or yesterday, so people will not see me as an old woman? I am not sure if I care about what people think about me anymore. So, I am going to reminisce about the past.
In my family there are many strong women. We defy illness, economic adversities, divorces, and many other trials in life. When we have to deal with a problem, we look it in the eye and fight it. We cry; oh we cry a lot! We are sentimental women, women who live with passion. But, above all, we are warriors.
It is said that my great-grandmother was from the Guató tribe that lived in the wetlands of Mato Grosso do Sul, in Brazil. Considered extinct until around 1960, the Guatós were re-discovered by an Italian missionary and were officially recognized as a tribe in 1980. In 1848, there were about 500 Guatós living in the lakes at the source of the Paraguay River. The Paraguay war and countless illnesses brought by the white men made the population decline. In 2008, there were 175 Guatós in the state of Mato Grosso do Sul and 195 in the state of Mato Grosso.
Nowadays, the Guató language is practically extinct. In the beginning of 2008 there were only four people capable of speaking it. The language doesn’t have adjectives and the nouns are tied with a verb. It is supposed to be a language of few words and many meanings.
The origin of the word Guató is not clear. It might have been derived of guatá, verb that in Guarani means walk, circulate, travel, and go around to indicate a canoe people with high mobility space. The canoe is very important in the Guatós’ lives. The boat manum is their primary means of transportation to the point where the legs of the men are poorly developed and curved inward, while the trunk remains remarkably more developed because of the activity of rowing. The Guatós build small, low huts with twigs, sticks and palm leaves, just enough to shelter them from sun and rain. Many nights they sleep in their canoes. The children, from an early age, are already quite familiar with the canoes and often lead them through the rivers, bays and streams. A woman is responsible to captain the canoe, standing in the stern.
How my great-grandmother left her tribe, came to marry my great-grandfather, and end up living in the small town of Corumbá is a mystery that nobody in my family is able to explain. We are not even sure that she was, in fact, a Guató. However, when I think about the love for traveling that characterizes everyone in my family and the strength that emanates from the women, I become convinced that we descend, in fact, from these canoe people, whose women commanded the canoes and their destines.
When I am feeling sad, without the will to live, or disappointed because people who were supposed to behave in a decent way turned out not to have any decency, I get inspiration from these Indians who lived in contact with nature. I am sure that sleeping under the stars, lulled by the waters that embraced their canoes, they were not afraid, sad or nervous. They were just smiling and glad to be alive.
MULHERES FORTES
Gosto de contar histórias sobre o passado, embora às vezes não tenha certeza se essas histórias são verdadeiras ou não. Outro dia estava lendo uma crônica de uma jornalista brasileira famosa e ela disse que para uma mulher não ser considerada velha, devia parar de dizer coisas como: "No meu tempo ... Naquela época ..." Depois de ler isso, fiquei pensando: será que eu deveria escrever apenas sobre o presente e sobre meus planos para o futuro? Deveria esquecer todas as coisas maravilhosas que aconteceram quando eu era pequena, ou antes de eu nascer, ou até ontem, para que as pessoas não pensem que sou velha? Pra falar a verdade, não me importo mais com a opinião dos outros a meu respeito. Por isso, vou continuar lembrando do passado.
Na minha família há muitas mulheres fortes. Encaramos doenças, dificuldades econômicas, divórcios e muitos outros golpes da vida. Nos momentos de adversidade, olhamos o problema de frente e lidamos com ele. Choramos, ah choramos muito! Somos mulheres sentimentais, mulheres que vivem com paixão. Mas, acima de tudo, somos guerreiras.
Dizem que minha bisavó era da tribo Guató, que habitava o pantanal, em Mato Grosso do Sul, no Brasil. A tribo era considerada extinta até por volta de 1960. Nos anos 70, os Guatós foram re-descobertos por uma missionária italiana e reconhecidos oficialmente como uma tribo em 1980. Em 1848, havia cerca de 500 Guatós nos lagos do Alto Paraguai. A guerra do Paraguai e inúmeras doenças trazidas pelo povo branco provocaram o declínio da população. Em 2008, havia 175 Guatós no estado de Mato Grosso do Sul e 195 no estado de Mato Grosso.
Atualmente, a língua Guató está praticamente extinta. No início de 2008 apenas quatro pessoas eram capazes de falar o idioma. O Guató não tem adjetivos e os substantivos são entrelaçados com os verbos. É, supostamente, uma língua de poucas palavras e muitos significados.
A origem do termo Guató não é bem explicada. Poderia ter sido derivada de
Guatá, verbo que em guarani significa caminhar, circular, viajar, passear, indicando um povo canoeiro com muita mobilidade. A canoa é muito importante na vida dos Guatós. O barco manum é seu principal meio de transporte. As pernas dos homens são pouco desenvolvidas e se curvam para dentro, enquanto o tronco é maior por causa da atividade do remo. O Guatós constroem pequenas cabanas baixas com galhos, gravetos e folhas de palmeira, que servem para protegê-los do sol e da chuva. Muitas noites dormem nas suas canoas. As crianças, desde pequenas, aprendem a remar e levam os barcos através dos rios, baías e córregos. A mulher é responsável por conduzir a canoa, de pé na popa.
Como minha bisavó deixou sua tribo, casou-se com meu bisavô, e acabou vivendo na cidade de Corumbá é um mistério que ninguém na minha família sabe explicar. Não temos certeza sequer se ela era, na verdade, uma Guató. No entanto, quando penso sobre o amor pelas viagens, que caracteriza todos na minha família, e a força que emana das mulheres, me convenço de que somos, de fato, descendentes dos índios canoeiros, cujas mulheres lideravam as canoas e seus destinos.
Quando fico triste, sem vontade de viver, ou decepcionada porque as pessoas que deveriam se comportar com decência agem de uma maneira equivocada, busco inspiração nessas índias que viviam em contato com a natureza. Posso vizualizá-las dormindo sob as estrelas, embaladas pelas águas que abraçavam suas canoas, sem medo, tristeza ou preocupações. Só sorrindo, felizes por estarem vivas.
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